Aids: falta diálogo entre paciente e médico

Assim como acontece com todas as doenças crônicas, as pessoas que vivem com HIV/Aids precisam ser tratadas de acordo com seu perfil individual.

Ao tomar a decisão sobre o tratamento, é importante que os médicos discutam e levem em consideração fatores, como o histórico familiar, tabagismo, diabetes, depressão e risco de doenças cardiovasculares, pois alguns tratamentos podem ser mais adequados do que outros para os portadores do vírus.

O estudo ATLIS 2010, uma pesquisa sobre tratamentos de longo prazo em aids, realizado em vários países, que envolve mais de duas mil pessoas que vivem com a doença, revelou uma defasagem significativa no diálogo entre pacientes e médicos que podem prejudicar a saúde em longo prazo, a qualidade de vida e os resultados do tratamento dos pacientes. Os dados indicaram que as conversas com os profissionais da saúde não se concentram nas necessidades individuais dos pacientes.

Relação médico/paciente

O resultado da pesquisa também indicou a necessidade de discussões mais profundas para reforçar a importância da adesão aos medicamentos contra o HIV e a prevenção da resistência aos medicamentos contra a doença.

As entidades envolvidas no estudo emitiram uma convocação global para estimular um diálogo individualizado entre o paciente e o médico, garantindo que tais fatores sejam levados em conta.

“Ampliar as conversas entre paciente e médico para incluir todos os aspectos do bem-estar do paciente é crucial para a sobrevida e desfechos positivos do tratamento”, afirma José Zuniga, membro da força-tarefa da pesquisa.

Para se ter uma ideia, apenas a metade dos entrevistados alegou ter discutido com o profissional da saúde sobre o estado de saúde ultimamente, sendo que os resultados indicaram que as doenças associadas não estão sendo abordadas com grande consistência.

Sessenta e quatro por cento dos pacientes notificaram ter tido pelo menos uma doença associada, como, por exemplo, distúrbios do sono (21%), problemas gastrintestinais (18%) ou infecções pelo vírus da hepatite C (17%). Mais de um quarto dos entrevistados notificaram apresentar três ou mais doenças ao mesmo tempo.

Doença crônica

É extremamente comum para os pacientes apresentarem doenças associadas que podem ser agravadas pelo vírus do HIV ou medicamentos antirretrovirais. Jürgen Rockstroh, professor de medicina na Universidade de Bonn, na Alemanha, um dos coordenadores da força-tarefa reconhece que é comum atender pacientes que morrem de complicações relacionadas a outras comorbidades.

“Como médicos, podemos ajudar a controlar esses eventos por meio de abordagens individualizadas de tratamento que consideram o paciente de forma global para ajudar a atingir desfechos mais positivos”, afirma.

Com o advento da terapia antirretroviral, o HIV é considerado, agora, uma doença crônica de longo prazo. Na medida da evolução do manejo da doença, cresceu a necessidade de abordar questões de qualidade de vida, especialmente relacionadas com os efeitos colaterais do tratamento.

Embora 40% dos entrevistados tenham afirmado que não gostam da sensação provocada pelos medicamentos, eles afirmaram que seus medicamentos tiveram, de certa forma, um impacto positivo em sua vida.

Os diferentes níveis de adesão à terapia em várias regiões geográficas podem ser consequência das limitações no nível de educação sobre saúde. Para o especialista Jean Nachega, esse problema crítico exige intervenções educativas, comportamentais e clínicas que aumentem o grau de instrução a respeito da adesão ao tratamento e resistência a medicamentos contra o HIV para ajudar as pessoas a atingir níveis ótimos de adesão, que são cruciais para se conquistar e manter o sucesso do tratamento.

Números da pesquisa no Brasil

Público: 201 entrevistados com diagnóstico de HIV ou Aids
Perfil: 61% homens e 39% mulheres
Idade: 63% com mais de 40 anos e 37% com idade entre 18 e 39 anos
Portadores: quase dois terç,os convive com a doença há mais de seis anos
Meio de infecção: 87% contraíram o vírus por meio de relações sexuais sem proteção
Acompanhamento: todos os entrevistados são acompanhados por um profissional da área de saúde.
Controle: mais de 70% acreditam controlam a doenças
Alimentação: 72% procuram administrar sua saúde se alimentando de forma saudável
Exercícios: Apenas 46% se exercitam regularmente
Tabagismo: O vício afeta negativamente 17% entrevistados.

Doenças associadas

* Depressão
* Distúrbios do sono
* Problemas gastrintestinais
* Nível elevado de colesterol
* Hipertensão
* Infecção simultânea com o vírus da hepatite C.
* Obesidade (mais prevalentes entre as mulheres)

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