A sociedade dos surdos

A atenção aos mais fracos, deficientes e necessitados demonstra o grau de civilidade de uma sociedade.  Em nosso meio, a pessoa com deficiência incomoda. Encontramos pessoas com sentimentos contraditórios, que vão da repulsa à compaixão. O culto à estética provoca escolhas muito seletivas, sobretudo em relação ao trabalho.

Deficiência não é sinônimo de incapacidade. Basta recorrermos à história de Bethoven, que, sendo surdo, deixou por herança à humanidade, verdadeiras obras-primas da música clássica.  Stephen Hawkins, autor de várias obras científicas,  não movia nem as mãos nem os pés.

As pessoas com deficiência auditiva somam, hoje, oito milhões em nosso País. Um número significativo, mas não alarmante. A grande preocupação é a maneira como são vistos. Faltam oportunidades de trabalho, de respeito e de políticas públicas que valorizem a dignidade dos surdos-mudos. A sociedade ainda caminha a passos lentos, muito lentos, com relação à inclusão social do portador de deficiência.

Uma sociedade só será verdadeiramente madura quando tiver a capacidade de acolher os fracos, os deficientes e os que estão em situação de miséria. Em nosso meio, encontramos dois tipos de surdos: aqueles que são deficientes por questões genéticas – ou provocadas – e aqueles que o são por conveniência.

Os do segundo tipo ouvem sons, gritos, harmonias e desarmonias, os barulhos das exigências comerciais, das academias e da competitividade – onde os que gritam mais forte são os que conseguem oportunidades. Mas, infelizmente, não são ouvintes daqueles que, no silêncio, buscam a oportunidade de serem agentes transformadores da sociedade.

Às vezes, se torna incômodo ouvir esse silêncio. Mas, quando usamos o coração para prestar atenção aos deficientes auditivos, percebemos não só o que eles falam, mas o quanto são protagonistas da história.

Pe. Aluísio Ricardo Aleixo de Sousa, teólogo, assessor da CNBB na Pastoral dos Surdos.

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