Arte: Osvalter Urbinati/Foto: Ciciro Back
Apesar de pouco conhecida, a DPOC mata três brasileiros por hora

Somente há cinco anos, o analista de sistemas aposentado W.M.S., de 65 anos, percebeu que os milhares de cigarros que fumou ao longo da vida lhe trouxeram prejuízos incalculáveis. Portador de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) – uma doença pouco conhecida, mas que traz conseqüências arrasadoras – viu a sua qualidade de vida evaporar como fumaça, impossibilitando-o de realizar tarefas simples do dia-a-dia, como trocar de roupa, subir escadas ou se alimentar.

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?Essa doença é assim mesmo, crônica e incapacitante?, alerta o cirurgião torácico Carlos Hespanha Marinho Júnior, do Hospital Pilar, em Curitiba. Conforme o médico, a principal característica da doença é a deficiência respiratória, que, mesmo sob tratamento, não se torna totalmente reversível. Nos casos mais graves, o paciente corre o risco de morte, por isso se torna dependente de um balão de oxigênio. ?Situação que, aliada a incapacidade de locomoção, exige sacrifícios pessoais e financeiros de suas famílias, especialmente nas classes menos favorecidas?, reconhece o pneumologista Roberto Pirajá Moritz de Araújo.

Dano respiratório

A espirometria ou prova ventilatória é o teste que avalia a função pulmonar.

?Eu aprendi que preciso planejar bem os passos que preciso dar, para não ficar no meio do caminho?, se conforma a dona-de-casa A.M.P., de 66 anos, fumante desde os 22 anos de idade e vítima da doença, salientando que, depois do tratamento, respira melhor. ?Até minha angústia está mais controlada?, comemora. Um comunicado da Organização Mundial de Saúde advertiu que se não forem tomadas medidas urgentes, a DPOC ganhará ares de epidemia até o ano de 2020. O alerta serviu para que a classe médica se mobilizasse tentando disseminar o conhecimento sobre a doença, suas formas de prevenção, diagnóstico e tratamento.

Carlos Hespanha Júnior afirma que a DPOC vai se alojando com o decorrer dos anos. Pode começar com uma leve falta de ar, geralmente associada a esforços físicos, como andar mais depressa ou subir lances de escada. ?Por isso, na maioria das vezes, seus portadores não percebem a síndrome, creditando essa insuficiência a questões ?normais? da idade?, admite. Com o tempo, os sintomas se tornam mais contumazes, surgindo depois de esforços insignificantes. É nessa hora que a maioria das pessoas procura auxílio médico. ?Geralmente, quando a extensão do dano respiratório compromete o tratamento efetivo?, constata o cirurgião.

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O passo mais importante para tentar controlar a DPOC é parar de fumar, ficando longe da fumaça do cigarro e também de outras fontes de substâncias tóxicas, como a fuligem provocada pela queima de carvão e lenha ou originadas por resíduos industriais. As pessoas mais vulneráveis à doença são aquelas que começaram a fumar na juventude e que agora, idosos, estão mais propensos a desenvolvê-la. ?Mais de 90% dos portadores são fumantes ou ex-fumantes?, frisa Pirajá Araújo.

Convivência e sobrevida

O pneumologista explica que a DPOC engloba duas outras doenças: a bronquite crônica, uma inflamação nos brônquios caracterizada pela presença de tosse e catarro por pelo menos dois anos e o enfisema pulmonar, uma moléstia que destrói as paredes dos alvéolos e dos brônquios. ?Na DPOC, as duas sempre estão juntas, mas pode haver predominância de uma ou de outra?, comenta. Conforme os especialistas, o primeiro passo para o tratamento é passar por uma espirometria ou prova ventilatória, teste que avalia a função pulmonar, visando graduar o nível de comprometimento da doença.

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A seguir, o paciente deve passar por um centro de reabilitação pulmonar para recuperar o condicionamento, já que a falta de ar faz com que ele abandone a atividade física, essencial para a recuperação. Existem hoje medicamentos desenvolvidos especificamente para o tratamento da DPOC, incluindo o uso de broncodilatadores. Para os casos mais graves, o recurso é oxigenoterapia, um tratamento que reduz a progressão da DPOC e aumenta a sobrevida dos pacientes. Além da medicação apropriada, respiração, exercícios e pequenas mudanças de hábito ajudam o portador a conviver melhor com a doença. ?Só que, por mais que o paciente tome remédios, ele sempre sofrerá de falta de ar?, completa Hespanha Júnior. ?Nas crises eu achava que a minha hora estava chegando?, respira W.M.S., aliviado.

Dicas para conviver melhor com a DPOC

* Procure ter alguém em casa para ajudar nas tarefas cotidianas.

* Evite o uso de perfumes fortes ou spray para o cabelo.

* Fique longe da fumaça do cigarro e dos locais com muita poluição.

* Tome banho sentado. Use um roupão atoalhado, para poupar o trabalho de se enxugar.

* Escove os dentes, penteie-se e faça a barba sentado.

* Procure ter uma alimentação saudável, com frutas, vegetais, fibras e grãos.

* Beba bastante líquido, principalmente nos dias secos.

* Ande devagar e faça as coisas com calma. Respeite seu ritmo!

Quanto custa o tratamento

O custo do tratamento da DPOC vai se multiplicando conforme o comprometimento da doença. Se ela estiver estabilizada, sem maiores crises, o gasto mensal gira em torno de R$ 150, 00, só com broncodilatadores. Se já estiver necessitando de oxigênio, acrescente, em média, mais R$ 350,00. Nas crises é difícil calcular, pois se precisar de hospitalização, os custos se tornam altíssimos, pois é necessária uma equipe multidisciplinar, composta de pneumologistas, fisioterapeutas, serviços de enfermagem, etc.

O reflexo na Saúde Pública é imenso. Os custos diretos e indiretos associados à doença são comparáveis aos de câncer de mama e acidente vascular cerebral. De acordo com os especialistas, a diferença é que a maioria dos casos de DPOC poderia ser evitado se os pacientes nunca tivessem fumado ao longo de toda a vida.

Fontes: Conselho Brasileiro de DPOC e Datasus