Trade discute mudança no calendário escolar

A interrupção do movimento turístico nas cidades em decorrência do início das aulas, já no começo de fevereiro, é um dos problemas enfrentados hoje pela hotelaria e por outros profissionais do trade como agentes de viagem e operadores, principalmente dos destinos típicos de turismo de lazer. De acordo com a Associação Brasileira das Agências de Viagem – Seccional Paraná (ABIH-PR), este ano, a ocupação no litoral caiu dez pontos percentuais em fevereiro em comparação a janeiro, durante a semana.

Há quem considere que a solução para incrementar o turismo em todo o País seria a existência de dois meses inteiros de férias. No Brasil isso não acontece, já que os estudantes que necessitam de recuperação para passar de ano têm aulas até quase meados de dezembro e as aulas do ano seguinte começam no início de fevereiro, sobrando somente janeiro inteiro para as habituais viagens. Isso acontece para as famílias com filhos, sejam eles pequenos ou adultos, já que ocorre o mesmo nas faculdades e universidades. O resultado é a superdemanda turística no período de 26 de dezembro a 26 de janeiro e uma queda abrupta depois desse período.

Com o intuito de mudar esse cenário, estendendo o fluxo turístico até o final de fevereiro, o secretário de Turismo de Balneário Camboriú (SC) está sugerindo a mudança de calendário escolar em todo o País. Lá, há um decréscimo de cerca de 40% do volume de turistas brasileiros no segundo mês do ano, uma lacuna que é preenchida pelos estrangeiros.

Na cidade, que é o mais freqüentado balneário catarinense, a alteração do calendário já foi feita, tanto nas escolas públicas e particulares quanto nas universidades e, hoje, as férias abrangem janeiro e todo o mês de fevereiro. ?A solução é simples. Basta uma ação do governo federal para alterar a Lei número 9394/96, por intermédio do Ministério da Educação, estipulando um período fixo de férias escolares no Brasil durante os meses de janeiro e fevereiro, continuando a cumprir o Artigo 24 do Capítulo 2 da lei que determina a carga horária mínima anual de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver?, sugere Osmar Nunes.

Além de beneficiar o trade, com alta ocupação hoteleira por mais tempo, venda de um número maior de pacotes e passagens aéreas por parte das operadoras e agências e fluxo mais intenso nos restaurantes, o secretário considera benéfico também para o turista que não vai encontrar grandes lotações nos destinos nem congestionamentos nas rodovias, já que o fluxo turístico seria melhor distribuído no período de dois meses.

Para Joel Duarte, presidente da Abav-PR (Associação Brasileira das Agências de Viagem – Seccional Paraná), é inegável que o turismo nacional seria mais intenso se as férias fossem estendidas até março, além das duas semanas em julho. ?Os filhos em idade escolar empatam os pais que não podem viajar a qualquer época do ano?, comenta.

Por isso, Joel é favorável que houvesse uma mudança no calendário escolar e as férias acontecessem em dois meses inteiros, preferencialmente janeiro e fevereiro, já que, em dezembro, muitos estudantes seguem com aulas até a metade do mês e muitas pessoas preferem passar o Natal em casa, com a família, para só depois viajar. ?Só que é preciso vontade política. O Poder Público tem que ter consciência de que isso vai gerar um bem que vai se expandir por todo o País, afinal, o turismo é um grande elemento de desenvolvimento de emprego e renda?, afirma.

A diretora de Turismo de Curitiba, Juliana Vellozo Almeida Vosnika, também considera que a adequação de um período fixo de férias seria um fator importante para estruturar o turismo de forma sustentável. ?Os benefícios seriam realmente significativos e afetariam o turismo em Curitiba, pois o turista nacional corresponde a 93% do fluxo anual?, considera.

Juliana informa que a Diretoria de Turismo de Curitiba, em parceria com a Paraná Turismo, está planejando ações que visam divulgar a capital no interior do Estado. ?Uma decisão de âmbito estadual ou federal para alterar o calendário escolar iria reforçar esta campanha de promoção da capital e de sua Região Metropolitana nas cidades paranaenses e também nas outras brasileiras?, acredita.

Beto Carrero

A ABIH Nacional pretende ampliar e reforçar a campanha que já vem realizando a favor da unificação do final das férias escolares para depois do Carnaval. Mês passado, o presidente da entidade, Luiz Carlos Nunes, pediu o apoio do empresário Sérgio Murad, o Beto Carrero, proprietário do Parque Beto Carrero World, em Penha (SC), através da mídia, visando encampar uma campanha de âmbito nacional.

O presidente da ABIH-PR, Hercílio Struck, comenta que esse assunto é antigo. Há alguns anos, a entidade defendeu sua posição favorável à mudança do período das férias escolares, inclusive para o secretário de Turismo do Estado. ?O ideal seria que as aulas começassem após o Carnaval. Este ano, depois do dia 9 de fevereiro, o litoral ficou vazio, as crianças e adolescentes estudaram só uma semana e depois tiveram mais uma semana de tempo parado. Isso vai contra a adaptação dos próprios estudantes, além de prejudicar o setor?, considera.

Há quem discorde

A idéia da mudança de calendário não é bem-vinda para todo o trade. Para o presidente do Curitiba Convention & Visitors Bureau, Marco Antônio Fatuch, a proposta não seria interessante para Curitiba, já que a cidade é um importante destino de turismo de negócios e não de lazer. ?Isso não é viável. Hoje os dois piores meses do ano para a capital são janeiro e fevereiro, porque o povo que viaja nesta época quer praia e nós não temos?, enfatiza.

Ele comenta ainda que o fato de o Carnaval ter sido somente no final de fevereiro foi ruim para Curitiba, que é uma cidade procurada principalmente para a realização de eventos e negócios. ?Aqui nós não temos mais aquele turismo de família no verão. As pessoas procuram o Sul para passear nos meses de inverno?, diz.

O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Curitiba e Região Metropolitana, Emerson Jabur, também considera que o calendário deve continuar como está. ?Existe a necessidade de cumprir o calendário escolar e as cidades não podem ficar esperando o feriado de Carnaval para depois dar início às suas atividades?, diz. ?Nossos hotéis e restaurantes são beneficiados com a movimentação dessas famílias?, complementa.

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