O acompanhamento pré-natal é fundamental para evitar que mães infectadas transmitam o vírus da aids aos filhos. |
O HIV faz parte da vida de Fátima (nome fictício) desde o nascimento. Quando tinha dois anos, vivia doente. Foi então que os médicos descobriram que a menina tinha sido infectada pelo vírus ainda durante o parto. Aos 6 anos de idade, a menina perdeu a mãe, vítima da doença. Hoje, aos 18, mãe de um filho de sete meses, ela está tranqüila quanto à saúde da criança, pois fez o pré-natal corretamente e começou o tratamento preventivo com anti-retrovirais antes do nascimento do filho e, com isso, reduziu para 1% as chances de transmissão.
Fátima faz parte da primeira geração de crianças que herdou o HIV de suas mães e sobreviveu à aids. Hoje muitas levam, como ela, uma vida normal. Fazem planos, trabalham, casam, têm filhos. Nada disso seria sequer imaginável, há quase duas décadas, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) começou a oferecer atendimento no pré-natal e parto às gestantes soropositivas e a seus recém-nascidos, evitando a chamada ?transmissão vertical?, ou seja, de mãe para filho.
O grande desafio do Ministério da Saúde é reduzir a menos de 1% o número de recém-nascidos portadores do vírus da aids até 2007. Hoje, essa taxa é de aproximadamente 3,7%. Os números atuais já apresentam uma importante queda, refletindo as ações de prevenção e de controle que começaram a ser implementadas de forma mais efetiva. ?Entretanto, ainda temos muito a avançar para atingir a meta até 2007", afirma o ministro da Saúde, Saraiva Felipe.
Gestantes
Os especialistas afirmam que não basta fazer um número mínimo de consultas de pré-natal. Os profissionais de saúde devem orientar as mulheres grávidas sobre a importância de conhecer sua condição sorológica com antecedência, pois o teste não é obrigatório no país. Saber que é soropositiva somente na hora do parto representa um trauma para a mulher e diminui as chances de que a criança não adquira o HIV.
Como muitas mulheres vivem em regiões isoladas e têm dificuldade de chegar aos serviços de saúde, uma das principais estratégias usadas pelo Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde é a ampliação do acesso das gestantes e adolescentes ao diagnóstico do HIV. A ação vai priorizar regiões de difícil acesso e oferecer testes rápidos de HIV para cerca de 25 mil gestantes do Nordeste, além de reforçar a testagem na região Norte.
Estima-se que no Brasil existam cerca de 13 mil gestantes infectadas ? cerca de 50% delas recebem o tratamento preventivo porque souberam da sua sorologia. A terapia prevê a administração do medicamento AZT na forma oral. O bebê nascido de mãe portadora começa a tomar AZT até oito horas depois do nascimento, ao longo de seis semanas e não é amamentado pela mãe. Essas medidas reduzem de 30% para menos de 1% a possibilidade de as crianças serem contaminadas pela mãe ao nascer.
Teste no pré-natal é fundamental
Faz 20 anos que a médica infectologista Marinella Della Negra recebeu o primeiro paciente recém-nascido com HIV. Prestou assistência a uma menina, cuja mãe estava em estado terminal. Na época, não se falava ainda em anti-retrovirais e ter o vírus HIV equivalia a uma sentença de morte. Os bebês eram tratados com imunoglobulina intravenosa. A médica avalia que, a partir de 1996, o uso do AZT nos tratamentos preventivos foi fundamental para reduzir a transmissão vertical. Outra mudança importante foi a inclusão da testagem para o HIV no protocolo do pré-natal. ?Em 1996, recebíamos em torno de cinco a seis crianças por dia para testagem. Hoje, recebemos esse mesmo número, em média, por mês, graças aos testes feitos no pré-natal?, comemora.
O exemplo de Curitiba
Curitiba mantém praticamente zerado o seu índice de transmissão vertical da aids, graças à implantação do "Mãe Curitibana" – um programa em que as gestantes fazem o exame do HIV assim que a gravidez é confirmada. Caso seja positivo, o tratamento é iniciado automaticamente logo após o diagnóstico. Além da medicação, a mãe recebe orientações sobre como cuidar do seu bebê. Acompanhe abaixo os números da transmissão vertical da doença na cidade.
Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Gestantes HIV 86 153 143 128 124 123
Crianças infectadas 4 5 11 1 4 1