Já é madrugada e você não consegue dormir direito. As férias estão acabando e suas preocupações são muitas: escola dos filhos, volta ao trabalho, exames de saúde, falta de dinheiro para as despesas (sempre enormes) do começo de ano. Enquanto isso, em outras casas, pessoas com os mesmos problemas descansam tranqüilamente, parecendo não se preocupar com nada. Parece difícil entender como duas ou mais pessoas com o mesmo problema podem reagir de maneiras tão diferentes. Dá para se pensar que alguns de nós carregamos desde o nascimento alguma tendência genética ao nervosismo. Na verdade, a resposta para todas estas questões vem do lado emocional e se chama ansiedade. Ela é responsável por esse sentimento que toma conta de algumas pessoas, não deixando que se sintam seguras, confiantes e tranqüilas.
O psiquiatra Luiz Alberto Hetem, coordenador de programas de saúde mental, diz que apesar de ser uma resposta normal a algum tipo de desafio, a ansiedade se torna problema quando persiste muito além da barreira imediata. ?Muitas vezes as causas são óbvias?, explica o médico, citando como exemplo soldados no campo de batalha ou atletas às vésperas de uma olimpíada. Outras vezes, é muito difícil identificarmos o motivo de tanta preocupação. Entre os principais sintomas da ansiedade, podem ser destacados, a inquietação, fadiga, irritabilidade, insônia e a dificuldade de se concentrar, entre outros.
O médico enumera algumas manifestações clínicas da ansiedade: as reações normais, as causadas por condições médicas em geral, as induzidas por drogas e, no seu entender a área da psiquiatria mais modificada entre o diagnóstico e a terapêutica, nos últimos anos: os transtornos, propriamente ditos. Segundo o especialista, esses transtornos levam o portador a uma série de complicações, entre elas, o prejuízo do desempenho no trabalho e o comprometimento das relações interpessoais. Além disso, destaca Luiz Hetem, a pessoa comprometida pela ansiedade em excesso tem uma tendência maior de abusar de álcool e drogas e, ainda, sofrer outros tipos de doenças mentais, entre elas, a depressão.
Medo de ter medo
Segundo os especialistas, para se identificar quando a ansiedade em uma pessoa é normal ou patológica, algumas considerações precisam ser mensuradas como a intensidade com que ocorrem as manifestações, a sua duração e o grau de limitação que ela impõe ao paciente. Na última década, os pesquisadores passaram a considerar que, independente dos fatores que provocam a ansiedade, o transtorno se deriva de uma resposta dos circuitos elétricos do nosso cérebro. Os cientistas descobriram, entre outras coisas, que, além de existir um componente genético na ansiedade, o nosso sistema de processamento de informação do cérebro, responde às ameaças antes de ficarmos cientes delas. ?A ansiedade tem muitos dos mesmos sintomas do medo, mas é um sentimento que perdura muito depois do estresse ter desaparecido e a ameaça que o incomodava ter passado?, constata o psiquiatra.
Pesquisas recentes descobriram um circuito neural básico, fundamental para o entendimento da ansiedade. O estudo mostrou que a resposta de ansiedade não é necessariamente causada por uma ameaça externa, assim, a próxima questão lógica é saber se as pessoas nascem com ela ou se tornam ansiosas como resultado de experiências vividas. Para inibir os sintomas da ansiedade, os antidepressivos são os medicamentos mais eficazes, e devem ser prescritos individualmente, inicialmente em doses baixas, aumentando gradualmente em seguida, com base nos efeitos terapêuticos e colaterais, completa Luiz Hetem.
A desvantagem da medicação que é um auxiliar muito bom, é que, uma vez cessada, retornam os sintomas. A psicoterapia para o tratamento da ansiedade é eficiente porque elimina a raiz do problema e permite que o indivíduo retome a vida com mais segurança. Nos casos mais graves, onde o distúrbio pode se tornar impeditivo, o auxílio da medicação pode ser extremamente eficiente como elemento de transição para a resolução do problema que será obtido pela psicoterapia.
Exercícios de relaxamento também são eficazes, pois podem acalmar a mente e exercitar a paciência.
Transtornos ansiosos
De acordo com a Associação Norte-Americana de Psiquiatria, são considerados transtornos ansiosos, os seguintes distúrbios:
ATAQUE DE PÂNICO
Uma crise aguda e intensa, de pouca duração e com manifestações físicas como falta de ar, tremores, sudorese, taquicardia, tontura. Pode acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar, sem causa específica.
TRANSTORNO DE PÂNICO
É quando ocorrem ataques de pânico repetidos e inesperados ou um ataque quando seguido de pelo menos um mês de preocupações em ter novos ataques.
AGORAFOBIA
A ansiedade que se sente em locais ou situações onde possa ser difícil ou embaraçoso escapar, e o auxílio poder não estar disponível na eventualidade. Pode acontecer também quando a pessoa está só. É considerada o medo de ter medo.
FOBIA ESPECÍFICA
É um medo excessivo e irracional revelado pela presença, ou antecipação da presença de um objeto ou situação que causa pavor. Quando há intensa ansiedade, pode levar ao ataque de pânico.
FOBIA SOCIAL
É o medo persistente de situações em que a pessoa acredita estar exposta à avaliação dos outros, de se comportar de maneira humilhante ou vergonhosa.
TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO (TOC)
É caracterizado pela presença de obsessões, idéias que surgem repetidamente ou invadem nossa consciência de forma involuntária, e atos compulsivos, comportamentos estereotipados e repetitivos, geralmente reconhecidos como irracionais e ineficazes.
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO
É quando após presenciar um acontecimento traumático que envolveu morte, acidente, grave ferimento ou ameaça à integridade física própria ou de terceiros, o evento é persistentemente revivido. Há sofrimento psicológico intenso quando ocorre exposição aos indícios do fato ocorrido, reações fisiológicas ao lembrar da situação vivida (sudorese, tremores, etc.).
ANSIEDADE INDUZIDA POR SUBSTÂNCIAS
Ocorre quando o uso de determinadas substâncias leva a um ou mais transtornos ansiosos. O início pode ocorrer durante o uso excessivo (intoxicação) ou durante a abstinência (logo após a interrupção do uso).
