O governo norte-americano começou a sofrer ontem um bombardeio de protestos de vários segmentos da indústria do turismo, da imprensa, das universidades e até mesmo da própria Câmara de Comércio dos Estados Unidos, contra os obstáculos que vêm criando à entrada de estrangeiros no país. O prejuízo, segundo cálculos preliminares, poderia superar os US$ 100 bilhões anuais.
Washington – Em seu principal editorial de quarta-feira, o jornal Miami Herald, editado numa das cidades mais prejudicadas pelas novas medidas, sugeriu ao governo que encontrasse uma forma de proteger o país contra o terrorismo sem afugentar os visitantes estrangeiros. “Não há dúvida de que é um imperativo nacional evitar que terroristas entrem nos EUA. Mas proteger a nossa economia também é”, dizia um trecho do artigo intitulado “Mordendo os visitantes que nos alimentam”.
Segundo o jornal, seria preciso no mínimo expandir o número de consulados: “No Brasil, por exemplo, que é uma das nossas maiores fontes de turismo, há apenas quatro consulados emitindo vistos. Em vez de sofrer inconveniências e atrasos para obter um visto para os EUA, os brasileiros poderão ir para outro país”, dizia ainda o editorial.
Randel K.Johnson, vice-presidente da Câmara de Comércio dos EUA, também se queixou da obrigatoriedade de que visitantes tenham de passar por uma entrevista para obter um visto de entrada nos EUA, ou apenas para fazer uma conexão aérea neste país: “Não devemos fechar esse conduto de viagens que traz US$ 70 bilhões por ano à nossa economia”, disse ele.
O prejuízo é ainda maior quando se adiciona o dinheiro que universidades norte-americanas e escolas de inglês começam a perder porque estudantes estrangeiros estão procurando outros países. Só os cursinhos de inglês de verão faturam US$ 13 bilhões anuais com tais alunos. A queda deste ano já chega a 50%. Nas universidades o índice de estrangeiros teve uma redução de 20%.
“A indústria de viagens e de turismo dos EUA está alarmada com o fato de o governo estar criando novas e onerosas exigências, tanto em relação a entrevistas para se obter um visto não imigratório quanto à de se possuir um passaporte que possa ser lido por nossos computadores”, diz um manifesto da Travel Industry Association of America (TIA).
A entidade se refere aos custos adicionais impostos aos turistas, que em seus países agora precisam viajar até uma cidade onde haja um consulado americano. E também ao fato de que a partir de outubro os visitantes de 27 países, a maioria europeus, que hoje não necessitam visto, terão de chegar aos EUA com um passaporte como o dos norte-americanos.
Ou seja: os dados pessoais do seu portador têm que estar registrados tanto em suas primeiras páginas, quanto numa faixa magnética que possa ser lida pelos computadores do Serviço de Imigração. Quem não tiver um documento desse tipo será obrigado a solicitar um visto.
“Estamos muito preocupados, porque os passaportes da Espanha não contêm esse mecanismo. O governo está providenciando uma mudança, mas não sabemos se conseguirá isso até aquele prazo”, disse Margarita Blanco, porta-voz da companhia aérea Ibéria.
Visto de trânsito já está em vigor
Desde o dia 2 de agosto de 2003, brasileiros que viajarem para algum país, com passagem pelos Estados Unidos, deverão solicitar visto de trânsito para os Estados Unidos, independentemente das horas de permanência em solo norte-americano. É que foram suspensos os programas, conhecidos como “Transit Without Visa – TWOV” (Trânsito sem Visto) e programa de trânsito “International-to-International – ITI” (Internacional-para-Internacional). Os procedimentos para obter o visto de trânsito são exatamente os mesmos para obter o visto de turismo, de negócios ou de estudo. A determinação não afeta cidadãos dos Estados Unidos e os oriundos de países isentos de visto.
O Departamento de Segurança Interna instruiu as companhias aéreas a não permitirem que passageiros utilizem esses programas de trânsito. Agências do Departamento de Segurança Interna também estão tomando medidas adicionais para aumentar a segurança de aeroportos e aviões que normalmente processam e transportam passageiros através desses programas.
Tais medidas vêm se somar a aumentos significativos na segurança de aviação implementadas desde 11 de setembro, como o reforço das portas das cabines, a inserção de autoridades federais de segurança nos vôos, aumento do exame federalizado de bagagens e da checagem de passageiros e a colocação de pilotos armados em algumas aeronaves.
O departamento tem a intenção de restabelecer os programas TWOV e ITI assim que medidas adicionais de segurança puderem ser adotadas. Os departamentos de Segurança Interna e de Estado estão solicitando comentários do público sobre essa ação e vão reavaliar a suspensão ao longo dos próximos sessenta dias depois de revisar as respostas.