Uma das maiores dificuldades dos portadores de esquizofrenia é a aceitação da doença, primeiro pelo próprio doente e por sua família, depois pelo grupo de amigos e pela sociedade de uma forma geral.
A doença mental se caracteriza, classicamente, por um agrupamento de sintomas, entre os quais alterações do pensamento e do humor, alucinações, delírios e perda do contato com a realidade.
De acordo com o psiquiatra Hélio Elkis, a doença afeta a habilidade de organizar as idéias, a capacidade de expressar emoções e a motivação para atividade normais do dia a dia.
“As reais causas da esquizofrenia ainda são desconhecidas, mas ela tem um forte apelo genético”, reconhece o médico, salientando que a possibilidade de familiares desenvolverem a doença é algo em torno de 10%.
A doença surge com mais frequência no início da vida adulta, depois dos 20 anos de idade, prejudicando anos produtivos e impactando diretamente na vida social e profissional do portador. Apesar de não ter cura, o transtorno pode ser controlável com um tratamento medicamentoso e psicossocial.
Reintegração social
O tratamento medicamentoso tem um papel fundamental no controle da doença e é imprescindível para devolver a qualidade de vida ao paciente. “Para a maioria dos pacientes, o tratamento, aliado às estratégias psicossociais, permite a reintegração na família, sociedade e trabalho”, reconhece Acioly Lacerda, chefe da disciplina de Neurociências do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
Diversos estudos, por exemplo, mostram que 50% dos pacientes esquizofrênicos são hospitalizados e que, em 60% dos casos, com um tratamento adequado, consegue-se uma reintegração social e profissional satisfatória.
“Fornecer medicamentos seguros e efetivos por um preço mais acessível pode ser um importante passo para melhorar a vida desses milhões de pessoas que, em caso contrário, não poderiam contribuir positivamente com a sociedade”, avalia o especialista.
De acordo com o psiquiatra Itiro Shirakawa, autor do livro Esquizofrenia – Adesão ao tratamento, os casos mais graves são os que ocorrem ainda na adolescência. “É uma doença que, se não for tratada a tempo, compromete a vida do portador para sempre”, afirma.
O especialista explica que quanto mais cedo ocorrer o tratamento, melhor. “Quanto mais tempo o paciente ficar em surto, e quanto mais surtos tiver, mais comprometida ficará a sua capacidade”, alerta. Hélio Elkis completa que os medicamentos servem para tentar restabelecer o equilíbrio no paciente.
Delírios e alucinações
A idade média de início da esquizofrenia é de 15 a 25 anos nos homens e de 25 a 30 anos nas mulheres. Os sintomas iniciais costumam ser inespecíficos e incluem irritabilidade generalizada, diminuição dos interesses, morosidade, indecisão, isolamento social e descuido do aspecto pessoal.
Os seus sintomas podem ser caracterizados, como positivos, negativos ou cognitivos. Dentre os positivos, sobressaem os delírios, as alucinações e a agitação psicomotora.
Conforme Acioly Lacerda, entende-se por delírio um juízo falso e irredutível da realidade, como a idéia de perseguição, na qual o paciente sente-se perseguido e ameaçado por outras pessoas, interpretando fatos da vida quotidiana como provas cabais de sua queixa de perseguição.
Na esquizofrenia, as alucinações auditivas são as mais frequentes. O paciente escuta vozes que comentam sobre seu comportamento ou lhe dão ordens imperativas, às quais ele não consegue resistir.
“Ele passa a sentir-se influenciado por outros, perde o controle de, sua própria vontade, sente-se controlado por telepatia, por hipnose, como se fosse um robô”, explica o psiquiatra.
Pode também interpretar delirantemente estímulos reais, como por exemplo, achar que uma determinada notícia na televisão ou no rádio refere-se à sua pessoa.
Diagnóstico precoce
Já, os sintomas negativos caracterizam-se, principalmente, por uma diminuição da afetividade e por um empobrecimento do conteúdo do pensamento, como falta de motivação e de iniciativa, isolamento e incapacidade de falar, expressar emoções, sentir prazer e exercer atividades normais.
Os sintomas cognitivos são consequências do prejuízo do funcionamento de determinados circuitos cerebrais que já se encontram presentes no início da doença e incluem dificuldades em organizar e executar tarefas complexas, dificuldade de atenção e memória.
O psiquiatra José Alberto Del Porto, explica que o reconhecimento precoce da esquizofrenia é uma tarefa difícil porque nenhuma das alterações que a doença provoca é de sua exclusividade.
“São alterações comuns a outras enfermidades e, também, a desvios de comportamento”, comenta. Investigar com antecedência a doença amplia a chance de o paciente levar uma vida mais próxima do normal.
O especialista salienta que o tratamento deve ser baseado, principalmente, no controle dos sintomas e na tentativa de reintegração do paciente ao convívio social.