Inicialmente, a menina expressa uma preocupação com o peso corporal e começa a se interessar por dietas e pela quantidade de calorias dos alimentos. Até aí uma preocupação louvável. Progressivamente, ela começa a abolir de suas dietas os alimentos mais calóricos e passa a chamar a atenção pelo rigor desse controle, pois, geralmente, não concede nenhuma regalia, nem mesmo numa festa. Seu peso começa a ficar abaixo da média, mas ela continua se alimentando com produtos light ou diet, usando roupas largas e se achando gorda. O jejum é freqüente e, muitas vezes, deixa de ingerir líquidos com a alegação que aumentam o volume do seu abdome. Se a menina chegou a essa fase, não é difícil notar a anorexia nervosa avançando através da distorção da imagem corporal.
Nas idas e vindas das personagens que habitam as novelas, o tema bulimia e anorexia nervosa sempre volta à tona. Assim como na ficção, muitas pessoas se defrontam com essas doenças de fundo psiquiátrico. São modelos, atrizes e pessoas comuns que buscam a perfeição corporal a todo o custo. ?Mesmo que isso represente enormes prejuízos a saúde e a qualidade de vida?, constata a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva.
Imagem e fantasia
A anorexia nervosa se caracteriza pela falta de apetite na maior parte do tempo induzida pela própria pessoa, que se recusa a comer. Essa atitude pode culminar com uma desnutrição severa, situação que aumenta as taxas de mortalidade pela doença – acima de 21%. De acordo com a psicóloga Silvana Martani, negar a comida passa a ser uma solução para atingir a imagem desejada, que no espelho, para ela, tem muitos quilos a mais. A especialista salienta que essa deformação da imagem se dá quando o corpo que ela imagina é infinitamente diferente do que existe na realidade. ?Assim, o corpo que emagrece é o que está na sua fantasia e, como nunca está perfeito, pois seu nível de exigência é muito alto, passa a definhar?, explica Silvana.
Muitas vezes, ninguém da família percebe que a menina está passando por um grave processo psíquico. Ellen Paiva adverte que é muito difícil abordar a pessoa com uma doença dessas. ?Normalmente, elas negam todo e qualquer questionamento que lhe façam, adotando às vezes uma postura agressiva ou extremamente irritada?, realça. Para a endocrinologista, a doença, certamente, tem causas complexas, como a própria predisposição às graves distorções psíquicas. De acordo com a psicologia, há um grande vazio existencial, além de um grande apego ao corpo psíquico infantil, de modo que qualquer mudança corporal, perfeitamente normal na puberdade, seja percebida como ameaçadora.
No entender da especialista, o último século valorizou e firmou a imagem como um dos grandes pilares para se atingir o sucesso. Os meios de comunicação passaram a divulgar um padrão de beleza que servia muito mais para mostrar roupas e não vestir roupas. Nada mais justo para essa adolescente querer ficar igual à imagem da revista. O caminho então é procurar uma ajuda especializada para receber orientação sobre a melhor maneira de ajudar ou abordar essa menina. O tratamento adequado para esta doença envolve psicólogos, nutricionistas, psiquiatras e endocrinologistas.
A difícil tarefa de tratar essas meninas
* As pacientes anoréxicas desconfiam da maioria dos profissionais de saúde, pois sabem que todos têm muita preocupação com sua alimentação.
* Afirmam que sabem muito bem como se alimentar e não seguem as orientações nutricionais prescritas.
* Discutem sobre cada item da dieta proposta, as alternativas e possibilidades de substituição, mas continuam comendo da maneira que acreditam ser a melhor.
* Não têm vergonha de argumentar que estão gordas, mesmo quando magérrimas e não se intimidam ou se sensibilizam com a alegação de que podem adoecer e até morrer.
* Se recusam a aceitar qualquer atitude que as façam recuperar o peso perdido.
Bulimia
?A bulimia é uma doença coadjuvante, muitas vezes, da anorexia?, explica a psicóloga Silvana Martani. Depois de dias sem se alimentar ou se alimentando muito pouco, a pessoa pode ter um ataque alimentar compulsivo e depois se valer de algum comportamento compensatório, como provocar o vômito ou tomar uma dose exagerada de laxante para se livrar da comida. Ainda pior, quando se valem das drogas na dieta para suportar tanta privação, se tornando dependentes.
