As pessoas que sofrem de epilepsia e fazem uso crônico de medicamentos anticonvulsivantes podem estar sujeitos a desenvolver problemas no metabolismo ósseo. O assunto foi tema da tese de mestrado defendida pela médica endocrinologista Carolina Aguiar Moreira Kulak, no último dia 26, na Universidade Federal do Paraná.
A pesquisa realizada durante dois anos e meios apontou que 63% dos pacientes epilépticos apresentavam diminuição da densidade mineral óssea da coluna e do quadril, e 34%, redução da concentração sangüínea de vitamina D. Além disso, 25% dos pesquisados já tiveram alguma fratura. “Nossa grande preocupação é que esses pacientes caem quando em crises crônicas generalizadas. Se eles apresentam fragilidade dos ossos, o risco de fratura é ainda maior”, explica.
A pesquisa foi realizada junto a 59 pacientes epilépticos do Hospital de Clínicas, em Curitiba, com idade entre 25 e 47 anos. De acordo com a médica, a idéia é orientar os pacientes sobre as medidas profiláticas, na tentativa de repor a vitamina D. “A maior fonte da vitamina D é o sol. Por isso a nossa recomendação é a exposição de 15 minutos diários”, explica, acrescentando que apenas a exposição do antebraço já é suficiente. Ela orienta ainda a ingestão de alimentos ricos em cálcio (leite e derivados) e atividade física quando possível.
“Os pacientes epilépticos ficam mais restritos em casa, não se expõem ao sol, não praticam atividade física”, aponta. Segundo ela, o cigarro também acentua o problema. “Quase 60% dos avaliados estavam desempregados. Isso talvez explique a baixa quantia de vitamina D.”
Questão geográfica
Outro dado interessante é que, segundo a literatura mundial, o problema está relacionado também à questão geográfica. “Em Campinas, por exemplo, foi feito um estudo e não houve qualquer relação entre os anticonvulsivantes e a baixa concentração de vitamina D”, conta. A médica explica que se interessou pelo tema quando morou durante dois anos em Nova York, cursando a especialização em Metabolismo Ósseo na Universidade Columbia. “Vi que em Nova York todos os pacientes que usavam anticonvulsivantes tomavam vitamina D. Achei que fosse algo mundial, mas vi que aqui não é assim. Tive a curiosidade, então, de saber mais sobre o assunto.”
A médica revela que pretende prosseguir os estudos, desta vez para descobrir a quantidade de suplementação de vitamina D necessária para pacientes epilépticos. “É um alerta até mesmo para os neurologistas, porque muitos deles desconhecem os efeitos colaterais do medicamento”, explica, acrescentando que são os remédios antigos e mais baratos os que causam o problema. Seus componentes interferem em uma enzima hepática (P 450), aumentando o catabolismo da vitamina D – ou seja, estimulando a vitamina D inativa.
É a vitamina D a responsável pela absorção do cálcio pelo organismo e mineralização dos ossos. “Poucos alimentos são ricos em vitamina D. Apenas alguns peixes, cereais ou leite enriquecido. Por isso, o melhor é mesmo a exposição ao sol”, recomenda.