O momento certo para trocar o pediatra pelo ginecologista é uma preocupação dos pais e um suplício para a adolescente.
Não é para menos, já não bastam todas as “transformações” pelas quais o corpo feminino passa, imagine a primeira consulta ao ginecologista. É difícil alguma menina se sentir confortável para cumprir esse compromisso.
A Sociedade Brasileira de Ginecologia na Infância e Adolescência recomenda que a primeira consulta seja feita logo após a primeira menstruação, mas sabemos que nem sempre é isso que acontece. São várias as razões alegadas para adiar esse momento: medo do que vai acontecer lá, vergonha, falta de acesso a um serviço de saúde, medo e por aí vai.
“Agradável não é, mas também não é algo desesperador”, garante Lucimara Baggio, da Sociedade Paranaense de Pediatria, enfatizando que o bom andamento do primeiro encontro é muito importante para que se crie um vínculo duradouro entre o médico e a paciente.
Para a especialista, os pais e a própria menina devem compreender que existem situações muito mais delicadas do que essa e que a prevenção é essencial para a garantia da saúde e da qualidade de vida.
Sentimentos aflorados
Além disso, segundo a pediatra, essa fase coincide e marca, simbolicamente, o período evolutivo da mulher, ou seja, a passagem da infância para a adolescência. “Período bastante oportuno para receber esse tipo de orientação”, considera.
O professor do departamento de Clínica Médica da Universidade de São Paulo, Milton de Arruda Martins, diz que uma consulta médica é o encontro de duas pessoas que têm necessidades, expectativas e valores diferentes.
De um lado o médico, detentor do conhecimento que promoverá os cuidados com a saúde, e do outro, a paciente que chega insegura, angustiada e fragilizada. Ainda mais sendo a primeira vez. “Daí, estes sentimentos ficam mais aflorados”, comprova.
Mas afinal, o que acontece nessa primeira consulta? Conforme Mariana Maldonado, ginecologista e obstetra, especialista em sexologia, a intenção nesse momento deve ser conversar com a menina para saber que tipo de orientações precisa e indicar os exames necessários ao acompanhamento de seu crescimento e desenvolvimento.
São avaliados o peso, a altura, o desenvolvimento dos seios e dos pêlos, tanto os da axila quanto os pubianos. “Tudo isso para ver se estão dentro do esperado para a idade e de acordo como tem que ser para o sexo feminino”, reitera a especialista.
Questão de confiança
Para as meninas que ainda não começaram a transar, a médica recomenda a ida ao ginecologista pelo menos uma vez ao ano para fazer o acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento.
Muitas meninas iniciam a vida sexual sem saber, até mesmo, qual o método anticoncepcional recomendado para o seu caso. “Pior ainda quando começam a tomar anticoncepcionais sozinhas, ou porque a amiga toma e ensina, sem saber se pode ou se não pode usar”, alerta Mariana Maldonado.
Infelizmente, o medo e a vergonha influenciam tanto que a adolescente pode perder boas oportunidades de se proteger e acabar colocando sua saúde em risco.
O ideal é que as visitas sejam periódicas e regulares, no mínimo, uma vez por ano para todas as mulheres que já iniciaram a vida sexual, independentemente da idade.
Para as meninas que ainda não começaram a transar, a especialista em sexologia recomenda a ida ao ginecologista uma vez ao ano para fazer o acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento.
Sílvia Melo, ginecologista especialista em adolescentes, diz que uma boa conversa entre mãe e filha é fundamental antes da primeira consulta, o que facilita o andamento das próximas visitas. No entender da médica, o bicho não é tão feio quanto parece.
É muito importante encontrar um p,rofissional qualificado a quem a menina possa confiar para fazer seu acompanhamento. Esse é o melhor momento para perguntar, tirar suas dúvidas e começar a construir um vínculo necessário para ajudá-la a cuidar melhor da sua saúde. “Isso é importante para criar um vínculo com o profissional que a acompanhará durante toda a vida reprodutiva”, reconhece.
Habilidade e delicadeza
No consultório, muitas sensações podem causar insegurança na menina. A sala de espera, o médico, o ambiente. “A menina que ali se apresenta, não chega com algum tipo de sofrimento físico, ela chega com todo o seu ser”, filosofa Milton Martins.
A compreensão desta dimensão, ainda mais em se tratando da especialidade ginecologia, na qual a paciente precisa dar permissão ao médico para tocar seu corpo de forma íntima, ganha contornos cruciais. “Podemos imaginar a habilidade e a delicadeza necessárias para que o profissional efetue um atendimento mais humano e adequado”, completa o médico.
Mesmo que torne angustiante, muitos terapeutas orientam para que as mães deixem suas filhas sozinhas na sala com o médico. “Isso terá influências positivas na sua auto-afirmação”, dizem.
Sentindo-se assim, a adolescente poderá explicar melhor o que sente e reconhecer a importância do auto-cuidado com a saúde e, assim, dar um passo importante para tomar conta da sua própria vida.
Até mesmo, os cuidados com os medicamentos devem ficar sob a responsabilidade dos jovens. No entender de do especialista, os pais podem participar esclarecendo sobre alguma dúvida ou acompanhando algum tratamento. “Sem pressionar, é claro”, completa.
As principais dúvidas delas
* Cólicas e ciclo menstrual
* Depressão
* Crescimento
* Obesidade
* Anticoncepcionais
* Variações do humor