Com mais de 20 anos na profissão e vários acidentes nesse período, o cirurgião Pedro (nome fictício) não mudou de atitude nem mesmo depois de dois acidentes com pacientes portadores de HIV positivo, que lhe trouxeram muitas preocupações. Volta e meia, ele ?esquece? de utilizar os equipamentos de segurança recomendados, contudo não admite que a sua equipe proceda da mesma maneira. Outro procedimento, tampouco obedecido por muitos profissionais de saúde, é a notificação do acidente. Estima-se que menos de 30% dos casos são notificados.
Usar os equipamentos de proteção como luvas e máscaras, estar em dia com a vacinação e descartar adequadamente agulhas e seringas podem evitar graves problemas para os profissionais de saúde. Afinal, sem essa preocupação, eles estarão expostos à contaminação por doenças infecciosas como a aids e hepatite se algum acidente com material biológico acontecer no trabalho.
Segundo o médico do trabalho André Menezes, muitas vezes o médico se torna o agente gerador de situações de risco para toda a equipe. ?As estatísticas apontam que os acidentes acontecem na sua maioria com materiais deixados em local inadequado, depois, no manuseio e, em seguida, no transporte?, confirma Menezes. E o que é pior: o descarte inadequado após o procedimento afeta colaboradores que nada tem a ver com a área médica, entre eles as equipes de limpeza e lavanderia.
Minimização dos riscos
Os locais onde os acidentes são mais corriqueiros são as enfermarias clínicas e o centro cirúrgico. Muitos médicos perfuram os dedos com agulhas de sutura e não dão importância. Apenas lavam as mãos, trocam as luvas e continuam trabalhando. ?Depois do procedimento terminado, eles muitas vezes se ?esquecem? de notificar o acidente, realizam exames por conta própria e se automedicam?, admite o médico, advertindo que, assim, fica difícil de a equipe de controle epidemiológico do hospital acompanhar as ocorrências.
Especialistas afirmam que a chance de se contaminar com o vírus HIV, por exemplo, em um acidente com material biológico, é de 0,3%. Mesmo assim, não deve ser desprezado. De acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, desde a descoberta da doença foram documentados no mundo mais de 100 casos de aquisição de HIV entre profissionais da saúde após acidente ocupacional, sem contar os mais de 200 casos onde a suspeita não está comprovada.