A mídia ainda não despertou para a importância do turismo como indústria e como um fator de desenvolvimento cultural. Esta é a opinião do jornalista Carlos Heitor Cony, que ministrou a palestra “O Jornalista e a realidade turística nacional”, tema central do 19.º Congresso Nacional da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo (Abrajet), ocorrido na semana passada, em Foz do Iguaçu (PR).
Para Cony, os suplementos de Turismo dos jornais brasileiros não estão integrados à ideologia do veículo de comunicação a que pertencem. “Eles não são considerados como parte nobre do jornal, são vistos somente como rentáveis comercialmente, diferente do que acontece no exterior”, comentou. “O turismo deveria estar no primeiro caderno e ser assunto diário nos jornais”, complementou.
O jornalista, que pertence ao conselho editorial do jornal Folha de S. Paulo e é membro da Academia Brasileira de Letras, considera que o turismo precisa ser visto como um fator de desenvolvimento cultural dos povos. “Conhecendo o mundo que a rodeia, a pessoa se enriquece culturalmente e muda a nação”, disse. “O turismo é visto lá fora como um investimento cultural e não só econômico, por isso o sucesso do turismo na Europa”, citou. Os dois países que mais receberam turistas em 2001 são europeus – a França (76,5 milhões de visitantes) e a Espanha (49,5 milhões).
Carlos Heitor Cony lembra que, assim como o turismo, as notícias referentes à economia e ao esporte antigamente não eram vistas com relevância pela imprensa. “Economia era apenas uma coluna no final do jornal, hoje, diariamente, todos os jornais têm o seu caderno de economia”.
O jornalista considera ainda que o turismo interno é muito pequeno e malfeito. “Tudo é muito desorganizado ainda, falta seriedade e coisas essenciais como, por exemplo, pontualidade e que os pontos turísticos estejam abertos nos fins de semana para visitação”, disse ele, relatando uma visita ao Maranhão, onde um importante ponto estava fechado em um sábado.
Para Cony, o maior desafio da imprensa especializada em turismo é escrever sobre um destino, mostrando-o de forma atraente para os visitantes, sem deixar de retratar sua realidade e também de ser crítica. “É preciso que os jornais cobrem a abertura de pontos turísticos e museus nos fins de semana, que os serviços funcionem pontualmente e que os serviços prestados pelas agências de viagens sejam melhorados”, frisou.
A profissionalização do setor e a continuidade dos eventos são fundamentais para que o turismo seja percebido como relevante pela sociedade. “Se o turismo tiver seriedade e continuidade como o esporte que, em quatro e quatro anos faz um campeonato mundial, a imprensa vai abrir os olhos para este veio antiquíssimo”, enfatizou.
Abrajet premia trade turístico
Jornalistas especializados da área de Turismo de mais de vinte Estados brasileiros e países como Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai estiveram reunidos em Foz do Iguaçu, durante a 19.ª edição do Congresso Nacional da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo (Abrajet), realizado pela Abrajet-PR entre os dias 12 e 16 de junho, no hotel Bourbon Cataratas. Além de discutir o tema central do encontro “O jornalista e a realidade turística nacional”, o evento foi marcado pela entrega do Troféu Cataratas aos melhores do turismo em 2001, ocorrida no hotel Tropical. Receberam o prêmio Herculano Iglesias, ex-presidente da Abih Nacional (personalidade do ano); Alceu Vezozzo Filho, da rede Bourbon (hoteleiro); Mabu Thermas & Resort (hotel); Bruno Ferraz, do Tropical Cataratas (gerente de hotel); Cassinotur (agência de viagem receptivo); BRT (operadora do ano); Vasp (transportadora aérea); Sulamericana (transportadora terrestre); Cataratas do Iguaçu S/A (empreendimento turístico) e Salão Profissional de Turismo do Paraná/Abav (evento do ano). Além disso, a Abrajet homenageou o Macuco Safári, importante atrativo turístico de Foz do Iguaçu.
Nova diretoria
Com o fim do congresso, foi concluída também a gestão do jornalista paranaense Júlio Cézar Rodrigues na presidência nacional da entidade. Durante o evento, foi eleito para o cargo o jornalista Cláudio Magnativa, que estará à frente da Abrajet no biênio 2002/2004. Magnavita, filiado à Abrajet-RJ, assume com a intenção de valorizar o jornalista de turismo e posicionar a entidade como grande fórum do turismo brasileiro. Ele destacou o Paraná como exemplo de profissionalismo e pretende dar continuidade aos avanços conseguidos pelo ex-presidente da entidade. “Júlio Cézar Rodrigues cimentou sua gestão com avanços sólidos, atuando em sua reorganização e normatização”, enfatizou.
Paraná quer ampliar oferta turística
O grande desafio do Paraná é ampliar sua oferta de destinos turísticos, transformando o potencial turístico do Estado em um produto vendável a visitantes. A informação foi dada pelo diretor de marketing da Paraná Turismo, Aldo César Carvalho, em palestra ministrada durante o congresso da Abrajet, em Foz do Iguaçu. “Salto do Vau, por exemplo, em União da Vitória, é um potencial do Estado mas não é um produto como Cataratas do Iguaçu, em Foz”, explica. Além disso, o Paraná pretende aumentar o número de turistas e o seu tempo de permanência no Estado.
Foz do Iguaçu é o principal destino turístico do Paraná e o mais divulgado no exterior. Capital da Costa Oeste, Foz deverá ser atrelada a novos produtos para que o turista que vem de outros países tenha a oportunidade de conhecer mais lugares e fique por mais tempo no Estado. Para divulgar os vários atrativos, o Paraná tem participado de eventos nacionais e internacionais.
Foz faz parte também do Corredor do Ecoturismo, que inclui a Amazônia e o Cerrado brasileiro. “A idéia é criar um roteiro de ecoturismo nacional e comercializá-lo no exterior, principalmente Estados Unidos e Europa”, disse Aldo Carvalho.
No ano passado, 5,67 milhões de turistas nacionais e estrangeiros estiveram visitando terras paranaenses, um aumento significativo em relação a 1997, quando o Paraná recebeu 2,70 milhões de turistas. Do total de turistas, 50% eram de outras partes do Estado, 34,6% de outros Estados brasileiros e 16% estrangeiros. Devido às crises que abalaram a economia de diversos países, inclusive a brasileira, houve uma redução no capital inserido pelo turismo. No ano passado, o Estado arrecadou com o turismo US$ 835 milhões, 8,5% do produto interno bruto estadual.
Segundo Aldo Carvalho, uma das ações para transformar as potencialidades em produtos turísticos é por meio do programa nacional de municipalização do turismo. O Paraná está concluindo a última etapa. A intenção é criar possibilidades de desenvolvimento turístico para municípios pequenos. Hoje, 228 cidades paranaenses estão envolvidas no programa. Dessas, 193 têm monitores municipais e estão com a primeira e a segunda fases concluídas. As etapas do programa são a conscientização, a capacitação profissional (formação do fundo e conselho municipal do turismo) e planejamento turístico.