As parreiras de uva carregadas anunciam a safra do fim de ano em Marialva, a 15 quilômetros de Maringá. A uva ocupa 1.450 hectares no município, que produz 45 mil toneladas por ano. São 750 produtores, que empregam seis mil pessoas, correspondendo a 50% da receita agrícola. Mas nem só de números vive Marialva. Um passeio pela zona rural do município revela belezas e encantos da ?capital da uva fina?.
Na Estrada da Escolinha, o agricultor Aparecido Beloti cultiva sete hectares de uva. Parte da produção é transformada em suco. No ano passado, ele produziu oito mil garrafas da bebida, mas por falta de registro no Ministério da Agricultura, ainda não ampliou a comercialização. Ele pretende legalizar a situação e aumentar a produção de suco em função da procura. ?Por não possuir conservantes, nosso produto agrada ao paladar dos consumidores?, afirma Beloti.
Outro que também investe na produção de suco natural no município é Laércio José de Pintor. Em cinco alqueires na Estrada Marialva, o agricultor produz entre sete e 10 mil garrafas de suco por ano. Com registro no Ministério da Agricultura, que ele espera conseguir até o fim do ano, produzir 25 mil garrafas por ano.
Além de vender na Feira do Produtor de Maringá, Pintor comercializa suco no próprio sítio. A preferência dos consumidores, a exemplo de Beloti, se dá em razão da ausência de conservantes químicos na bebida. ?Cada vez mais as pessoas procuram produtos saudáveis e nós fazemos parte dessa tendência?, complementa o agricultor.
Armando Bonjorno Garcia produz cachaça de forma artesanal e sem adubo químico. |
Na zona rural de Marialva, o turista vai encontrar também um alambique, na Estância São José km 3, Estrada da Escolinha. O proprietário, Armando Bonjorno Garcia, aprendeu com os avós, no interior de São Paulo, a arte de fabricar cachaça. Por enquanto, a produção de três mil litros por ano destina-se a amigos, mas ele já começou a mexer com a papelada para conseguir o registro e ampliá-la.
Fabricada de forma artesanal com cana sem adubo químico, a bebida conquista o paladar dos apreciadores. Enquanto não consegue registro, ele a batizou de ?Deguste Hombre?, mas depois de legalizada vai se chamar ?Cachaça Nova Geração?.
Parque da Uva é vitrine dos produtos
A construção do Parque da Uva é uma das ações de apoio do governo municipal à viticultura de Marialva. A Prefeitura adquiriu um terreno de 103 mil metros quadrados onde haverá espaço para a Festa da Uva, evento realizado a cada dois anos no município. A área do futuro parque fica na saída para Mandaguari, nas margens da BR-376. Além da festa, uma das propostas é que os viticultores construam um barracão no local para expor produtos derivados da uva. ?Será uma espécie de vitrine na beira da rodovia, onde será possível encontrar vinho, suco, geléia, entre outros produtos oriundos da uva?, comenta o secretário municipal da Agricultura e Meio Ambiente, Luiz Carlos Stéfano.
Um centro de eventos já está em construção no futuro Parque da Uva. Os 550 metros quadrados da obra vão abrigar um anfiteatro com capacidade para 350 lugares. Os recursos de R$ 367 mil são do Ministério do Turismo e contrapartida do município. A previsão de conclusão do empreendimento é de seis meses.
Stéfano acrescenta que Marialva está adotando outras ações em prol da qualidade da uva, por exemplo, fiscalização para coibir a comercialização de uva verde. Nos últimos anos, caminhões carregados com a fruta colhida antes de época foram embargados, e as cargas despejadas no aterro sanitário da cidade. ?Estamos fazendo isso em defesa dos viticultores?, justifica. ?Depois que adotamos essa postura, nossa uva está sendo bem recebida em São Paulo, Belo Horizonte, Campinas, Curitiba e outros locais para onde vendemos.?
Outra novidade para estimular os viticultores é a premiação para os campeões de produção de uva, que acontecerá sempre durante a Festa da Uva. O primeiro colocado levará um carro zero quilômetro, que já está exposto na Prefeitura de Marialva (DO).
Vinho ganha espaço no mercado
Além de ostentar o título de capital da uva fina, Marialva começa a produzir vinho com a construção de uma vinícola que nasceu da união de 25 produtores de uva. Eles formaram a Cooperativa Agroindustrial dos Viticultores (Coaviti) e produzem o vinho Coaviti que já se encontra no mercado.
Desenvolvido pela Emater, o projeto, que resultou na produção da bebida, dispõe de recursos dos governos do Estado, federal e municipal. Com 12 tanques de aço inoxidável, a vinícola tem capacidade de produzir 30 mil litros de vinho por ano nas variedades de uva Isabel, Bordô, Vênus, Niágara, Itália e Rubi. No futuro, os cooperados pretendem construir sede e produzir outros produtos derivados da uva.
Com registro no Ministério da Agricultura, o vinho Coaviti começa a ser comercializado e concretiza um sonho dos produtores. Segundo a agrônoma Silvia Capelari, da Emater do município, muita gente que passava pela cidade achava que havia produção de vinho no local. ?Mas só agora conseguimos a licença e, ao que tudo indica, o sucesso será garantido?, acredita.
Silvia cita o empenho do secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município, Luiz Carlos Stéfano; do prefeito Humberto Amaro Feltrin, dos viticultores, da Emater e outros órgãos que não mediram esforços para fazer o projeto virar realidade. A agrônoma diz que Marialva tem condições de produzir até 60 mil litros de vinho por safra com sobra da colheita. A tendência, no entanto, é que os produtores comecem a cultivar uva específica para vinho (DO).