Sexta-feira, dia 26 de dezembro, hora do almoço. A expedição já enfrenta o quarto dia seguido de chuva. Quando o tempo está ruim, fica mais difícil pegar carona, pois os motoristas parecem não gostar de acolher quem está na beira da estrada ensopado pela chuva. Para piorar, começou a alta temporada, época em que as estradas são invadidas por turistas em direção às praias e que quase nunca oferecem carona. Mas nada disso impede de continuarmos nossa aventura. Saímos de Paraty caminhando em direção ao trevo da cidade.
Logo um carro de passeio encosta. O motorista se chamava José Isaac, advogado que trabalha em São Paulo, mas mora em Niterói. Estava voltando para casa e ao mesmo tempo passeando pelas praias. Fomos com ele até Angra dos Reis, onde embarcaríamos para a Ilha Grande. Angra dos Reis é ponto de partida para os passeios de barco nas mais de 300 ilhas da região. Nelas ficam várias mansões de ricos e famosos. Infelizmente, a parte continental da cidade é tomada por favelas. Um fiel retrato da desigualdade social brasileira.
Apesar de todo esse contraste, quem vai para Angra não pode deixar de visitar a Ilha Grande e suas 106 praias. Conta a história que ela foi refúgio de piratas no século XVIII e ponto de tráfico de escravos. Em 1871 foi construído lá um lazareto, abrigo para receber viajantes e imigrantes em quarentena, suspeitos de portarem doenças infecciosas, principalmente lepra. Bem mais tarde, a ilha foi transformada em presídio de segurança máxima e desativado em 1994. O presídio foi a grande arma de preservação da natureza local, pois ninguém ousava visitar essa terra chamada de maldita. Na época da ditadura, o presídio foi abrigo de pessoas ilustres como Fernando Gabeira e Graciliano Ramos. Este escreveu Memórias do Cárcere lá. No mundo do crime quem fez história foi o traficante Escadinha, que protagonizou um fuga cinematográfica, deixando a ilha de helicóptero.
Hoje a Ilha Grande é considerada Área de Proteção Ambiental. Suas praias possuem águas verdes, transparentes e repletas de peixes. A parte voltada para o continente, com águas calmas, é usada para esportes náuticos. Do outro lado, o mar favorece à prática do surfe. Como não entram carros na ilha, existem diversas trilhas, de todos os níveis, que cortam a Mata Atlântica e levam até as praias, atraindo mochileiros de todo o mundo.
Quando desembarcamos na Vila do Abraão, o centrinho da ilha, ainda estava chovendo e nos hospedamos no Albergue do Holandês. No dia seguinte, o sol resolveu aparecer e acabamos migrando para o Camping do Lúcio, que oferece bom preço e ótimas instalações. Fomos atrás dos melhores roteiros de trilhas. Os mais procurados são para as praias de Saco do Céu, Dois Rios, Cachadaço e Lopes Mendes. As mais distantes também podem ser feitas por barcos. Aliás, quem vai para a ilha não pode deixar de alugar um equipamento de mergulho e fazer os passeios de escuna para as Lagoas Verde e Azul.
Lopes Mendes é uma extensa praia de areia muito fina e águas transparentes. É o lugar mais procurado para quem surfa. Mas de Abraão até lá são 2h30 de caminhada com a prancha debaixo do braço. Já Saco do Céu é cercado por mangues e protegido por montanhas. Um santuário ecológico sem ondas e pequenas praias. Depois de 3h de muito suor e sem nenhuma disposição para fazer o caminho de volta, conseguimos usar a proposta da expedição e pegar uma carona de lancha de um marajá até Abraão.
Visual
No dia seguinte foi a vez de conhecer o antigo presídio na praia de Dois Rios e a paradisíaca praia do Cachadaço. Em Dois Rios, um riacho de águas cristalinas acompanha paralelamente a praia até desembocar num canto juntos as pedras. O presídio, que hoje está em ruínas, possuía setores com vista para o mar. Dalí, segue uma trilha muito fechada e exaustiva até Cachadaço, considerada por muitos como uma das praias mais bonitas do Brasil. São apenas 10 metros de areia e enormes costões nos lados. Por ser protegida do mar aberto, era ponto de desembarque de mantimentos e escravos. Do alto das pedras se obtém um incrível visual da praia e da imensidão do mar.
Segunda-feira, dia 29 de dezembro, 17h30. Hora de voltar para o continente. Com a proximidade do réveillon, tudo começa a ficar lotado e caro. Então, resolvemos ir de ônibus até o Rio de Janeiro passar a virada do ano no apartamento da Tatiana, amiga de Anastácia. Fizemos alguns passeios pela cidade, mas nada de carona. No dia 31, fomos acompanhar o famoso réveillon na praia de Copacabana, junto com quase 3 milhões de pessoas.
Na próxima semana você acompanha mais uma parte da aventura de Jeferson e Anastácia. Eles estão conhecendo o litoral do Brasil de carona.
