Acidentes custam vidas, tratamento e perda de produção das vítimas

Acidentes acontecem. São imprevisíveis, certo? Não necessariamente. Há muitos acidentes que só acontecem por imperícia ou desatenção das partes envolvidas, ou porque regras como as de trânsito, por exemplo, não foram estritamente seguidas.

Há outros de proporções maiores, causados por problemas estruturais de um país como, a ocupação de encostas e leitos de rios nas grandes cidades, consideradas áreas de risco. Há ainda tragédias naturais, como tsunamis ou vulcões em erupção.

O neurotrauma é um grave problema de saúde pública no País, que pode ocorrer em diversas situações traumáticas, principalmente em desastres automobilísticos. Do total arrecadado pelo Seguro DPVAT, 44% são destinados ao pagamento de indenizações e à constituição de suas reservas técnicas e 45% ao SUS (Sistema Único de Saúde) para o custeio da assistência médico-hospitalar de vítimas de acidentes de trânsito em todo o País.

Segundo a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), aproximadamente R$ 9 bilhões são destinados anualmente ao atendimento de casos de trauma, o que representa quase um terço de tudo que é investido em saúde pública no País. Em 2005, o governo investiu, em média, R$ 300,00 por cidadão na saúde, sendo que cada vítima grave de trauma custou cerca de R$ 100 mil aos cofres públicos.

Homens jovens

No valor revertido ao atendimento de casos de trauma, já estão inclusos tratamento pré-hospitalar e hospitalar, gastos consequentes das sequelas, despesas indiretas, perdas de anos de vida e de produtividade, reabilitação e custos das perdas materiais.

O perfil que mais aparece nas estatísticas de mortes por trauma no Brasil é de vítimas do sexo masculino, com idade entre 18 e 24 anos. Os resultados das pesquisas comprovam que as mortes violentas se constituem em um sério problema de saúde pública, já que é a terceira maior causa de óbito no país, ficando atrás apenas das neoplasias e das doenças cardiovasculares. Na morte por trauma, quase a metade das incidências se deve aos acidentes de trânsito, entre colisões e atropelamentos.

A maior parte das mortes no trânsito ocorre nas rodovias e não nas vias urbanas. Embora, em número menor, os acidentes nas estradas são muito violentos, provocando mais mortes e ferimentos graves.

A preocupação se torna maior ainda no período de férias, quando um número maior de pessoas transita pelas estradas do país. O movimento começa nas festas de final de ano e termina depois do carnaval.

Segundo o médico Jurandir Marcondes Ribas Filho, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, nos finais de semana e, principalmente, nas férias, a associação de imprudência, bebidas alcoólicas, drogas e velocidade faz aumentar ainda mais o número de vítimas. 

Custo alto

Com todo esse vaivém, não é de se surpreender que o número de acontecimentos trágicos também aumente. Ainda mais quando a estação, como neste verão, é marcada por chuvas torrenciais que deixam as estradas ainda mais perigosas. “Todos esses ingredientes fazem aumentar os casos de traumas, uma preocupação a mais para os atendimentos de emergência”, relata o cirurgião.

Os levantamentos apontam que o acidente de trânsito, mesmo com a adoção do novo Código Brasileiro de Trânsito, em vigor desde 1998, se mantém como o principal vilão para a juventude.

Segundo os pesquisadores, isso ocorre porque atividades es,pecíficas de cada idade predispõem a fatores de risco determinados, como a posse da habilitação de motorista, o consumo mais frequente de bebidas alcoólicas e a imprudência, causa mais diagnosticada entre essas ocorrências.

Conforme Jurandir Ribas Filho, o prejuízo para a sociedade é imensurável, já que a expectativa de vida da maioria das vítimas é de mais de 70 anos. Nos Estados Unidos, estima-se em US$ 1 milhão o custo de cada uma das mortes por trauma nessa idade, baseado na renda que deixará de ser produzida por esse jovem.

Danos evitáveis

Outra constatação do especialista é de que o trauma implica, entre custos diretos e indiretos, em uma soma importante aos cofres públicos. “Um dinheiro que poderia estar sendo aplicado em outras áreas da saúde”, completa.

Outro alerta dos especialistas diz respeito ao atendimento pré-hospitalar. Estudos comprovam que quase 50% de todas as vítimas fatais poderiam ter sido salvas se tivessem recebido assistência médica adequada nos primeiros 10 minutos após o acidente.

Logo, é necessário o desenvolvimento de sistemas integrados ao traumatizado para tentar reduzir as taxas de mortalidade nas primeiras horas após o acidente. Alem disso, o tratamento a um paciente com trauma custa 60% a mais que um paciente não traumáticos, devido a necessidade de, em muitos casos, se realizar exames mais complexos, como ressonância magnética e tomografia computadorizada.

“Deve-se considerar que o trauma é uma doença cem por cento evitável”, frisa Ribas Filho. Para ele, a melhor forma de diminuir esses índices alarmantes é toda a sociedade se empenhar em campanhas de prevenção e conscientização.

Os estudos comprovam que, quase sempre, os adultos, sejam eles pais, professores, psicólogos, médicos ou outros profissionais de saúde, estão muito pouco preparados para lidar com o comportamento dos adolescentes perante o trânsito.

Triste liderança

A velocidade com que aumentam as ocorrências de vítimas fatais no trânsito, em sua maioria jovens, está alarmando a população mundial.

Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mapeou os acidentes com menores de 25 anos, e divulgou relatório apontando como os acidentes de trânsito como a causa líder da morte de crianças, adolescentes e jovens entre 10 e 24 anos.

O documento intitulado “Youth and Road Safety” (Juventude e Segurança Viária), de 2010, mostra que cerca de 32 mil jovens abaixo de 25 anos morrem anualmente vítimas de acidente de trânsito na Europa, correspondendo a 30% do tal de vítimas desta faixa etária.

Entre eles, cerca de metade dos menores de 15 anos morre como pedestres, enquanto aqueles com idade entre 15 e 24 anos morrem, predominantemente, como os usuários do carro ou motocicleta.

This booklet highlights some of the factors that put young people at increased risk of serious road crashes, including speed, alcohol, not being conspicuous, not using crash helmets, seat-belts and child passenger restraints, and road and vehicle designs that lack built-in safety features.

O relatório aponta que as estatísticas devem continuar aumentando e, com relação aos jovens, adverte para que as medidas também sejam direcionadas para programas de combate à embriaguez ao dirigir. Segundo a divulgação, a maioria dos acidentes pode ser evitada, já que são causadas por imprudência, imperícia ou abuso no consumo de álcool.

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