Em todo o Paraná, 3.226 pessoas estão na fila aguardando a doação de órgãos. Desse montante, 1.965 esperam por um rim, 903 por uma córnea, 297 por um fígado e 61 por um coração. Os números são da Central de Transplantes do Paraná e se referem ao primeiro semestre deste ano. Para a coordenadora Intra-Hospitalar de Transplantes da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, médica Gláucia Francisco, falta conhecimento por parte da população no que se refere à doação de órgãos. No Dia de São Cosme e São Damião e Dia Nacional do Doador de Órgãos, comemorados hoje, a idéia é sensibilizar doadores e implementar a rede de captação de órgãos e tecidos.
De acordo com a coordenadora, a literatura mundial mostra que a recusa familiar na doação de órgãos é de 25%. Só na Santa Casa e especificamente em se tratando da córnea, a recusa chega a 50%. “Ainda há muito desconhecimento. As pessoas acham que vai mutilar o cadáver”, conta. Também a falta de conversa no meio familiar, em que fica demonstrado o desejo ou não de doar os órgãos quando a pessoa vir a morrer, é outro fator importante. “A morte continua sendo um tabu em muitas famílias”, lamenta.
Segundo a médica, os números à espera de um órgão têm se mantido estável. A exceção é o fígado. “Vem aumentando a demanda pelo fígado, principalmente porque a insuficiência hepática não leva mais à morte como antes”, diz, acrescentando que os doentes hepáticos são mantidos vivos principalmente pelos medicamentos.
Em relação à córnea, segundo a médica, a fila de espera poderia ser bem menor. “As córneas podem ser retiradas até oito horas depois da parada cardíaca, do óbito. Há certa falha de captação no Estado para diminuir esta fila”, aponta. Já órgãos como o coração, fígado, rins e pâncreas têm de ser retirados ainda na morte encefálica.
Em todo o Paraná, apenas três centros realizam transplantes: a Santa Casa juntamente com o Cajuru, Hospital de Clínicas e Hospital Universitário de Londrina. Desde o início do ano, a Santa Casa realizou três transplantes de coração e quase três, por mês, de fígado e rins.
Cosme e Damião
Reza a lenda que Cosme e Damião, irmãos gêmeos e médicos habilidosos que viveram no Oriente, curando gratuitamente todos aqueles que os procuravam, protagonizaram o primeiro transplante de órgãos. Eles teriam implantado a perna de um guerreiro mouro, que havia morrido, em um homem branco cuja perna estava comprometida por um tumor cancerígeno. Por esse ato pioneiro, Cosme e Damião são considerados padroeiros dos transplantes.
