O maior vilão quando a questão é o risco de afogamento de crianças com menos de quatro anos de idade continua sendo o mar, seguido, obviamente, pelas piscinas, rios, açudes e lagos. Mas o perigo pode estar também em uma bacia, balde, tanque e, até mesmo, no vaso sanitário. Todos esses recipientes, mesmo com pouca água, representam risco de afogamento para os pequenos.
Crianças pequenas podem se afogar em 2,5 cm de água. Por isso, até mesmo aquela que saiba nadar deve estar sob a supervisão de um adulto, seja na praia, na lavanderia de casa ou em qualquer local que ela esteja se refrescando. Segundo o cirurgião-pediátrico, Marcelo Ribas, afogamento é a principal causa de morte de crianças de um a 14 anos no Brasil. "Para cada morte por afogamento, seis outras crianças são hospitalizadas e, aproximadamente, 20% dessas sobreviventes sofrem seqüelas neurológicas severas", esclarece.
Na maioria dos casos, o afogamento ocorre quando existe um descuido momentâneo na supervisão das crianças. Segundo o cirurgião, crianças menores de quatro anos têm poucas possibilidades de se salvar em água, devido a sua cabeça ser a parte mais pesada do corpo. "Afogamentos de crianças maiores ou adolescentes estão relacionados a imprudência, exaustão após tentar nadar longas distâncias e álcool", enumera.
Colete salva-vidas
Em um afogamento, pode acontecer perda de consciência, parada respiratória e morte. A criança, quando fica "presa" na água, entra em pânico e tenta lutar, inicialmente segurando a respiração. "Então engole água, vomita e não pode evitar a aspiração de água e vômito para os pulmões", alerta o especialista. Conforme o médico, algumas crianças desenvolvem laringoespasmo (obstrução da via aérea superior). Quando esse distúrbio persiste, ela perde a consciência e pode sofrer uma parada respiratória. Levantamentos do Corpo de Bombeiros indicam que em cerca de 90% dos afogamentos há água e vômito nos pulmões da vítima.
No mercado existem produtos que auxiliam a flutuação da criança na água, mas não garantem sua segurança. Para Alessandra Franóia, coordenadora da ONG Criança Segura Safe Kids Brasil, as bóias de plástico trazem graves riscos, pois tanto podem estourar como esvaziar lentamente, sem que ninguém perceba. Além disso, podem fazer com que a criança escorregue dela ou por ela, caindo na água. Nesse sentido, os coletes salva-vidas são os mais recomendados, mesmo que a criança saiba nadar. "No entanto, nada se compara à segurança da supervisão e observação constante de um adulto", reconhece a coordenadora.
No PR, mais de 44 mil atendimentos
Desde o início da operação-verão até o final do mês de janeiro, o percentual dos salvamentos que corresponde às crianças e adolescentes de 0 a 14 anos foi de 37%. "Foram quase 400 crianças que estavam em situação perigosa e precisaram da ajuda dos bombeiros para sair do mar", comenta o tenente Eduardo Pinheiro, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná. O oficial também informa que os guarda-vidas fizeram, nesse período, mais de 44 mil abordagens, entre orientações e advertências. Para evitar afogamentos, a recomendação é para que o banhista se informe sobre os locais de maior perigo, e, se for entrar no mar, lembre que a água não deve passar da cintura. "Isto serve para qualquer pessoa", orienta Pinheiro. O slogan da campanha preventiva do Corpo de Bombeiros é justamente "Água no umbigo, sinal de perigo".