Resorts reivindicam igualdade com navios

resort.jpgA Resorts Brasil (Associação Brasileira de Resorts), que congrega 33 estabelecimentos, resolveu questionar a concorrência estabelecida com os navios que chegam à costa brasileira nas temporadas de verão. Para a entidade, a concorrência é ?desigual, assimétrica e predatória?. O presidente, Rubens Régis, destaca que não se trata de uma ?guerra? entre resorts e cruzeiros e sim um problema de comércio exterior que precisa ser resolvido. ?Eles vêm para cá e ficam durante três meses por ano, exatamente no verão, e nós, hotéis de lazer que, nesta época fazemos nossa musculatura para agüentar a baixa estação, acabamos ficando sem o miolo do nosso filé mignon?, diz Régis. Ele destacou também que o problema não é com as revendedoras brasileiras e sim com as armadoras internacionais.

A associação já solicitou uma audiência com os ministros do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e da Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, para mostrar sua posição e apresentar propostas. ?Vamos propôr por exemplo que, na área trabalhista, eles (navios) tenham mão-de-obra nacional para que também passem a gerar emprego, como nós?, informa Régis. ?Eles ficam por aqui noventa dias, com mão-de-obra paquistanesa, hondurenha, com contratos de trabalho feito no Haiti, Honduras ou Paquistão, onde não é preciso pagar férias, décimo terceiro, ou seja, não há regulamentação nenhuma. Isso faz uma diferença brutal?, observa.

Rubens Régis: ?É um problema
de comércio exterior?.

Ele destaca duas exceções -a CVC e a Iberostar – que mantêm navios na costa brasileira além da temporada de verão e que têm pessoal contratado no Brasil.

Segundo a associação, os resorts empregam dez mil pessoas, geram quarenta mil empregos indiretos e recolhem R$ 50 milhões de impostos por ano. Um terço das despesas de um resort são referentes à folha de pagamento e 41% desse total são encargos trabalhistas. Um resort com quinhentos funcionários, por exemplo, gasta aproximadamente R$ 250 mil por mês com encargos.

Temporada

Apesar de o turismo estar em expansão, Rubens Régis prevê que a temporada de verão este ano será pior que a do ano passado, com uma queda de 10% no movimento dos resorts. Dois são os motivos apontados pelo presidente da Resorts Brasil: o aumento da oferta de cruzeiros e o dólar em baixa. ?Só não vai ser pior porque os estrangeiros devem suprir parte dessa lacuna deixada pelos brasileiros. Nós estamos trabalhando junto com a Embratur para atrair mais estrangeiros para o Brasil?, comenta. ?Eles deveriam fazer o mesmo, aí sim estariam gerando divisas para o País?, completa.

Rubens, que é diretor comercial do Costão do Santinho, em Florianópolis (SC), informa que os resorts ainda não estão lotados para o período do Réveillon, o que já era comum nesta época do ano. A Resorts Brasil teme o impacto ainda maior se aumentar, ano a ano, o número de navios na costa brasileira. Por enquanto, a previsão da entidade é investir US$ 100 milhões nos próximos três anos e se não aumentar a oferta nos navios, a expectativa é, em cinco anos, aumentar de sete mil para vinte mil o número de quartos nos resorts.

Representantes de navios negam divisão de mercado

Eduardo Nascimento.

A Abrem – Associação Brasileira dos Representantes de Empresas Marítimas criada, durante a Feira das Américas, ocorrida mês passado no Rio de Janeiro, considera que os cruzeiros não estão invadindo o mercado dos resorts. Walter Patriani, da CVC, um dos integrantes da associação, diz que apenas 8% do total de pacotes vendidos pela operadora é para cruzeiros. ?Este ano vendemos 20% a mais de resorts que em 2004?, destaca.

Ele acredita que quem vai optar por cruzeiros são as pessoas que costumam ir para o exterior e que as cidades onde estão os portos têm maior ocupação nos hotéis, já que os passageiros também se hospedam nas cidades, dependendo do percurso dos navios.

O presidente da Abrem, Eduardo Nascimento, informa que, na temporada 2005/2006, os navios, juntos, vão pagar US$ 10 milhões de impostos. A previsão é a de que os cerca de duzentos mil passageiros e tripulantes deixem no País US$ 70 milhões, sendo 20% somente na cidade de Búzios (RJ).

O empresário considera que o mercado é muito grande e que há espaço para todo tipo de modalidade turística. ?O que é preciso é sempre criar produtos atrativos?, destaca. Ele lembra que o mesmo aconteceu no Caribe há alguns anos; o governo acatou a reclamação dos hotéis e a ocupação caiu muito. ?Em relação à questão trabalhista, a reclamação tem que ser feita com o presidente Lula, que prometeu a reforma e até agora não foi feito nada?, cutucou.

Nascimento disse que os navios também são responsáveis pela atração de estrangeiros, já que este ano trarão 37 mil turistas de diversos países e  para trazer mais, é preciso melhorar a estrutura de recepção nos portos do País. ?Os portos ainda estão precários, Santos, que é o principal,  está na terceira reforma, mas os outros não estão fazendo nada?, comentou.

Acomodação de mercado

Para Márcia Chiota, diretora de Marketing e Vendas da MSC Cruzeiros, o cruzeiro marítimo veio para ser mais uma opção para o turista. Ela acredita que a maior concorrência dos resorts acontece entre eles mesmos e não com os navios e que a tendência é que haja uma acomodação no mercado. ?Há espaço para todo mundo, eles (os resorts) estão aqui o ano todo, por isso, têm até mais condições de manter uma fidelidade com a clientela do que os navios, que só estão aqui no verão?, disse Márcia.

Ela comentou ainda que os navios, quando chegam aqui, são nacionalizados, ou seja, recolhem todos os impostos sobre o que se vende dentro do País e também os trabalhistas, conforme acordo firmado com o Ministério do Trabalho. ?Há uma diferenciação de contratos de trabalhos de brasileiros que têm contrato internacional porque trabalham o ano todo no navio, seja no Brasil ou fora, e aqueles que trabalham aqui só na temporada de verão, para os quais é pago tudo que a legislação brasileira exige?, afirmou. Márcia disse que os navios não continuam na costa brasileira depois do verão porque precisam atender a demanda na Europa, a partir de abril.

A Associação Brasileira dos Representantes de Empresas Marítimas é formada por CVC Cruzeiros, Costa Cruzeiros, MSC, Sun&Sea, ITR, Queensberry, Pier One e Discovery. O mercado de cruzeiros no Brasil triplicou desde 1999 para cá. Na temporada 1999/2000 registrou cinqüenta mil passageiros; na temporada passada já eram 161 mil e na próxima (2005/2006), 230 mil pessoas devem viajar com os nove navios que estarão na costa brasileira. (DS)

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