Aquaporinas prometem barrar envelhecimento

Imagine a possibilidade de conservar durante quase toda a vida a mesma pele que se tinha aos 20 anos de idade. A busca pela aparência jovial nunca esteve tão próxima de ser concretizada graças a descoberta do cientista norte-americano Peter Agre, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Química em 2003. Isso porque Agre descreveu o funcionamento das Aquaporinas, principal sistema de irrigação dos tecidos do corpo humano. Mas o que isso tem a ver com pele e com rejuvenescimento? Tudo.

O que Agre fez foi resolver o ponto chave que impedia os avanços da ciência neste campo. Desde o conceito moderno de produtos de beleza com loções e cremes para cada tipo de pele, os cientistas emperravam suas descobertas, principalmente por que não se sabia como penetrar nas camadas mais profundas da pele. Em suma, os produtos químicos mantinham a hidratação da epiderme apenas nas horas seguintes a sua aplicação. A descoberta das aquaporinas abre espaço para a indústria cosmética interferir nas células menos irrigadas, portanto envelhecida.

“Hoje, os hidratantes não atuam na função celular, mas sim atraem e retêm água na superfície da pele. A possibilidade de cremes que alcancem camadas mais internas da pele e que a mantenham irrigadas ocasionará uma revolução no conceito de hidratação”, comenta Flávia Addor, dermatologista e membro do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia. 
As aquaporinas são canais formados por proteínas que atravessam a membrana celular e permitem a entrada e saída de água. “Como as células do corpo humano, à exceção dos tecidos ósseos, são, em sua grande parte, formadas por água (79% no caso do coração, 76% no do cérebro e 70% no caso da pele), as aquaporinas são indispensáveis para o funcionamento correto da pele, realizando dupla função de hidratação, por dentro e por fora da célula”, explica a dermatologista Carla Albuquerque.

Porém, no processo natural de envelhecimento, as aquaporinas perdem seus efeitos e fazem com que as células fiquem menos irrigadas. Além disso, fatores como lesões e doenças inflamatórias ou alérgicas da pele podem interferir no funcionamento dessas estruturas protéicas.

As aquaporinas são de diferentes tipos, de acordo com os órgãos que irrigam. A pele, assim como os rins e os aparelhos digestivo e respiratório, é irrigada pela aquaporina 3. Cientistas das indústrias de cosméticos estão trabalhando em prolongar o funcionamento perfeito desse tipo de aquaporina e, assim, adiar o envelhecimento da pele.

Uma alternativa testada tem a ver com os cremes compostos por proteínas sintéticas, semelhantes às naturais, que são quebradas em partículas minúsculas para facilitar a entrada na membrana celular. Há ainda, outro método que utiliza o glicerol com o objetivo de aumentar a quantidade de aquaporina 3 na membrana celular.

“Ainda não sabemos se há contra-indicações na utilização desses tipos novos de cosméticos. A princípio não, mas temos que aguardar resultados de novas pesquisas. O que sabemos é que, se for mesmo comprovado a eficácia, poderá ser utilizando tanto por mulheres como por homens, a partir dos 30 anos de idade, que é quando a pele começa a perder suas propriedades de juventude”, indica a dermatologista Carla Albuquerque.
Outros métodos

A produção de substâncias responsáveis pela juventude, como o colágeno, queratina e a elastina, começa a diminuir a partir dos 25 anos de idade. Depois dos 40, a pele precisa de estímulos para continuar a produção destas substâncias.

Mas, não são somente as aquaporinas que estão sendo testadas em prol do rejuvenescimento. Existem uma série de estudos com técnicas antioxidantes e com a chamada penetração transepidérmica.

 As técnicas antioxidantes visam combater o excesso de açúcar acumulado na membrana celular, evitando que ela sofra alteração e cause secura na pele. Já a penetração transepidérmica é uma tecnologia tão nova quanto as relacionadas às aquaporinas que visa retardar a perda de capacidade de produção celular, intensificada a partir dos 40 anos. O método consiste em introduzir nas células da pele, por meio de nanotecnologia, substâncias que estimulam a produção de novas células.

Com a nanotecnologia é possível que as substâncias penetrem melhor na pele e, consequentemente, alcancem as células com maior facilidade, principalmente as responsáveis pela queratina e colágeno, componentes que garantem a elasticidade e firmeza da pele. A maior novidade nessa área são os filtros solares com a tecnologia da nanomolécula de avobenzona. O fator de proteção destes filtros pode chegar a 100%.

Todos esses estudos são muito recentes e por isso, ainda não há nenhum dado concreto sobre o prolongamento da juventude. “No Brasil, não há ainda pesquisas básicas sobre a capacidade das aquaporinas. O que existe são pesquisas para aumentar a expressão dessas estruturas protéicas”, afirma Flávia Addor. O que se tem até agora são hipóteses e testes, mas já podemos dizer que com a ciência a favor da beleza, logo estaremos diante de revoluções poderosas. Segundo especialistas, nos próximos dez anos, poderá haver elaboração de produtos cosméticos customizados para cada tipo de pelepele e necessidade, levando a uma completa evolução no que diz respeito à conservação da beleza.

 

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