Ainda que a moda agora seja ?ficar?, com o passar do tempo é natural que os adolescentes acabem entrando em relacionamentos mais estáveis. Essa constância pode tranqüilizar os pais e criar vínculos duradouros entre os parceiros, mas, infelizmente, traz um problema adicional: o aumento da confiança diminui o uso da camisinha. Recente pesquisa mostrou que casais mais estáveis só têm o receio de uma gravidez não planejada no seu relacionamento. É comum, principalmente, as meninas ficarem confiantes demais em relação aos seus parceiros. ?Elas até procuram fazer os exames, mas os namorados nem sempre têm essa preocupação?, explica a ginecologista Cláudia Mara Abdalla, do Hospital Vita Curitiba.
Para a médica, o problema é que elas acabam utilizando somente a pílula anticoncepcional e ignoram o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, como aids e o HPV. Longe de ser uma prova de amor ou confiança, transar sem camisinha é sempre um risco muito sério. Manoel Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia ? Regional Paraná, enfatiza que o problema maior ocorre quando o casal briga. ?Aí, cada um vai para um lado e faz o que quer, acaba tendo relação com outra pessoa, às vezes é infectado, e depois faz as pazes, volta, e transmite a doença?, constata.
Negligência e desinformação
Conforme Guimarães, esse descuido fez com que o número de doenças sexualmente transmissíveis no mundo tivesse um crescimento importante. Para se ter uma idéia, considerando todas as faixas etárias, a taxa geral de incidência da aids subiu de 12,9 para 14 em cada grupo de 100 mil mulheres entre 1998 e 2003. Na análise aplicada aos homens, a taxa caiu de 26,4 para 22,6 em cada grupo de 100 mil.
Confiança no parceiro e a crença de que aids atinge apenas pessoas de determinados ?grupos de risco? são os principais argumentos dos jovens para não usar a camisinha. Segundo tese da socióloga Kátia Cibelle Machado Pirotta, da Universidade de São Paulo, que entrevistou 952 universitários, o uso da camisinha é freqüente entre os estudantes universitários, principalmente na primeira relação sexual. ?No entanto, esse método apresenta descontinuidades?, frisa a socióloga, salientando que, além da primeira relação sexual, a camisinha é usada especialmente nas relações casuais e no início dos relacionamentos sexuais com novos parceiros.
Os jovens negligenciam o preservativo no contexto do namoro, tendendo a substituí-lo pela pílula. A contracepção é cercada por descuidos, erros e esquecimentos e os estudantes mencionam que utilizam métodos de baixa eficácia, como o coito interrompido e a abstinência periódica para regular a fecundidade. ?Não importa qual o caso, uma coisa deve estar sempre bem clara: mulher moderna usa anticoncepcional e camisinha, sempre!?, enfatiza.
Comprar preservativo ainda é coisa de homem
A compra de camisinha ainda é uma iniciativa predominantemente masculina. De acordo com a pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros em relação à aids, divulgada pelo Ministério da Saúde, 78% dos homens entrevistados já compraram preservativos. Entre as mulheres, o percentual é de 44%. O incentivo às mulheres para que levem na bolsa a camisinha e também para que usem o preservativo feminino passou a ser uma questão de suma importância. O ministro da Saúde, Humberto Costa, disse que as campanhas sobre aids têm procurado estimular as mulheres a assumir uma atitude mais afirmativa na relação.
De acordo com a pesquisa, metade da população masculina sexualmente ativa tem preservativo em casa. Entre as mulheres com vida sexual ativa, 39% mantêm esse hábito. O levantamento revela que 90% dos entrevistados são sexualmente ativos e quase 20% tiveram mais de dez parceiros na vida. Entre os jovens de 15 a 24 anos, 7% tiveram mais de cinco parceiros somente no último ano. O uso de preservativo é uma prática entre 54% dos jovens em relações com parceiros eventuais. No conjunto dos entrevistados, 51,5% fazem uso regular de camisinha quando a relação é com parceiro eventual. Apenas 25,3% afirmaram usar camisinha, seja com parceiro eventual ou fixo.
A aids e a vida sexual do jovem brasileiro
– 72% dos jovens não usam preservativo na primeira relação sexual.
– 70% dos jovens sexualmente ativos nunca fizeram o teste do HIV.
– 60% das garotas já passaram por uma gravidez.
– 42% das mulheres nunca conversaram sobre sexo com os pais.
– 35% das jovens entrevistadas nunca foram ao ginecologista.
– 72% das mulheres jovens declararam já ter transado.
– No Brasil, entre 300 e 400 mil pessoas podem ser HIV positivos, mas não sabem.
– 70% da população sexualmente ativa ainda não fez o teste do HIV.
* Dados do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde