A concorrência em busca de um emprego não pára de aumentar. O candidato precisa passar por diversos testes e depois por angustiantes entrevistas, até conseguir a vaga. Em seguida providencia a documentação profissional e se submete aos exames médicos de admissão. Tudo resolvido, começa no novo emprego com muita motivação. Novos colegas e rotinas de trabalho. Depois de tudo isso ele se dá conta de que o ambiente em que passará a maior parte do dia (e um bom período de sua vida) não é apropriado. Isso acontece porque, ainda, são poucas as empresas que se preocupam com a saúde do colaborador no seu posto de trabalho.
O trabalhador, também, depois de enfrentar a batalha pelo emprego, nem se preocupa em verificar a forma com a qual a empresa que tanto exige dos funcionários cuida da própria saúde. Por falta de informação, a maioria dos trabalhadores nem procura saber até que ponto a ?firma? se baseia nos princípios de ergonomia, ciência que estuda os problemas relativos ao trabalho humano e define como as instalações devem ser organizadas para que cada funcionário desempenhe, satisfatoriamente, suas tarefas. Em linhas gerais, ela deve oferecer ao seu empregado bem-estar e segurança, traduzidos na oferta de ambiente, móveis e equipamentos de trabalho adequados, minimizando, inclusive, os riscos de acidentes do trabalho.
?É necessário que os trabalhadores saibam de todos os males que a má postura causa e não deixem que a pressão do trabalho e prazos faça com que eles esqueçam disso?, recomenda a professora de fisioterapia Ana Carolina Xavier e Chaves. Nos últimos dez anos, o Ministério do Trabalho registrou um aumento de 480% em relação à ocorrência de moléstias relacionadas ao exercício da profissão. Na década de 1980, eram registrados apenas seis mil casos de doenças ocupacionais. Atualmente, o número pulou para cerca de 40 mil.
Cuidados com a saúde
Segundo a fisioterapeuta, a falta de orientação e prevenção não é a única culpada, pois os trabalhadores atuais vivem contextos diferentes, com fortes pressões por aumento de competitividade e instabilidade no emprego. Dentre as enfermidades mais comuns estão as lesões por esforço repetitivo ou distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/Dort), as quais correspondem a 80% das doenças ocupacionais registradas no Brasil.
Formada em marketing, Paula Popovic, 24 anos, trabalha há um ano em casa, administrando a área de recursos humanos de uma empresa de teleatendimento. Apesar de parecer um modelo ideal de trabalho e desejado por muitas pessoas, trabalhar em casa também requer a garantia de que o trinômio conforto, segurança e eficácia seja cumprido. ?Assim como para quem trabalha na sua sede, a empresa precisar oferecer condições adequadas em relação à iluminação, mesas e cadeiras?, observa Claudia Rossi, fisioterapeuta especialista em ergonomia. Esse acompanhamento evitará os afastamentos dos profissionais por LER/Dort e, principalmente, processos trabalhistas.
Na maioria dos casos, os trabalhadores afetados por esses distúrbios só procuram um médico quando as dores começam a atrapalhar sua rotina e isso é sinal de que a lesão já está em estágio avançado. ?Para o tratamento, o primeiro passo é o afastamento e, então, poderão ser usados medicamentos e técnicas de fisioterapia, relaxamento e, até mesmo, acupuntura?, observa o fisioterapeuta do trabalho Alison Klein.
Para completar os cuidados com a saúde no ambiente de trabalho, certos profissionais, como carpinteiros, marceneiros, cabeleireiros, operários da construção civil, químicos, ainda estão expostos a substâncias com o poder de piorar uma alergia respiratória (asma ou rinite) preexistente. ?Por isso, a asma ocupacional pode ser induzida por agentes inaláveis em determinados ambientes de trabalho, na forma de gases e vapores?, completa Maria de Fátima Emerson, especialista no tratamento de alergias.
Mortes diminuíram, acidentes aumentaram
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 270 milhões trabalhadores sofrem anualmente lesões graves ou mortais ocasionados por acidentes de trabalho em todo o mundo. São registradas cinco mil mortes por dia, três vidas perdidas a cada minuto. Os índices representam um custo equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
O Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006, último publicado pelo INSS, mostra que número de mortes relacionadas ao trabalho diminuiu 2,5%, em relação ao ano anterior. Entretanto, os acidentes de trabalho aumentaram e ultrapassaram os 500 mil casos, somando os típicos, os de trajeto e as doenças ocupacionais. "Acidentes e as doenças ocupacionais são responsáveis por milhares de mortes e geram gastos às empresas, que perdem tempo, mão-de-obra, produção e qualidade de vida no trabalho", comenta Ricardo Germano Efing, coordenador do curso Técnico em Segurança do Trabalho do Grupo CBES.
Para diminuir esses números desabonadores, as empresas estão dando atenção especial à legislação do Ministério do Trabalho e contratando profissionais capacitados para garantir o máximo de segurança no seu ambiente de trabalho. O papel destes profissionais consiste em zelar pela segurança dos trabalhadores. "Não apenas na fiscalização, mas também educando os funcionários para agirem de forma preventiva", considera Efing.
Exigências da lei
Essas condições também são exigidas das empresas pelo Ministério do Trabalho, inseridas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – que regulamenta todas as relações trabalhistas. Para facilitar seu cumprimento, o próprio órgão se encarrega de respaldá-las por meio de uma Portaria, a de número 3.214, que detalha o que é indispensável à estrutura e à manutenção das instalações para proteção do trabalhador e a prevenção dos riscos ambientais.
Independentemente dessas exigências, é claro que aqueles que trabalham tendo saúde e bem-estar garantidos – seja no escritório, na fábrica ou na loja – não são os únicos beneficiados. O funcionário seguro e saudável mantém a assiduidade, produz mais e contribui de forma mais efetiva para o alcance dos objetivos e metas de sua equipe. "O ambiente dos edifícios modernos apresenta, em geral, janelas fechadas, carpetes grossos, acúmulo de papéis antigos ou em arquivos", observa Maria de Fátima Emerson. Conforme a médica, esses fatores, associados à limpeza superficial e inadequada dos pisos, móveis e especialmente dos aparelhos de refrigeração, favorecem a presença de ácaros e fungos, inimigos dos alérgicos.
Causas de preocupação
>> Ambientes com grandes diferenças de temperatura
>> Pisos duros e escorregadios
>> Falta de espaço para lanches e refeições
>> Materiais estocados em locais de risco
>> Iluminação insuficienteou inadequada
>> Umidade, pintura desgastada ou em cores agressivas
>> Instalações de água, luz e gás mal-conservadas
>> Banheiros malhigienizados
>> Desinformação ou ausência de saídas de emergência