Levantar-se, escovar os dentes, amarrar os sapatos, abrir uma porta ou segurar um garfo são atividades simples que todos executam sem pensar. A não ser que a pessoa seja portadora de uma das formas mais graves da artrite reumatóide (AR), uma doença auto-imune, degenerativa e crônica, caracterizada pela inflamação e conseqüente deformidade das articulações. Estima-se que 1% da população mundial seja afetada pela AR, número que no Brasil pode chegar a dois milhões de portadores. A progressão da doença dificulta os movimentos e afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas acometidas.

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Como diz a psicóloga e terapeuta Lenice Pimentel, as vítimas da artrite reumatóide se comportam como pássaros domésticos: são tímidos e quietos. ?A dor de não poder ?voar? está presente no discurso desses pacientes. No retorcido das juntas, na infinidade de medicamentos, na dor que se alonga e causa sofrimento, e no sentimento de inutilidade?, constata. Apesar de não ser percebida como uma doença exclusivamente feminina, ela ataca devastadoramente três vezes mais mulheres do que homens. ?No começo, sentia muitas dores nas juntas. Passei por momentos terríveis. Fiquei revoltada e não aceitava a situação?, desabava a dona de casa S. R. C., de 36 anos, que há três anos ?descobriu? a doença.

O reumatologista Sebastião Radominski, do Hospital de Clínicas da UFPR, que coordena um estudo clínico com medicamentos biológicos para o tratamento da doença, afirma que a artrite reumatóide é a mais destruidora das doenças reumáticas. As causas que levam à doença ainda não são conhecidas. Sabe-se que ela surge quando células do sistema imunológico da própria pessoa não reconhecem algumas células das articulações e passam a combatê-las. Desse ?combate? surgem as inflamações, que em seguida passam a destruir a cartilagem existente entre as articulações e, nos casos mais graves, atingem os ossos, causando as erosões que levam às temíveis deformações.

Enfermidade destrutiva

?Inchaço, dor e rigidez matinal nas articulações (dedos das mãos, pés, punho, joelho, quadris, cotovelos e tornozelos) são os principais sintomas da doença?, relata Radominski. Sem saber o porquê, as mulheres são as mais afetadas pela doença, por isso, o especialista salienta que é importante que elas tenham conhecimento dos sinais e sintomas da AR e procurem tratamento médico adequado ao primeiro sinal da doença. Para a professora D. L. P., a artrite reumatóide começou a aparecer aos 29 anos. Ela passou por consultas em diversas especialidades até descobrir o problema. Hoje, seu maior desejo, por mais simples que possa parecer, é poder pentear os cabelos de sua filha, de oito anos de idade.

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Para o médico americano Joseph Markenson, do Joan and Sanford Weill Medical College, que participou em Blumenau (SC), da XIX Jornada Brasileira de Reumatologia, o desafio dos médicos é interromper a progressão da doença, pois a AR é uma enfermidade destrutiva, para a qual não existe prevenção nem cura. ?A artrite reumatóide requer tratamento para toda a vida e pode diminuir consideravelmente a expectativa de vida do seu portador?, reconhece.

Conforme Markenson, o grande dano estrutural causado pela doença ocorre nos primeiros dois anos do seu surgimento. Neste período, se não tratados, os pacientes com AR podem passar de incapacidade moderada para total, rapidamente. A principal preocupação dos médicos é de que os pacientes estejam atentos aos sintomas e sejam encorajados a procurar ajuda médica especializada.

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Sinais e sintomas mais comuns

* Inchaço, vermelhidão e calor nas juntas;

* Dor prolongada e rigidez que duram mais de 30 minutos;

* Cansaço ou uma sensação geral de mal-estar;

* Febre baixa, perda de peso e anemia ;

* Nódulos sob a pele .

Aliviar a dor e regredir a doença

O tratamento da artrite reumatóide é feito com abordagens distintas e concomitantes. De um lado recomenda-se o uso de medicações, fisioterapia, terapia ocupacional e mesmo cirurgia, procurando aliviar a inflamação e a dor, além de manter a funcionalidade das articulações.

Do outro, prescrevem-se drogas cada vez mais poderosas e seguras, tentando-se impedir o progresso da doença, para evitar a destruição articular.

No início os tratamentos atuavam apenas no combate à dor e à inflamação. Utilizavam-se, principalmente, analgésicos, antiinflamatórios não hormonais e corticosteróides. Depois surgiram as drogas anti-reumáticas chamadas de "modificadores do curso da doença" (DMARD, sigla em inglês). Mais recentemente, os medicamentos biológicos, que são capazes de evitar novos surtos de inflamação e retardar a progressão da doença.

Uma luz no fim do túnel

O Brasil participou ativamente das pesquisas clínicas para o desenvolvimento de um novo medicamento biológico para combater a artrite reumatóide, incluído no estudo um número significativo de pacientes. Trata-se do abatacepte da Bristol-Myers Squibb, já aprovado no Brasil pela Anvisa. O produto inaugura uma nova classe de medicamentos para doenças auto-imunes, sendo indicado para o tratamento de pacientes com artrite reumatóide de moderada a grave, tanto como primeira opção dentre os biológicos quanto para os casos em que o paciente não respondeu adequadamente aos outros tipos de tratamento. "Estudos mostram que 30% dos pacientes falham ou não respondem às terapias disponíveis", aponta Ieda Laurindo, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

O principal diferencial do abatacepte, conforme Fábio Carvalho, gerente da área de imunologia do laboratório, está na sua forma de ação. O medicamento atua precocemente ao processo inflamatório, desencadeado por dois sinais emitidos por células do sistema imunológico. Ao impedir que o segundo sinal seja "ativado" exerce um importante papel, combatendo a inflamação e o conseqüente dano articular provocado pela doença. O medicamento é administrado por via injetável, durante meia hora, uma vez a cada mês.

Nosso jornalista participou da Jornada a convite do Laboratório Bristol-Myers Squibb.