As pessoas, hoje em dia, provavelmente não mais estranham histórias como a da menina que gostaria de ganhar como presente de aniversário de 15 anos uma lipoescultura, uma alteração no nariz e o aumento das mamas. Nada de anel de brilhantes, viagem para Disneyworld ou festa de debutantes. Aliás, com tais pedidos se popularizando entre as adolescentes, as festas de debutantes poderão estar com os dias contados.

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Segundo no ranking mundial de cirurgias plásticas e referência quando o assunto é profissional especializado, o Brasil realizou, em 2006, 700 mil intervenções, 15% em adolescentes entre 14 e 16 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Há dez anos, esse índice ficava em torno de 5%. As estatísticas apontam ainda que, do total, 70% dessas cirurgias eram em mulheres e 60% dos procedimentos eram estéticos.

A globalização, a informação fácil via internet, o padrão de beleza imposto por manequins ou top models, além do fascínio causado pela das atrizes de Hollywood, as facilidades de pagamento e a massificação da indústria de cosméticos são apontados como os fatores para intervenções cada vez mais precoces. Em linha geral, o desejo juvenil pode se tornar uma obsessão para muitas jovens que querem mudar tudo a qualquer custo. “Não é bem assim”, reconhece o cirurgião plástico Ruben Penteado, salientando que é preciso constatar se o corpo dessa adolescente ainda pode sofrer alguma mudança e se há riscos para o seu desenvolvimento futuro.

Meninos e meninas

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“Lipoaspiração com menos de 16 anos é puro modismo ou ilusão que haverá uma mudança do contorno corporal muito grande”, avalia o médico. No caso das próteses mamárias, por exemplo, muitas vezes, não se leva em conta o risco do procedimento e o desenvolvimento corporal da adolescente, que só deverá estar completo após 16 ou 18 anos. “A intervenção nas mamas só deve ser feita precocemente em situações extremas, como malformações e assimetrias muito grandes”, alerta o cirurgião plástico, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Segundo Ruben Penteado, a rinoplastia também não deve ser feita antes dos 18 anos, a não ser por uma dificuldade respiratória causada, por exemplo, por um desvio de septo nasal. “Essa é uma das cirurgias que envolve grande componente emocional, é a que tem maior impacto na autoimagem”, admite.

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De acordo com Manoel Augusto Cavalcanti, presidente da regional paranaense da SBCP, na lista dos procedimentos mais procurados pelas meninas estão: rinoplastia (plástica de nariz), a diminuição das mamas, o implante de próteses de silicone, a lipoaspiração e a correção de orelhas em abano. Entre os homens, a correção do volume das mamas é a cirurgia mais procurada. “Não existe uma idade mínima para que as cirurgias plásticas possam ser realizadas”, esclarece o presidente, advertindo que, para se submeter ao procedimento, a adolescente deve ser saudável e passar por todos os exames pré-operatórios indicados pelo especialista.

De acordo com Cavalcanti, embora alguns procedimentos cirúrgicos tenham indicação médica – como correção das chamadas orelhas em abano, retirada de cicatrizes -, a vaidade é a principal motivação dos jovens que optam pelas plásticas no país. No caso dos meninos, um dos problemas mais comuns é a ginecomastia, o aumento das glândulas mamárias decorrente dos hormônios da puberdade. Nesse caso, apesar do incômodo, é melhor esperar passar dos 16 anos porque na maior parte das vezes a regressão ocorre sozinha. “Uma cirurgia antes dessa idade pode ser precipitada”, ressalta.

Maturidade

O aumento da procura de jovens por cirurgias plásticas decorre da valorização excessiva da aparência e da padronização da beleza, um fenômeno mundial e global. É algo que afeta diretamente a adolescência, mas não é exclusiva dela. Há um estímulo muito grande para que as pessoas se encaixem num padrão. As diferenças, ao invés de serem valori,zadas, são atacadas como um defeito.

Para Ruben Penteado, o adolescente está muito mais vulnerável a essa pressão social porque está em formação ainda, sob a influência da ditadura de comportamentos padronizados. A ansiedade de corresponder a esses padrões faz da cirurgia plástica uma forma mais rápida de conseguir o corpo sonhado. “A adolescência é uma fase de urgência, em que tudo precisa ser muito rápido, por isso a orientação da família é tão importante”, destaca.

As cirurgias plásticas em adolescentes têm de ser autorizadas pelos pais. A decisão precisa ser bem pensada, ainda mais quando o motivo é só estético. Se o resultado não for o que o adolescente espera, pode haver danos psicológicos. “O adolescente não tem preparo para suportar esse tipo de frustração”, insiste o especialista. Assim, cabe aos pais não deixar que os filhos tomem uma decisão tão importante por impulso.

Mesmo se o jovem ficar empolgado com a idéia que tem sobre o resultado da cirurgia, ele precisa ter maturidade para compreender as mudanças reais que acontecem no pós-operatório, somente assim ele saberá respeitar as orientações médicas antes de optar pela plástica. Outra questão que precisa ser considerada é a baixa capacidade de frustração do jovem em relação a adultos, que já têm essa capacidade mais desenvolvida.