Viaje e comunique-se sem medo de gafes

turismogafes230108.jpgViagens de negócios movimentaram, só no ano de 2005, nada menos do que US$ 653 bilhões e estima-se que até o ano de 2015, esse segmento próspero deva crescer 3%. É o que revelam dados estatísticos do World Travel & Tourism Council e a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) comprova essa realidade. Cerca de 34% dos brasileiros que embarcam para o exterior vão em busca de novos negócios e 26% dos visitantes estrangeiros que visitam o País vêm a trabalho. Até 2010, a indústria hoteleira do Brasil receberá investimentos de cerca de R$ 5,3 bilhões na construção de novos meios de hospedagem.

Esses profissionais que passam bom tempo na ponte aérea dedicam todos os seus esforços nas negociações e transações comerciais e, por conseqüência disso, cometem algumas gafes interculturais. Sven Dinklage, consultor multicultural, afirma que esses incidentes acontecem constantemente e têm resultados catastróficos. ?Além de saber como se comunicar em outras línguas é preciso conhecer a linguagem intercultural que compreende em valores, crenças e padrões de pensamentos que norteiam a cultura de um determinado país?, aconselha.

A maneira de pensar, falar, olhar, alguns gestos e movimentos podem gerar profunda ofensa a outros povos. ?Os brasileiros não podem, por exemplo, abraçar e perguntar em certos países sobre questões pessoais porque correm o risco de criar um ambiente negativo. Nem o melhor domínio de idiomas será capaz de reparar uma situação onde o interlocutor da outra cultura ficou ofendido, e isto pode causar grandes prejuízos?, aponta o especialista.

É possível encontrar um bom exemplo dessa situação na cultura árabe. ?Nunca mostre a sola do sapato. Isto é tratado como insulto por ficar em contato com o chão. Também é ?suja? a mão esquerda pois é utilizada na higiene pessoal conforme a tradição islâmica?. Em relação a presentes, o cuidado deve ser redobrado. ?Nunca dê nada para a esposa de seu interlocutor, a iniciativa poderia ser considerada bastante ofensiva. Dar presentes é dever do esposo e não do visitante. Outra dica: Nunca comente a beleza da mulher, irmã, filha, ou funcionária de seu anfitrião árabe, com certeza não será interpretado como um elogio?.

Experiência pode ser desastrosa

Carlos F., recepcionista de um grande hotel, teve uma experiência desastrosa por não dominar qualquer tipo de competência intercultural. ?Ao atender a dois executivos japoneses sentia, pelos seus mais de nove anos de experiência, que alguma coisa não estava certa. Sabia que muitos orientais eram tão educados que se recusavam a pronunciar ?não? ou ?não gostei?. Mesmo assim, não entendia por que os seus hóspedes, o diretor-geral e um gerente da empresa, aparentaram não gostar dos melhores quartos do hotel (números 443 e 444, um do lado do outro) que havia separado especialmente para a ocasião.

O que ele não sabia era que, pelo conceito hierárquico que vale no Japão, o superior na organização sempre deve ser hospedado em um andar superior ao seu subordinado, além de habitar um quarto melhor.

O recepcionista também não tinha conhecimento de que o número quatro é o número do azar para os japoneses (e também para os chineses), pois a pronúncia desta palavra no idioma local é muito parecida com a da palavra ?morte?; é como o número 13 em algumas culturas, tanto que nos prédios não existe o 4.º andar fazendo com que a contagem vá do terceiro andar direto para o quinto.

Quem tem contato com outras culturas precisa ter consciência de que é preciso conhecer as peculiaridades de cada local para ter sucesso. Sven Dinklage, consultor multicultural, afirma que talvez pareçam detalhes, porém, podem custar muito caro por prejudicarem a satisfação do interlocutor, seja ele um parceiro profissional, um convidado ou um hóspede de um hotel ou congresso. ?Se tratado de maneira não adequada à sua cultura, ele poderá não fechar o negócio ou tomar a decisão de nunca mais voltar a nos procurar ou visitar?, diz.

A executiva de compras Ingrid Anne Neves se arrepende de não ter explorado devidamente os hábitos e costumes da Noruega, país que visitou recentemente.

?Acreditava que por dominar o inglês, esse cuidado seria desnecessário. Enganei-me profundamente. Ao tomar um trem, não entendi ao certo os nomes das estações e  só descobri onde estava no ponto final. Foi um grande transtorno porque no local onde deveria descer havia um ônibus esperando. Fiquei muito nervosa e não sabia o que fazer. Mas no final deu tudo certo e consegui chegar ao local combinado?, recorda.

Viagens de lazer são mais suscetíveis a problemas

Esse tipo de viagem é a que mais se tem registros de gafes. No meio de tanta euforia de passear e se divertir com a família em terras longínquas e de hábitos diferentes, boa parte se concentra tanto nos folhetos sedutores que se esquece de pesquisar alguns detalhes culturais sobre o local. E é ai que começam a surgir comentários como ?aqui, tudo é diferente e esquisito?.

O consultor explica que é normal achar as coisas diferentes ?erradas? ou ?estranhas?. ?Fomos criados no nosso ambiente e com os valores da nossa sociedade. Segundo o nosso ponto de vista, é ?normal? dirigir à direita da estrada e dar beijinhos e abraços na hora de encontrar pessoas conhecidas.

Na Argentina, é hábito dos homens amigos se beijarem. Os esquimós, quando recebem um visitante masculino, oferecem a própria mulher durante as noites de estada. O que será que estes povos dizem de nós, brasileiros? Será que não acham também que somos ?fora do normal? comendo carne de vaca ou coraçãozinho?

Confira algumas dicas sobre como se comportar em viagens:

– Cuidado com estereótipos! Nós humanos tendemos a rotular as coisas, a formar estereótipos fixos nas nossas mentes. Quando você perceber que está usando palavras como ?sempre? ou ?todos?, tome cuidado.

– Receba as coisas diferentes como algo interessante. Observe os cheiros, sabores, sons e costumes de um lugar.

– Comunique-se de uma maneira simples e devagar. Não importa se você está no papel de viajante ou anfitrião, lembre-se de que o seu interlocutor pode ter dificuldades em entendê-lo. Procure expressar-se de maneira simples e clara para que não haja ruídos na comunicação.

– Respeite o espaço de seu interlocutor. As diferentes culturais utilizam o espaço físico de maneiras distintas. Você já observou que para muitas outras culturas, a distância ideal entre duas pessoas é de aproximadamente um metro, enquanto nós, brasileiros, gostamos de chegar mais perto? Isto fica bem evidente em um coquetel quando observamos que os estrangeiros se mantêm acuados pelos cantos do salão enquanto os brasileiros chegam cada vez mais perto um dos outros. Os árabes são mais íntimos, chegam tão perto da outra pessoa que sentem a respiração, fato necessário para o árabe estabelecer um clima de confiança.

– Seja tolerante com os outros. Aceite maneiras diferentes de fazer as coisas.

– Seja tolerante com a ambigüidade, afinal, sua própria natureza terá uma determinada expectativa nem sempre atendida. Quando você vai para os EUA, por exemplo, para conduzir uma negociação comercial, prepare-se pois seu interlocutor norte-americano irá direto ao assunto. Sua natureza brasileira, na tentativa de criar um clima agradável, vai querer falar primeiro do tempo, da família ou coisas do tipo, porém, resista.

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