?Se você for a campo e conversar com os agricultores, poderá constatar que a maioria deles não tem a preocupação do cuidado que deveria ter com os agrotóxicos. Eles, por exemplo, não possuem o hábito de ler as bulas e raramente utilizam o EPI-equipamento de proteção individual?, disse o engenheiro agrônomo César Vassius Mocker, que atua na Secretaria da Agricultura da Prefeitura Municipal de Garuva-SC, uma das regiões centrais do comércio da banana do Paraná e Santa Catarina.

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O engenheiro agrônomo Paulo Antônio Callegari, que acompanha o sindicato dos bananicultores da região de Garuva-SC, diz que, em campo, nem os proprietários nem os funcionários gostam de utilizar respiradores. ?Eles preferem não usar nada. Alguns utilizam a máscara branca que protege somente contra a poeira. Os proprietários até demonstram interesse que os funcionários usem, mas eles não utilizam. Dizem que é muito quente. Tento argumentar: um ano tem 365 dias e você vai usar respirador no máximo de seis a dez dias, será que é tanto assim??

Callegari relata que nunca constatou, na casa dos bananicultores, que eles tivessem destacado a bula da embalagem para ler a dosagem correta. ?A bula estava ainda na embalagem. A letra é muito pequena e dificulta a leitura.? No entanto, há algo mais para constatar.

O Brasil é um dos países que mais utilizam agrotóxicos em todo mundo e gasta cerca de 2,5 bilhões de dólares nessa compra (ISA, 2005). As vítimas diretas dos agrotóxicos são o agricultor e o produtor rural. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo afirma que em cada 200 agricultores um já esteve internado devido a problemas graves de exposição a algum tipo de agrotóxico (Grippi, 2003).

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O ISA-Instituto Socioambiental (2005) garante que estudos com trabalhadores demonstram que há relação entre a exposição crônica a agrotóxicos e doenças, especialmente do sistema nervoso. Um levantamento da Secretaria de Estado da Saúde no Paraná aponta que no período de 1988 a 2002 ocorreram 11.572 intoxicações e a morte de 1.181 pessoas (Folha de Londrina, 2004).

Segundo o Ministério da Saúde (2004), os agrotóxicos podem determinar três tipos de intoxicação: aguda, subaguda e crônica. No primeiro caso, os sintomas ocorrem algumas horas depois da exposição excessiva aos produtos. De surgimento um pouco mais lento é a intoxicação subaguda. Os sintomas são vagos, como fraqueza, mal-estar, dor de cabeça, dor de estômago e sonolência. A intoxicação crônica tem surgimento tardio, em meses ou anos, por exposição menor a produtos tóxicos e tem danos irreversíveis.

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?Vejo que nos hospitais tem muita gente que morre em função dos agrotóxicos e a causa do óbito é colocada como parada cardíaca, enfisema pulmonar, mas na verdade é geralmente o agrotóxico. Então há desconhecimento do que os agrotóxicos fazem e eles atuam muitas vezes no sistema nervoso?, disse Mocker.

O problema é que existe uma idéia no país de que se for adequado o uso do agrotóxico não produz riscos ambientais. ?As empresas que vendem agrotóxicos não têm interesse em dificultar sua utilização. Não ficam batendo em cima da necessidade de usar respiradores. As propagandas utilizam até beija-flor e florzinhas para convencer que o uso não tem perigo, e isso não é correto, pois a culpa recai sempre sobre o trabalhador?, afirmou Mocker.

É importante notar, como lembra (Wilson da Costa Bueno (http://www.comunicasaude.com.br) que ?os agrotóxicos, assim como os medicamentos e as sementes (também as transgênicas), fazem parte, ironicamente, do portfólio de um grupo seleto de empresas transnacionais que, ao mesmo tempo, vendem veneno e remédio?. É tempo de buscar formas alternativas de produção.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

E-mail: zeliabonamigo@uol.com.br