Não há coisa mais chata do que, no meio da conversa, uma criança interromper a mãe aos gritos até que receba atenção. Isso pode acontecer porque a criança está aprendendo a ter um comportamento social e ainda não sabe direito o que pode ou não fazer. Mas seu jeito birrento também pode ser indício de que algo não vai bem com suas emoções.
Vai longe o tempo em que birra ou a manha explicavam todos os comportamentos das crianças e deviam ser corrigidos com broncas, castigos ou palmadas.
Hoje se sabe que os pequenos podem sofrer com vários problemas emocionais. Estudos revelam que os transtornos ansiosos atingem entre 9% e 15% das crianças e adolescentes.
Os mais comuns são o de ansiedade de separação, o de ansiedade geral e as fobias específicas (medos excessivos e persistentes relacionados a determinados objetos ou situações).
“Cada criança escolhe um meio de mostrar que está infeliz ou assustada, mas como não sabe identificar o que está acontecendo, expressa seu desagrado por meio de atitudes, como birra, manha ou teimosia, irritando a todos”, explica a psicóloga Eliza Helena Ercolin.
Transtornos emocionais
A grande dúvida recai sobre quando procurar auxílio profissional. Especialistas afirmam que existem na criança diversos transtornos ansiosos que se somam frequentemente uns aos outros durante o seu desenvolvimento.
Para a neuropsiquiatra Evelyn Vinocur, infelizmente ainda é muito grande o número de crianças que sofrem com eles e que ficam sem receber tratamento adequado. “O mito de que criança não sofre de transtornos emocionais atrapalha a situação dessas crianças bem como prolonga o início da detecção dos sintomas, agravando o problema”, admite.
As crianças com transtorno de ansiedade generalizada, por exemplo, têm medo excessivo e sentimentos de pânico exagerados e irracionais diante de várias situações.
Estão sempre tensas e muito preocupadas com o julgamento que os outros têm sobre o seu desempenho. Elas necessitam exageradamente que as pessoas demonstrem confiança e as tranquilizem. Reclamam de problemas físicos sem causa aparente e têm sintomas, como palidez, suor excessivo, respiração acelerada e tensão muscular.
Já o transtorno de ansiedade de separação causa muito sofrimento. Ele surge quando a criança ou adolescente reage de forma excessiva ao afastamento dos pais ou de quem toma conta dela, principalmente em uma idade em que isso não é esperado.
Só se torna preocupante quando essa reação continua tem uma duração prolongada, causando sofrimento intenso e prejudicando suas atividades. As crianças ou adolescentes com esse transtorno têm medo de que um acontecimento ruim -acidente, assalto ou doença – os afaste definitivamente dos seus pais.
Sintomas de outras doenças
As reações diante do afastamento dos pais podem incluir dor abdominal e de cabeça, náusea e vômitos, além de palpitações, tontura e sensação de desmaio, nas crianças maiores, causando grande estresse pessoal e familiar.
A criança sente-se humilhada e medrosa, tem sua autoestima reduzida e pode chegar a ter problemas na vida adulta, principalmente o transtorno de pânico.
O psiquiatra Luiz Alberto Hetem lembra que a ansiedade tem muitos dos mesmos sintomas do medo, mas é um sentimento que perdura muito depois desse sentimento ter desaparecido e o incômodo ter sido superado.
A ansiedade pode ser uma doença em si mesma, ou um sintoma de outros problemas emocionais, como depressão, psicose ou transtornos do desenvolvimento, entre outros.
Os especialistas afirmam que cerca de metade das crianças com transtorno de ansiedade têm também outro tipo de transtorno emocional.
Como em quase todos os problemas emocionais, a ansiedade pode ser causada por vários fatores ligados à herança genética e às características do ambiente, cada um com um peso diferente para cada criança. Se não forem tratados, podem se tornar crônicos e, m,esmo que às vezes pareçam melhorar, retornam em novas situações.
Quanto mais cedo os transtornos de ansiedade forem identificados e tratados, maiores as chances de evitar que eles tenham repercussão negativa na vida da criança, como baixo rendimento e evasão escolar, surgimento de doenças e de, possivelmente, problemas psiquiátricos na vida adulta.
O que os pais podem fazer
* Procurar saber dos professores como a criança se comporta na escola
* Em caso de dúvidas, buscar ajuda especializada
* Participar ativamente, caso seja sugerido um tratamento psicoterápico
* Se a criança parou de ir à escola, é preciso fazê-la retornar de forma gradual e respeitando as suas limitações
* A família precisa ser conscientizada do problema e do tratamento proposto, para que todos incentivem a criança a recuperar sua autonomia
* Compreender, abraçar, conversar, mas não deixar manter os limites necessários à formação da criança
O que os pais NÃO podem fazer
* Diagnosticar” o problema sem uma análise criteriosa, alegando birra ou que umas palmadas vão dar um jeito, por exemplo
* Expor a criança às situações das quais tem medo sem orientação profissional, ou pior, usando de violência ou sarcasmo
* Desqualificar a criança, fazendo com que ela se sinta inferior
* Demonstrar irritação ou impaciência
* Deixar de buscar ajuda profissional até que o problema fique mais grave