Permanecer na unidade de terapia intensiva (UTI) 24 horas por dia ao lado do paciente para dar apoio, carinho e conforto psicológico já é possível no Paraná.
Assim, familiares ou acompanhantes não precisam abrir mão de ficar perto de uma pessoa querida e em tratamento enquanto ela estiver sob os cuidados dos médicos intensivistas.
Com efeito, o ambiente nas UTIs não é mais o mesmo. Elas estão deixando para trás aquela imagem de sala coletiva, fria, repleta de equipamentos e desesperança.
O Hospital Pilar, em Curitiba, por exemplo, vem tornando essas unidades cada vez mais humanizadas desde 2006. De lá para cá, levantamentos apontam que pacientes acompanhados em UTIs “abertas”, têm tido uma recuperação ainda mais rápida e com mais qualidade de vida.
De acordo com o médico intensivista e responsável pela UTI do hospital, Sérgio Sliva, a presença dos familiares é uma espécie de terapia do convívio e não medicamentosa. “Os acompanhantes não ficam na UTI para auxiliar o médico e os enfermeiros, mas, sim, para dar conforto e carinho aos pacientes”, esclarece.
O médico conta que a sua preocupação com a humanização no atendimento surgiu há mais de 20 anos, enquanto observava o sofrimento das pessoas internadas no tratamento intensivo “Percebi que elas estavam se sentindo sozinhas e abandonadas e que, com a presença de alguém próximo os pacientes recebiam mais estímulo e o quadro evoluía melhor”, relata.
No entender do intensivista é importante que acompanhantes e pacientes conheçam e entendam as etapas do tratamento para que, com serenidade, se aceite o estado de saúde do paciente.
Em pacientes com câncer, por exemplo, por se tratar de uma doença marcada por tabus e preconceitos, o aspecto psicológico do paciente fica mais debilitado, por isso, o médico considera a presença do acompanhante ainda mais decisiva.
Interação e valorização
A psicóloga Raquel Pusch de Souza, do Centro de Estudos e Pesquisas de Terapia Intensiva (Cepeti) diz que uma das modificações mais importantes é trazer para o ambiente, objetos pessoais que tornem a estada menos traumática. “Pode ser, por exemplo, um aquário, um mural de fotos e, até mesmo, o pôster do seu time preferido”, sugere.
Para ela, um aspecto importante a ser ressaltado é a integração entre os intensivistas, os familiares do doente e o próprio paciente. “Percebendo essa interação o paciente participa mais do tratamento, fato que contribui decisivamente na sua recuperação”, avalia a especialista.
O coordenador de enfermagem da UTI e da Unidade de Pronto Atendimento do Hospital Pilar, Edinaldo de Oliveira, acredita que é preciso oferecer uma estrutura adequada para permitir a presença do acompanhante.
“A instituição deve proporcionar conforto ao paciente e também ao acompanhante, que pode inclusive dormir na UTI se assim optar”, explica. De acordo com o coordenador, com a UTI aberta é possível disponibilizar um atendimento eficaz, de alta complexidade e humano. “Com a humanização do tratamento, além de o paciente não se sentir sozinho, seus familiares ou acompanhantes se sentem mais valorizados”, observa Oliveira.
Aspectos relevantes
* Modo de cuidar do paciente e seus familiares
* Interação entre os profissionais da equipe e os cuidadores
* Ambiente físico humanizado
Oxigenoterapia reduz a permanência
O Hospital Pilar possui alguns diferenciais em tecnologia em sua unidade de terapia intensiva. Um exemplo é o Serviço de Medicina e Oxigenoterapia Hiperbárica, uma alternativa para reduzir o tempo de recuperação e agilizar os processos inflamatórios.
Nesse tipo de tratamento, os pacientes são colocados em câmara hiperbárica, onde são submetidos à respiração de oxigênio puro em pressões maiores que a pressão ambiente. Podem ser atendidas vítimas de queimaduras, feridas, gangrenas, além de pacientes com doenças isquêmicas, infecciosas, ou traumáticas.
De acordo com o médico do Hospital Pilar responsável pelo serviço, Adriano Mehl, o difere,ncial é que o Pilar disponibiliza o equipamento dentro da UTI. “Assim eliminamos uma das situações mais estressantes para o paciente que é o transporte, evitando o deslocamento e mantendo o paciente próximo de seus médicos”, esclarece o especialista.
Entre os benefícios da utilização da câmara hiperbárica, citados pelo médico, estão maior eficácia no tratamento e redução dos custos. Mehl comenta que, vítimas de queimaduras graves que chegavam a ficar internadas por 40 dias com essa opção permanecem em tratamento por 18 dias, em média. “Outra vantagem é que cai pela metade a quantidade de cirurgias reparadoras na pele”, completa o médico.