Essa nova visão se apóia, muito mais que na venda de belezas naturais ou artificiais, na criação e oferta de novos produtos, com custos compatíveis com o segmento econômico a ser atingido, com qualidade adequada e com divulgação apropriada, tanto para o mercado interno quanto externo, buscando garantir a consolidação de um espaço próprio importante na matriz produtiva nacional, e incorporando o conceito de sustentabilidade.
O alcance amplo do segmento turístico torna-o atrativo sob todos os aspectos de avaliação que se quiser. Do ponto de vista econômico, a profissionalização permite fluxos de investimentos compatíveis com um retorno adequado, permite a identificação de formas de financiamento viáveis, identifica estruturas de custos mais precisas e capazes de projetar retornos com precisão. Os segmentos rurais e de aventura têm trazido uma contribuição importantíssima para a viabilização da pequena propriedade rural e mesmo para as maiores, gerando renda na entressafra e expandindo, de forma moderada, a ocupação de mão-de-obra, com menor qualificação. Isto, num mundo globalizado e dependente de inovações tecnológicas contínuas, que desemprega milhares de pessoas e emprega algumas centenas, dentre as mais qualificadas, caracteriza o setor turismo como uma atividade própria para o desenvolvimento de políticas públicas afirmativas.
Do ponto de vista social, o turismo apresenta resultados ainda mais significativos, seja um enfoque de relações humanas, seja de saúde e de educação. A atividade turística desenvolve no seio da sociedade comportamentos dignos, que vêm sendo perdidos face à urbanização acelerada, ao desemprego e ao culto de uma visão da violência de forma extremamente permissiva. O relacionamento humano cortês e respeitoso é um pré-requisito do empreendimento turístico e ajuda no resgate dessas qualidades para a vida em sociedade.
Do ponto de vista governamental, o setor turístico não exige nada de forma adicional, àqueles que já são obrigações governamentais. Ou seja, prover infra-estrutura adequada, saúde, educação, segurança e proteção ao meio ambiente. Existindo recursos adicionais, pequenas ações de incentivo ao empreendedorismo, à qualificação de pessoas, divulgação, difusão de experiências de sucesso são suficientes para alavancar o sucesso de centenas de pequenas iniciativas. Isso para não falar de repercussões muito positivas nos cuidados com o nosso patrimônio cultural e histórico.
Destacar a necessidade de priorizar o setor no ânimo das políticas públicas, com um instrumento efetivo de geração de rendas e empregos seria até desnecessário, o importante é que o setor público atue com um mínimo de competência, nas suas grandes tarefas, provendo infra-estrutura e segurança, por exemplo, e também nas suas pequenas tarefas, incentivando pequenos empreendedores e comunidades que identificaram potencialidades e as estão desenvolvendo. O turismo não faz parte dos problemas que a administração pública tem a obrigação de enfrentar com competência, faz parte da solução.
Herbert Age é professor na Universidade Federal do Paraná.