Uma ?dor de lado? sempre incomodava Maria Helena Carbone, 53 anos de idade. Da última vez que ela passou pelo posto de saúde da prefeitura, o clínico geral diagnosticou uma lombalgia e a encaminhou para o ambulatório de acupuntura que atende pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A dona de casa só não estranhou a recomendação porque até há bem pouco tempo acompanhava sua mãe, de 76 anos, no tratamento com agulhas. ?Minha mãe vivia entrevada; depois de passar pelas sessões, já consegue caminhar sem muita dificuldade?, comenta. Para Helena, o tratamento também começa a apresentar resultado. Ela está na terceira sessão e a ?dor de lado? está sumindo.
O que já é realidade em Curitiba e em outras (poucas) cidades brasileiras, para muitos ainda é novidade. A indicação da acupuntura como primeira escolha para tratar de alterações físicas, agudas ou crônicas, vem se tornando rotina nos consultórios. ?Além disso, a especialidade atua de forma associada com outras especialidades no tratamento de um sem-número de enfermidades?, declara o presidente da Sociedade Médica de Acupuntura do Paraná, Mauro Carbonar. Ao completar 10 anos de reconhecimento como especialidade médica no Brasil, a acupuntura se apresenta como uma das especialidades médicas que mais cresce no Brasil.
As técnicas usadas na especialidade há muito deixaram de ser vistas com desconfiança pela população. Estudos científicos mostram que a acupuntura funciona com rapidez em várias doenças, sem apresentar os efeitos colaterais tão preocupantes que podem acompanhar o uso medicamentos tradicionais. Isso porque, conforme explica o presidente, as agulhas de metal produzem estímulos dolorosos nas terminações nervosas do organismo, localizadas na pele. Estes estímulos chegam ao cérebro, que responde, enviando ?automedicamentos? para os locais e regiões do corpo onde as agulhas sinalizam haver necessidade de algum reparo especial, ?eliminando dores e inflamações, além de promover um relaxamento?, explica Carbonar, salientando que essa reação também estimula as defesas contra vírus e bactérias, naturais do organismo.
Sem medo da agulha
A especialista Cláudia U. Manoel esclarece que o número de sessões recomendadas depende do estado do paciente e da patologia a ser tratada. ?Lesões agudas podem necessitar de uma a cinco sessões; as crônicas levam mais tempo, variando de 10 a 40 sessões?, observa. Outra preocupação de quem nunca passou por punções por meio das agulhas usadas na acupuntura é a de sentir dor. A acupunturista explica que as agulhas são muito finas e têm a ponta arredondada, por isso não machucam a pele como as agulhas de injeção, por exemplo.
Cláudia observa que os locais dos pontos onde estão os terminais nervosos são um pouco mais sensíveis que os demais; portanto, ao serem aplicadas as agulhas, pode-se sentir dor muito leve ou pequena sensação de peso. ?Muitas vezes essa sensação se deve a ação da agulha fazendo efeito na terminação nervosa?, enfatiza. A Acupuntura clássica pode ser substituída por eletroacupuntura, pelo uso de ventosas, moxabustão (queima de ervas), ondas sonoras ou laser, com as mesmas propriedades.
Somente especialistas
Mauro Carbonar ressalta que a acupuntura é uma terapia de ampla atuação, podendo melhorar ou curar inúmeras doenças. Conforme o especialista, se as doenças forem recentes, sem lesões físicas, elas têm mais chances de ser curadas, entre elas, estresse, depressão leve, dor muscular. Quanto às doenças mais graves e crônicas, a acupuntura melhora seus sintomas e a qualidade de vida do paciente. Dentre elas se destacam artrite, bronquite e até complicações graves, como derrames cerebrais.
O acupunturista Mário Leitão, chefe do ambulatório de Curitiba, explica que a associação simultânea de vários fatores contribui para produzir efeitos que atuam no organismo desde o início do tratamento. Por exemplo, os efeitos de analgesia e relaxamento são mais imediatos, enquanto a ação antiinflamatória manifesta-se três ou quatro dias após a aplicação. ?Assim, se interrompe o círculo vicioso criado pela dor, inflamação, espasmo muscular, ansiedade e depressão?, garante.
A prática não pode ser realizada por pessoas sem formação em medicina. Isso, de acordo com o presidente Carbonar, abriu novas perspectivas para o profissional que procura a especialização. Os cursos são ministrados em universidades, e os seguros de saúde e os convênios particulares passaram a cobrir as despesas com o tratamento. Essa determinação, no seu entender, ajudou a inibir a proliferação de clínicas de fundo de quintal e ?possibilitou o acesso de um número maior de pessoas a tratamentos seguros e confiáveis?, completou.
Clínica-escola
Em Curitiba, o Centro de Estudos de Acupuntura do Paraná (Cesac) se tornou uma referência, por ser a única do gênero em todo o Sul do país. A instituição disponibiliza aulas práticas para os médicos especializados, que atendem pacientes que recorrem à clínica, cobrando preços mais acessíveis. O Cesac possui 22 profissionais da área médica e atende em horários flexíveis, de segunda a sábado.
Arte e ciência
Novos paradigmas da dor muscular, acupuntura na hérnia de disco, tratamento do ombro, mecanismo de ação contra a dor, acupuntura na obesidade, nos distúrbios geniturinários e na odontologia, entre outros temas, serão debatidos, em Curitiba, durante o 4.º Congresso Sul-Brasileiro de Acupuntura. O encontro acontece entre os dias 24 e 27 deste mês, na sede da Associação Médica do Paraná. O evento é voltado para médicos, dentistas e estudantes da área da saúde. Informações podem ser obtidas pelo telefone (41) 3024-1415.