Para Augusto Weber, a medicina chinesa tem uma visão mais ampla e aceita o saber empírico.

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Que mistérios escondem as agulham que prometem aliviar dores e até a cura de doenças como a depressão? Os especialistas dizem que não existem mistérios. Tudo está baseado na tradicional medicina chinesa, que entre as técnicas mais difundidas está a acupuntura, que consiste na estimulação de partes do corpo para a produção de seus próprios remédios.

A grande diferença da acupuntura para a medicina ocidental está em analisar o paciente de forma humanista. “As faculdades formam médicos com uma visão mais técnica. Já medicina chinesa tem uma visão mais ampla e aceita o conhecimento empírico, o poder das plantas medicinais e a energia como elementos da cura”, afirmou o médico Augusto Weber, que trabalha com acupuntura, homeopatia e terapia de ondas sonoras, e é diretor clínico do Centro de Estudos de Acupuntura do Paraná (Cesac). Segundo ele, a distância que existe entre o paciente e médico e o imperialismo da chamada “indústria da doença” faz com que se promova cada vez mais a doença. “Quando se prescreve um medicamento para determinada patologia, ele poderá trazer conseqüências para algum órgão que necessitará de outro remédio, que terá efeito em outro órgão, e assim se entra em um ciclo”, falou Weber.

A acupuntura como tratamento é vista pela maioria das pessoas como a última alternativa, depois de diversos procedimentos sem resultados efetivos. “O paciente que vem aqui já passou por todas as especialidades, tomou todos os medicamentos e vê na acupuntura o último recurso”, falou o médico acupunturista do Centro Regional de Especialidades, Eder Suemitsu. Na opinião dele esse comportamento é equivocado, pois a técnica deveria ser empregada como uma medicina preventiva, já que possibilita realinhar o organismo.

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Subdivisão

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“O organismo tem condições de reconhecer as dores e reagir a elas. Com a estimulação através das agulhas usadas na acupuntura, se produz analgésicos naturais”, afirma o médico Mauro Carbonar, diretor clínico da Sociedade Médica de Acupuntura do Paraná (Soma). Ele afirma que ao contrário da medicina tradicional – que precisa de uma patologia pontual para iniciar um tratamento – a medicina chinesa permite investigar outros problemas e preveni-los. Isso é possível, sustenta, porque a pessoa apresenta sintomas antes de ficar doente, e através de estudos empíricos se chegou a conclusão que o organismo pode ser subdivido em cinco partes, que possuem funções predominantes.

Carbonar exemplifica: as dores nos joelhos indicam problemas nos rins e ossos, tendência a dores nas costas, necessidade de ir ao banheiro várias vezes durante à noite, perda ou cabelos brancos, medo de água e dificuldades para se determinar. As dores de cabeça indicam tendência para problemas de visão, torcicolos, luxações e dificuldades de planejar a vida. Problemas no coração são sinônimos de alteração na memória, humor e facilidade para sorrir; porém, dificuldades com o paladar e tato. O baço e pâncreas são órgãos que extraem o odor e a cor dos alimentos e distribuem para o organismo. Disfunção neles provoca varizes, estrias e dificuldade de aprendizagem. Já o pulmão responde pela pele e defesa imunológica do organismo. Problemas nesse órgão refletem no olfato e poder de decisão.

Indicado para todas as patologias

Antes de se tornar padeiro, Sidney Vardenega dos Santos trabalhou como mecânico, cuja função o obrigava a ficar muitas horas na mesma posição. Isso resultou em uma dor insuportável na planta dos pés. Depois de tentar vários tratamentos e até pensar em cirurgia, Sidney procurou a acupuntura. Há um ano ele utiliza a técnica. Acredita que ela ajudou muito a amenizar o problema.

A dona de casa Bernadete Toledo tomava remédios para depressão há três anos e tinha muitas dificuldades para dormir. O médico resolveu lhe indicar algumas sessões de acupuntura, e atualmente na sétima sessão, já observou uma melhora significativa no seu quadro. “Eu já deixei os medicamentos, durmo bem e percebi que melhorou a queda de cabelos e o funcionamento do intestino. Acredito que com vinte sessões poderei estar curada”, afirmou.

O médico Eder Suemitsu afirma que a acupuntura é indicada para todas as patologias, sendo bastante eficaz em casos de dor. Porém, para o resultado ser ainda mais eficiente, o paciente precisará mudar seus hábitos alimentar e de vida. “Um paciente que tem artose e pesa 120 quilos vai sentir muitas dores nos joelhos. Se ele não perder peso, vai continuar exercendo uma carga grande nos joelhos e a dor não vai passar”, disse.

Outra vantagem da acupuntura é a sua utilização para analgesia. O médico Mauro Carbonar explica que em casos de cirurgia com anestesia, o paciente perde a capacidade motora e sente dor depois da volta da sensibilidade. Já com a analgesia isso não acontece, além da recuperação ser muito mais rápida.

Mas apesar de indicações positivas, Augusto Weber esclarece que a acupuntura não pode ser encarada como milagrosa, e afirma que ela tem limites, e em algumas situações, precisa interagir com outros tratamentos. “No caso da hipertensão, só a acupuntura não basta. Assim como em casos de problemas mentais severos, onde é preciso interagir com a psiquiatria, ou no tratamento de tumores, onde a acupuntura é eficiente no alívio da dor e efeitos colaterais da quimioterapia”, explicou. A técnica também é limitada no tratamento de doenças infecciosas. (RO)

Lei não estabelece profissionais

A estimativa é que no Brasil existam cerca de oito mil médicos acupunturistas – perto de mil só no Paraná. A acupuntura é reconhecida como uma especialidade médica desde 1995. A partir do ano que vem, será oferecida como residência médica pela Universidade Federal de Pernambuco, e terá uma cadeira optativa na Faculdade Evangélica de Curitiba. Apesar disso, não existe no Brasil uma legislação específica sobre a regulamentação da atividade, o que fomenta uma briga entre os profissionais da saúde para dizer quem está ou não apto para utilizar a técnica.

A classe médica defende que somente eles podem realizar o procedimento, pois outros profissionais, como os fisioterapeutas, por exemplo, não têm autonomia para fazer diagnósticos. Além disso, defendem que todo o procedimento invasivo ou perfurante precisa ser de responsabilidade de um médico. Porém, a classe já admite que dentistas também trabalhem com a acupuntura, e até abriram vagas no curso de especialização para profissionais da odontologia.

A acupuntura como uma exclusividade médica é vista pelos fisioterapeutas como uma tentativa de monopólio com interesse meramente econômico, afirma o fisioterapeuta e especialista em Fisiologia do Exercício e Acupuntura, Marcos Antônio Tedeschi. Segundo ele, a técnica é apenas uma modalidade da medicina tradicional chinesa, que chegou no Brasil na década de vinte com a imigração dos orientais. “Acupuntura era praticada apenas nessas comunidades, mas logo foi se expandindo e na década de sessenta eles pediram que ela fosse reconhecida como especialidade médica, mas isso não foi aceito”, disse Tedeschi.

Em 1986, o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional baixou uma resolução que admite a acupuntura como uma especialidade da área da saúde. “Isso foi antes do reconhecimento pelo Conselho de Medicina, e eles não podem dizer que é uma exclusividade do médico”, falou o fisioterapeuta. Tedeschi também rebateu a afirmação de que a categoria não pode fazer diagnóstico. “Isso não é verdade, pois a regulamentação da profissão estabelece isso. O único que pode nos tirar esse direito é o Congresso Nacional, não os médicos, pois eles não podem interferir no nosso conselho de classe”, argumentou.

Custos

O aposentado José Aparecido, que faz acupuntura para amenizar as dores provocadas pela artrose, admite que não sabia do conflito entre os profissionais da saúde, mas defende que se houvesse mais pessoas atuando legalmente na área, a população teria mais acesso aos tratamentos. Hoje, o preço de consulta e sessão particulares com um acupunturista varia de R$ 50 a R$ 200.

O Sistema Único de Saúde oferece o tratamento gratuito, que em Curitiba é feito no Centro Regional de Especialidades, na Rua Marechal Deodoro. Mas como há uma demanda muito grande, as pessoas chegam a ficar até um ano na fila de espera. Uma alternativa, também em Curitiba, é o Centro de Estudos de Acupuntura do Paraná (Cesac), que funciona como uma clínica-escola, onde os pacientes são atendidos por profissionais que estão fazendo o curso de especialização. A consulta e as sessões custam R$ 15. O atendimento é entre segunda-feira e sexta-feira, com hora marcada, através do telefone (41) 3027-6120. (RO)