O setor de turismo no Brasil, tão incompreendido e vítima de falsas promessas, começa a ser visto por um novo prisma no ambiente geral de negócios. A profissionalização do setor, derivada da atuação da Academia – em que pese a qualidade ruim de ensino de parcela das instituições voltadas para a área e as deficiências próprias de um novo ramo de conhecimento que busca um aperfeiçoamento científico – tende ao desenvolvimento do que se pode chamar de turismo de resultados ou turismo por objetivo.

Essa nova visão se apóia, muito mais que na venda de belezas naturais ou artificiais, na criação e oferta de novos produtos, com custos compatíveis com o segmento econômico a ser atingido, com qualidade adequada e com divulgação apropriada, tanto para o mercado interno quanto externo, buscando garantir a consolidação de um espaço próprio importante na matriz produtiva nacional, e incorporando o conceito de sustentabilidade.

O alcance amplo do segmento turístico torna-o atrativo sob todos os aspectos de avaliação que se quiser. Do ponto de vista econômico, a profissionalização permite fluxos de investimentos compatíveis com um retorno adequado, permite a identificação de formas de financiamento viáveis, identifica estruturas de custos mais precisas e capazes de projetar retornos com precisão. Os segmentos rurais e de aventura têm trazido uma contribuição importantíssima para a viabilização da pequena propriedade rural e mesmo para as maiores, gerando renda na entressafra e expandindo, de forma moderada, a ocupação de mão-de-obra, com menor qualificação. Isto, num mundo globalizado e dependente de inovações tecnológicas contínuas, que desemprega milhares de pessoas e emprega algumas centenas, dentre as mais qualificadas, caracteriza o setor turismo como uma atividade própria para o desenvolvimento de políticas públicas afirmativas.

Do ponto de vista social, o turismo apresenta resultados ainda mais significativos, seja um enfoque de relações humanas, seja de saúde e de educação. A atividade turística desenvolve no seio da sociedade comportamentos dignos, que vêm sendo perdidos face à urbanização acelerada, ao desemprego e ao culto de uma visão da violência de forma extremamente permissiva. O relacionamento humano cortês e respeitoso é um pré-requisito do empreendimento turístico e ajuda no resgate dessas qualidades para a vida em sociedade.

Do ponto de vista governamental, o setor turístico não exige nada de forma adicional, àqueles que já são obrigações governamentais. Ou seja, prover infra-estrutura adequada, saúde, educação, segurança e proteção ao meio ambiente. Existindo recursos adicionais, pequenas ações de incentivo ao empreendedorismo, à qualificação de pessoas, divulgação, difusão de experiências de sucesso são suficientes para alavancar o sucesso de centenas de pequenas iniciativas. Isso para não falar de repercussões muito positivas nos cuidados com o nosso patrimônio cultural e histórico.

Destacar a necessidade de priorizar o setor no ânimo das políticas públicas, com um instrumento efetivo de geração de rendas e empregos seria até desnecessário, o importante é que o setor público atue com um mínimo de competência, nas suas grandes tarefas, provendo infra-estrutura e segurança, por exemplo, e também nas suas pequenas tarefas, incentivando pequenos empreendedores e comunidades que identificaram potencialidades e as estão desenvolvendo. O turismo não faz parte dos problemas que a administração pública tem a obrigação de enfrentar com competência, faz parte da solução.

Herbert Age é professor na Universidade Federal do Paraná.

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