A dor de viver com endometriose afeta 6 milhões de mulheres no Brasil

Mariana, uma mineira que mora em Curitiba, é portadora de endometriose. A lojista, apesar de se sentir desanimada, está se recuperando de uma cirurgia para a retirada de focos da doença no ovário. ?Estou entre a cruz e a espada, como diz minha mãe?, comenta. Para evitar novos focos é necessário que ela tome anticoncepcional, logo está impedida de engravidar (seu maior sonho), caso contrário, estará contribuindo para que a doença progrida.

De acordo com o tocoginecologista Mauri José Piazza, do Hospital de Clínicas da UFPR, muitas vezes, é isso mesmo o que acontece. ?Dependendo do grau da extensão dos focos da doença e sua localização, uma cauterização já soluciona o problema?, explica. Nesses casos, o especialista indica que a mulher, caso queira engravidar, o faça logo, para se evitar a progressão da doença e realizar logo o seu desejo.

Passeio do endométrio

Considerada uma doença da mulher moderna, a endometriose se caracteriza pela presença do endométrio fora do útero. O endométrio corresponde ao tecido que reveste a cavidade do útero, preparando-o para receber o embrião. Quando não ocorre fecundação, esse tecido se descama e é eliminado por meio da menstruação. A incidência da doença se dá quando esse tecido se implanta fora do útero, migrando, através da corrente sangüínea, para órgãos como ovários, ligamentos pélvicos, intestinos, bexiga e vagina. ?Em casos mais raros pode ser encontrado em órgãos distantes, como pulmão, pleura e sistema nervoso central?, admite Maurício Abrão, especialista e um dos fundadores do Núcleo Interdisciplinar de Ensino e Pesquisa em Endometriose, em São Paulo.

Enigma, muitas pesquisas e surpresas envolvem a patologia. O médico Álvaro Ceschin, da Associação Paranaense de Endometriose, explica que quando o tecido invade o próprio músculo uterino a doença é denominada de endometriose interna ou adenomiose. Quando se implanta em outros órgãos é conhecida por endometriose externa. Ao suspeitar da doença, o médico deve indicar uma videolaparoscopia, microcirurgia que não somente diagnostica a doença, como também consegue tratá-la pela possibilidade de se remover os focos de endometriose visualizados no procedimento.

Prejuízos profissionais

Antigamente, as mulheres menstruavam menos, pois engravidavam mais vezes. Isso inibia o desenvolvimento da doença. Hoje em dia, a mulher tem cerca de 400 menstruações durante seu período reprodutivo. ?No início do século passado esse número não passava de 40?, lembra Abrão. O médico ressalta que estresse, ansiedade e fatores genéticos também podem estar relacionados à doença.

O fenômeno pode causar dores intensas no período menstrual, como cólicas que chegam a se tornar incapacitantes, além de dores durante as relações sexuais, dificuldade de engravidar e infertilidade. Os transtornos físicos causados pela doença afetam diretamente a qualidade de vida da mulher, que também é prejudicada em suas relações pessoais e profissionais. As fortes dores muitas vezes obrigam a portadora da enfermidade a faltar ao trabalho, além de alterarem  sensivelmente seu estado de humor, tornando difícil o convívio com outras pessoas.

Apesar da gravidade da doença e do grande número de mulheres que sofrem com o mal, a desinformação a respeito da endometriose leva ao diagnóstico tardio, complicando as possibilidades de tratamento e prolongando o sofrimento.

Falta de informação

Em geral, a doença leve ou moderada termina com a menopausa e diminui com tratamento clínico, à base de medicamentos análogos, semelhantes aos hormônios produzidos pelo organismo, que induzem a uma menopausa temporária. ?Nos casos mais graves, quando a endometriose é diagnosticada numa fase avançada, só uma cirurgia resolve?, salienta Mauri Piazza, completando que, em situações de comprometimento grave, pode ser necessária a retirada dos órgãos internos afetados pela doença.

Mesmo sendo a doença ginecológica mais estudada nos últimos 10 anos, os sintomas da endometriose podem ser interpretados como as mais diferentes doenças, múltiplas teorias dão conta disso. ?Diagnosticar a doença na sua fase inicial possibilita bloquear seus efeitos e melhorar o resultado dos tratamentos?, enfatiza o especialista. Apesar de não existir uma cura total, pois a reincidência é bastante alta, a endometriose pode ser controlada com um acompanhamento médico freqüente.

Principais sintomas

* Fadiga

* Cólica menstrual forte

* Dor na relação sexual

* Dores abdominais fora do período menstrual

* Intestino preso ou diarréia, perto ou no período menstrual

* Dificuldade para engravidar e esterilidade

Para prevenir a doença

* Adotar medidas que reduzam o risco de estresse

* Observar se os ciclos menstruais estão regulares

* Uso de pílulas anticoncepcionais

* Exames ginecológicos regulares

OLHO: Nos casos muito severos de endometriose, a gravidez só será possível por meio de técnicas de fertilização assistida e inseminação artificial.

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