Instrumento vivo e singular, a fala é ferramenta imprescindível a todos. Em tempos em que fica cada dia mais comum o uso de mídias digitais, torna-se escassa a preocupação com um dos principais mecanismos da comunicação.
Fazer um uso saudável da voz também é muito importante, sobretudo para 70% da população ativa que têm a fala como um de seus instrumentos de trabalho. Cantores, atores, professores, técnicos de futebol (e outros esportes), repórteres, advogados, vendedores, atendentes de telemarketing e outros profissionais que dependem da voz para exercerem seus ofícios devem, essencialmente, manter hábitos saudáveis e medidas de prevenção a males prejudiciais à saúde vocal.
De acordo com Paulo Perazzo, presidente da Academia Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV), a maior causa de afastamento do trabalho de professores e de operadores de telemarketing, por exemplo, são os problemas vocais.
Segundo estimativas, 2% dos professores brasileiros, cerca de 25 mil profissionais, serão afastados de suas funções por problemas na laringe e cordas vocais.
Diante desse quadro preocupante e visando alertar a população sobre a importância da realização de exames preventivos, a entidade organiza a décima segunda Campanha Nacional da Voz,estrelada pela cantora Daniela Mercury.
A iniciativa tem o objetivo de alertar e orientar a população sobre as doenças que atingem o aparelho vocal e contará com o apoio multidisciplinar de médicos e fonoaudiólogos.
Quem usa a voz profissionalmente deve adotar alguns cuidados para não prejudicar o seu instrumento de trabalho. |
Câncer da laringe
De acordo com a otorrinolaringologista Maria Aparecida Coelho, a voz necessita de uma série de cuidados, porém, duas coisas, no seu entender, devem ser especialmente respeitadas por aqueles que usam a voz profissionalmente: as horas de sono e a nutrição.
“A pessoa precisa dormir bem e alimentar-se corretamente, ingerindo fibras, frutas e verduras em quantidade adequada”, adverte. A maçã é uma fruta aconselhada para os profissionais da voz, porque tem efeito adstringente, limpa a faringe e estimula a musculatura mastigatória que é a mesma que usamos para falar.
O uso inadequado e abusivo é, em geral, a principal causa dos distúrbios da voz. O fumo é outro grande vilão, responsável por 97% dos casos de câncer de laringe, explica o otorrinolaringologista Geraldo Sant’Anna. Assim como qualquer estrutura de nosso corpo, as pregas vocais, responsáveis pela vibração que produz a voz, ficam sobrecarregadas quando são muito exigidas.
Alguns sintomas podem ser indicativos de que algo não vai bem, como rouquidão persistente por mais de 15 dias, pigarros frequentes, dores constantes de garganta, sensação de incômodo ao engolir alimentos e perda da voz são alguns dos sinais que servem de alerta.
Conforme o especialista, rinites, asma, bronquite, sinusite, sintomas gástricos e auditivos são os distúrbios orgânicos que mais prejudicam as cordas vocais. Além deles, outros inimigos externos, como o fumo, o álcool e o estresse, agridem as estruturas vocais e devem ser evitados. O médico lembra que os distúrbios vocais podem ter sua intensidade aumentada pelo modo como a voz é utilizada.
Exames complementares
A maioria das pessoas não precisa usar a voz com um grau alto de perfeição, mas mesmo para quem quase não abre a boca, uma rouquid&atild,e;o persistente é um sinal que sempre merece atenção.
Certas laringites agudas produzem voz rouca – mas ela volta ao normal quando cessa a infecção, no máximo duas semanas depois. Já a rouquidão que persiste após esse período requer uma investigação. “Há uns 15 anos a única arma de diagnóstico da laringologia era o espelhinho”, brinca o otorrinolaringologista Paulo Pontes.
Hoje, para identificar as doenças da voz, a especialidade conta com a videofibrolaringoscopia – um exame que visualiza com grande acuidade a laringe e as cordas vocais.
“Em 30% dos casos, nós só conseguimos obter hipóteses de diagnóstico e recorremos aos exames complementares”, observa o médico, salientando, por exemplo, que um câncer de laringe apanhado na fase inicial tem 80% de chance de cura.
Cuidados na terceira idade
Por volta dos 60 anos, no homem, e um pouco mais cedo, por volta dos 50, nas mulheres, começam a ocorrer alterações próprias do envelhecimento também nas estruturas laríngeas.
Os grupos musculares envolvidos na movimentação das pregas vocais têm sua eficiência diminuída, refletindo o pior desempenho muscular na senilidade. Além disso, a produção das glândulas em geral diminui com tendência ao ressecamento das mucosas.
O resultado geral é uma tendência à fonação em uma frequência mais grave, proporcionando instabilidades na emissão vocal. O otorrinolaringologista Ricardo Figueiredo lembra que é muito importante o idoso, ao menor sinal de disfunção vocal, procurar o médico para exame adequado e diagnóstico.
Na maioria dos casos, o paciente poderá também precisar de tratamento fonoterápico, com a fonoaudióloga, que além de executar os procedimentos necessários, dará importantes orientações sobre a saúde vocal.