Um ano do Museu da Língua Portuguesa

Prosa, poesia, romance, novela. De Carlos Drummond a Guimarães Rosa. De Gregório de Mattos a Arnaldo Antunes. Um museu sem obras ou esculturas. Um museu de palavras. As que formam o nosso idioma, o brasileiro. Um empório semântico. Uma espécie de secos e molhados da língua portuguesa. Assim, à vontade, feito para quem sabe ler e para quem só sabe falar. Ou, ainda, para quem prefere só escutar. Dedicado a um idioma formoso e gentil (só nós temos a palavra saudade), mas às vezes confuso e desvairado (alguém já ouviu ou disse dar-se-ia?). O visitante fica embasbacado, sem nenhuma palavra.

O museu completa um ano com o recorde de 580 mil visitantes. O fascínio se explica. São três andares de algo que ninguém nunca viu em lugar nenhum: um ambiente que explica, comenta e interage para contar a história de um idioma. Custou R$ 37 milhões e três anos. Um vídeo de 10 minutos sobre a origem da linguagem e das línguas é exibido a cada hora. Ele deve ser o ponto de partida da visita.

Fuxico. Capim. Axé. Jabuti. Xodó. Caju.

Em seguida, mais 20 minutos dentro de um anfiteatro que parece um planetário de palavras. Muitas projetadas no teto, nas paredes, no chão. Aparecem textos e frases de Euclides da Cunha, Vinícius de Moraes, Machado de Assis, Noel Rosa e até do conterrâneo Fernando Pessoa. Tudo embalado por música e sons. No princípio, o mantra ?penetra surdamente no reino das palavras? é entoado umas 30 vezes na voz de Arnaldo Antunes. Fica-se quase em transe. São muitas expressões, termos e vocábulos luminosos e únicos, originados de uma mescla sofisticada dos falares africano e indígena.

Interação ajuda a conhecer a história do idioma.

O museu fica dentro da Estação da Luz, em São Paulo. No segundo andar, você realmente se sente em uma estação de trem. Um telão de 106 metros de comprimento atravessa o edifício histórico. Nele, são projetados filmes que demonstram a importância da linguagem. Sem ela escrita ou falada como seria o Carnaval? A música? A culinária? O futebol? O meio? A mensagem? A receita médica? O cinema? A internet? Este jornal?

Lengalenga. Beleléu. Maracutaia.

A parte de que os turistas, pelo menos os brasileiros, mais gostam: as palavrinhas acima – em destaque – existem e são consideradas CORRETAS dependendo do lugar em que você está ou com quem está falando. Um painel interativo explica a diferença entre o Português Brasileiro Popular e o Culto. Segundo os especialistas do museu, quem fala o português popular não fala de forma errada, apenas de acordo com o meio social em que vive. ?Falar errado é não se fazer entender em seu meio ou usar uma variedade inadequada para o ambiente em que o falante se encontra?, explica o professor Ataliba de Castilho, num dos vídeos à disposição do visitante. Ou seja, se a gente liga para alguém na roça falando ?Vossa Excelência estaremos chegando amanhã de automóvel?, o caipira somos nós! É divertido à beça. Para comemorar o primeiro ano de funcionamento, o Museu da Língua Portuguesa expõe a vida e a obra de Clarice Lispector, depois de 30 anos da morte da escritora. É a exposição ?Clarice – A Hora da Estrela?, que substituiu a mostra ?Grande Sertão Veredas?, uma homenagem à obra-prima de Graciliano Ramos.

Serviço – O museu situa-se na Estação da Luz, Praça da Luz, 1 São Paulo. Funciona de terça a domingo, das 10h às 18h (última entrada permitida às 17h). Ingressos: R$ 4 (estudante paga meia-entrada). Menores de 10 anos e professores da rede pública têm entrada livre.

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