A trombose merece mais atenção

Ao sofrermos um ferimento qualquer, perdemos certa quantidade de sangue. Logo, o organismo reage e aciona um sistema de coagulação que faz o sangue parar de jorrar. São plaquetas que se dirigem para o local do ferimento e formam uma barreira, conhecida por trombo. Depois de algum tempo, este coágulo se dissolve e a circulação volta ao normal. A situação se complica no organismo de algumas pessoas que, por algum motivo, criam esses bloqueios em locais onde não houve sangramento, principalmente nas pernas – o cenário principal da trombose.

É isso o que acontece, por exemplo, na síndrome da classe econômica ou tromboembolismo venoso (TEV), para os médicos. Essa doença engloba duas manifestações clínicas distintas: a trombose venosa profunda – quando o coágulo obstrui o fluxo sangüíneo das veias dos membros inferiores – e sua maior complicação, a embolia pulmonar, situação em que o trombo se desprende, migra para os pulmões, podendo levar ao bloqueio parcial ou total das artérias pulmonares e à morte. Se ele ocorrer em uma artéria que irriga o coração, poderá obstruir a passagem de sangue, fazendo o órgão parar de funcionar.

Essa verdadeira epidemia silenciosa está presente no dia-a-dia dos hospitais brasileiros. Os números não são precisos, (mas a estimativa é de que até 40% dos pacientes internados para cirurgias mais complexas acabem desenvolvendo a TEV, muitas vezes, por absoluta falta de prevenção e profilaxia. Preocupadas com as proporções do problema, doze sociedades médicas definiram em conjunto a primeira diretriz para prevenção da TEV em pacientes clínicos. ?A idéia é distribuir essas normas aos serviços de saúde, visando uma maior eficácia na profilaxia da trombose?, diz Edison Paiva, professor colaborador da clínica geral do Hospital das Clínicas de São Paulo e um dos coordenadores do estudo.

Profilaxia e cuidados

Segundo Cyrillo Cavalheiro Filho, chefe do laboratório de hemostasia do Instituto do Coração (Incor) de São Paulo, nos hospitais, a doença é, na maioria das vezes, o resultado da imobilização do paciente durante as internações, ou após cirurgias mais complexas. ?Sem os movimentos, a circulação se torna mais difícil e as chances de formação de trombos aumenta?, esclarece. Com efeito, de acordo com Ana Thereza Rocha, do serviço de pneumologia do Hospital Universitário Edgard Santos, de Salvador, na Bahia, elevar os pés das camas do paciente, recomendar o uso de faixas ou meias de compressão, fisioterapia e acelerar a retirada do paciente do leito, quando for possível, ajudam a reduzir o risco da trombose. ?Nos casos mais complicados, a profilaxia deve começar pela indicação de anticoagulantes?, garante a médica.

O objetivo das sociedades de especialidades é alertar os médicos para a incidência alarmante da TEV e difundir a lista de cuidados preventivos, desenvolvidos nos últimos anos, em estudos que buscavam explicar por que pacientes recém-operados, e às vezes em franca recuperação, acabavam morrendo subitamente – por embolia. Ana Thereza Rocha compara a incidência da trombose a um iceberg, cujo perigo é silencioso: ?80% dos casos não causam sintomas que chamam a atenção e em mais de 70% dos doentes o diagnóstico só é detectado em autópsias?, resume.

No Brasil, o problema se agrava ainda mais quando estudos científicos indicam que a prevenção da doença – fundamental para quem apresenta fatores de risco – não é uma prática freqüente nos hospitais. O registro internacional Improve, para avaliação da prevenção da TVP e da embolia pulmonar, em pacientes clínicos, mostrou que dos pacientes brasileiros avaliados com risco de desenvolver a doença, apenas 36% receberam algum tipo de terapia medicamentosa preventiva.

A diretriz

O Grupo de Estudo em Trombose e Hemostasia (GETH), em parceria com doze sociedades médicas, elaborou a Primeira Diretriz Brasileira para Prevenção de Tromboembolismo Venoso (TEV) em Pacientes Clínicos. Com esse trabalho, as entidades médicas esperam facilitar a identificação de pacientes com risco de desenvolver TEV e alcançar de forma eficaz um número maior de pacientes com chances de desenvolver a doença.

A diretriz recomenda que todo paciente com idade igual ou superior a 40 anos, internado por mais de três dias, com mobilidade reduzida e fatores de risco associados, deve receber tratamento preventivo para evitar o desenvolvimento do TEV e suas conseqüências. A primeira diretriz contou com o apoio da Sanofi-Aventis e é o resultado do consenso das seguintes especialidades médicas:

* Academia Brasileira de Neurologia

* Associação de Medicina Intensiva Brasileira

* Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia

* Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular

* Sociedade Brasileira de Cancerologia

* Sociedade Brasileira de Cardiologia

* Sociedade Brasileira de Clínica Médica

* Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

* Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia

* Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica

* Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

* Sociedade Brasileira de Reumatologia

Sinais de alerta

As veias das pernas são as mais atingidas pela trombose em quase 90% dos casos. Veja quais os sintomas mais comuns:

1 – Dor intensa

2 – Inchaço nas pernas

3 – Vermelhidão e calor no local

4 – Endureci-mento da musculatura da perna

5 – Formação de nódulos dolorosos nas varizes

Fatores de Risco

Algumas condições podem predispor o paciente a sofrer de trombose:

* Idade acima de 40 anos

* Obesidade

* Varizes grandes

* História anterior de trombose

* Uso de anticoncepcionais orais ou da reposição hormonal

* Fumo

* Alterações genéticas que afetam o mecanismo de coagulação

* Cirurgias de médio e grande portes

* Infecções e doenças graves

* Traumatismos

* Gravidez e pós-parto

* Imobilização prolongada

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