As consequências do alcoolismo não se encerram, obrigatoriamente, em uma doença perigosa, como a cirrose hepática, mas o hábito de abusar da ingestão de bebidas alcoólicas frequentemente é uma das causas da doença.
Em meio a graves acidentes de trânsito provocados por motoristas embriagados, multas pesadas para estabelecimentos que vendem bebida com qualquer teor alcoólico para menores de 18 anos, além de crises familiares e casos de violência doméstica, vale alertar que o vício pode causar danos irreversíveis à saúde do próprio dependente.
De acordo com o especialista em gastrocirurgia Vladimir Schraibman, o consumo crônico e excessivo de bebidas alcoólicas pode causar uma variedade de problemas hepáticos, incluindo excesso de gordura no fígado, hepatite alcoólica (inflamação) e, finalmente, cirrose – dano permanente ao fígado que acarreta, na maioria das vezes, a necessidade de transplante do órgão.
Além disso, o abuso de álcool aumenta o risco de inflamação do pâncreas, acelera o processo de miocardiopatias (doenças do coração), traumas secundários aos acidentes e o desenvolvimento de inúmeras doenças em recém-nascidos de mães alcoólatras.
De acordo com os especialistas, a incidência de cirrose provocada por alcoolismo nem se compara, em números, aos casos da doença provocados por hepatites. As maiores vítimas da doença são homens acima de 45 anos, mas também as mulheres podem ser acometidas.
A cirrose pode demorar anos a manifestar-se e, durante longo tempo, os sintomas podem não ir além de fadiga, falta de força e perda de apetite. |
Ingestão variável
Além das hepatites B e C, e do alcoolismo, algumas doenças congênitas, mais raras, podem desencadeá-la. Existem origens menos frequentes, como hepatite autoimune e cirrose biliar, por exemplo.
No Brasil, não existem estimativas que apontem corretamente os números de morte em virtude da doença. “No entanto, as cirroses já causam graves preocupações à saúde pública”, reconhece o especialista.
A quantidade de álcool que pode ser ingerida por uma pessoa é bastante variável. Alguns indivíduos são extremamente sensíveis aos efeitos da bebida alcoólica, enquanto outras parecem ser completamente imunes.
Não existem testes laboratoriais para se determinar quem tem esta predisposição. Em regra geral, quanto maior a quantidade e o tempo de consumo, maior a chance de se acarretar danos ao fígado. O recomendável é, no máximo, quatro a cinco doses de bebida por semana.
Reação diferente
Vale lembrar que a dose é medida pelo teor alcoólico da bebida. Sendo assim, no caso do vinho, uma dose corresponde a uma taça. Para a vodka, que tem maior teor alcoólico, a dose corresponde a menos da metade de um copo.
A cerveja é uma das bebidas com menor teor alcoólico e a dose corresponde a uma lata de 350ml. “É necessário ter cautela no consumo, pois tudo que excede os limites da moderação tem consequências”, alerta Schraibman, salientando que, quanto maior o teor alcoólico, menor tem que ser o consumo.
O organismo de homens e mulheres reage diferentemente ao uso do álcool. Os homens possuem mais massa corporal, portanto apresentam uma tolerância maior às bebidas, visto que a diluição da substância em indivíduos maiores é maior.
Consumos diários em torno de 20 a 40 gramas de álcool em mulheres e 80 gramas em homens ,são capazes de ajudar no desenvolvimento de cirrose em, aproximadamente, dez anos.
“Esta é a estatística para pessoas que não sofrem de doenças do fígado, pois para aqueles que já apresentam danos no órgão, recomenda-se a abstinência total”, assegura o cirurgião.
Evolução da doença
De acordo com o especialista, a cirrose hepática passa por duas fases. A primeira delas, quase sem sinais, pode se estender por vários anos. Alguns desses sintomas podem ser controlados, evitando-se, com isso, que ela progrida.
É o caso das hepatites que podem ser controladas em mais de 50% dos casos. Em um segundo momento, quando começam a surgir sinais claros da doença, é sinal de que ela se encontra numa fase bem avançada, tornando-se irreversível.
“Nesses casos, os tratamentos têm o único objetivo de atrasar a evolução da doença e dar mais qualidade de vida ao portador”, avalia o cirurgião. Nos casos mais críticos, a única solução é o transplante.
As cirroses hepáticas, ocasionadas pelo uso indiscriminado de bebidas alcoólicas, vêm atingindo homens e mulheres, quase na mesma proporção. A única prevenção possível é evitar um consumo excessivo de álcool.
Quando ocasionadas por hepatite C, como ainda não há vacina, a única forma de prevenção é evitar comportamentos de risco que possibilitem o contágio através de sangue contaminado. Muitas vezes a pessoa nem sabe como foi infectada pela doença.
Por ser o órgão que centraliza todo o metabolismo do organismo, qualquer doença que acometa o fígado reflete em diversos outros órgãos do corpo. Assim, as cirroses ou outras doenças hepáticas podem provocar desde câncer, a outros distúrbios hormonais, entre eles, o crescimento da mama e a impotência nos homens; e dificuldades de menstruação nas mulheres.
Primeiros sinais
* Perda do apetite
* Náuseas
* Vômitos
* Indigestão
* Perda de peso
* Constipação
* Dor abdominal
* Fadiga
Principais sintomas
* Fígado aumentado
* Olhos e pele amarelados e urina escura
* Sangramento do trato gastrintestinal
* Coceira
* Perda de cabelo
* Inchaço nas pernas
* Aumento do volume da barriga
* Tendência para formar hematomas com facilidade
* Confusão mental