Os eventos da ONU que acontecem até esta sexta-feira em Curitiba foram o bastante para projetar a capital e o Estado como destinos de eventos no cenário mundial. Um presente de aniversário para Curitiba, que completa hoje 313 anos. O que faltou mostrar aos cerca de seis mil turistas, vindos de mais de 190 países, é o Paraná além dos centros de convenções. Embora abrigue o segundo mais expressivo destino internacional do Brasil – as Cataratas do Iguaçu, ou Iguassu Falls, como elas são conhecidas pelo mundo -, o Estado ainda é pouco explorado pelas pessoas que viajam em busca de lazer e entretenimento. O que pode ocorrer simplesmente por falta de informação.
E não são só os estrangeiros que desconhecem o que o Paraná tem a oferecer. Muitos paranaenses também não sabem que ?logo ali? pode ter um interessante atrativo que vale uma viagem ou um passeio especial de fim de semana.
A região dos Campos Gerais é um exemplo. Está só a oitenta quilômetros de Curitiba e, mesmo assim, é fácil encontrar curitibanos que conhecem o Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa, apenas por foto ou material de promoção turística. Um desperdício. O parque, que é o atrativo número um da principal cidade dos Campos Gerais, é o terceiro produto turístico do Estado e diferencia-se em milênios dos outros dois primeiros – as cataratas de Foz do Iguaçu e o passeio de trem para Paranaguá.
A famosa taça é símbolo do Parque Estadual de Vila Velha. |
Só o parque, com seus 2,8 mil hectares, tem dois atrativos ímpares: os arenitos e as furnas, que são fruto de um trabalho caprichoso da natureza que levou milhões de anos. O terceiro é a Lagoa Dourada que, embora seja um atrativo totalmente diferente aos olhos dos visitantes, tem exatamente a mesma origem das furnas, imensas crateras de cerca de cem metros de profundidade formadas por um processo de erosão. A lagoa chama a atenção pelo tamanho – 320 metros de diâmetro – e por suas águas cristalinas, que permitem avistar com clareza uma grande quantidade de peixes.
Cidade de Pedra
O principal dos atrativos – 23 arenitos que formam uma espécie de selva de pedras gigantes – deixam os turistas literalmente de queixo caído, ao observar tantas formas curiosas ao longo dos 2.671 metros de trilha. É impressionante ver como a ação das chuvas e dos ventos esculpiu formas de camelo, esfinge, noiva, índio, garrafa, gato e, a mais famosa delas, uma taça, que virou símbolo do parque, da região e, muitas vezes, até do Estado. Curioso é ver também os turistas ?descobrindo? novas formas no meio daquelas mais evidentes. Um exercício de imaginação.
No meio da natureza, uma gigantesca garrafa de Coca-Cola. |
O parque, criado em 1950, também pode ser visto como um dos símbolos de um processo incipiente de profissionalização do turismo no Paraná. Há quatro anos fechou as portas para o turismo predatório, proibindo os churrascos, os mergulhos na lagoa e o acesso de carros perto das rochas. É verdade, isso tudo era permitido ali. Na época, Vila Velha foi fechada para reforma e só reabriu em 2004, depois de concluídas obras de saneamento, calçamento de trilhas, centro de recepção, estacionamento, lanchonete e sanitários, um investimento de cerca de R$ 5 milhões. Hoje a visitação é monitorada e limitada. No complexo dos arenitos, por exemplo, são permitidas no máximo 294 pessoas, simultaneamente.
Os visitantes só têm acesso aos atrativos caminhando pelas trilhas e acompanhados por um guia do parque. A preocupação com o impacto ambiental fez também com que, mais recentemente, fosse paralisada a operação do elevador que conduzia os turistas 54 metros para dentro de uma das três furnas. Os guias explicam que a atitude foi tomada porque há suspeita de que as subidas e descidas quase diárias provocavam importante impacto ambiental. Enquanto os estudos no local não são concluídos, o elevador vai permanecer desligado e a probabilidade maior é a de que nem volte a funcionar. Essa é mais uma ação que visa resguardar as características de um dos parques mais importantes do Paraná, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Estadual desde 1966.
Buraco do Padre remete a um cenário de sonho e de aventura
Danielle de Sisti
Loja de souvenirs dentro do parque exibe uma amostra do artesanato paranaense. |
Um dos mais belos pontos de visitação de Ponta Grossa confirma que os maiores atrativos da cidade têm mesmo a mão da natureza. Em meio às terras férteis e ricas em variedade de minerais do distrito de Itaiacoca está o Buraco do Padre, um cenário de sonho que lembra filmes de aventura, sem os habituais personagens em perigo. O acesso é feito pela PR-513.
Como todo tesouro, este também está bem escondido, por isso, o local era o preferido pelos jesuítas que, no passado, viveram na região com o intuito de catequizar os índios. Eles buscavam a furna para meditar e descansar. O hábito dos religiosos fez com que os índios e caboclos começassem a chamar o local de ?buraco do padre?. Essa é uma das explicações que se dá ao nome do recanto.
Recanto resguardado pela natureza, o Buraco do Padre é uma surpresa no cenário fértil de Itaiacoca. |
Além de se situar a 26 quilômetros do centro de Ponta Grossa, incluindo aí um trecho de estrada de pedra, para se chegar à cascata, ápice do passeio, o turista caminha por um trecho bem curto de rio de pedras. Com paciência e uma ?mãozinha? amiga, mesmo idosos e crianças conseguem acessar esse recanto. Não precisa nem dizer que vale a pena. A pequena trilha por dentro do rio faz uma curva, portanto, não se pode avistar o ponto onde se encontra a cascata. Isso gera uma cerca expectativa, que só não é maior do que a surpresa que se tem à primeira vista do cenário.
Qualquer pessoa se deslumbra e é comum ouvir comentários de que o local é mais bonito do que se esperava.
Uma fenda no alto deixa entrar os raios solares que refletem em uma queda d?água. No chão, forma-se um lago de águas cristalinas e de fundo arenoso. Pronto. Cenário perfeito para um banho refrescante. Por isso, é recomendável levar roupas de banho ou aquelas que secam mais facilmente.
A jornalista viajou a convite do Bristol Multy Vila Velha Hotel.
São Jorge é para os mais aventureiros
O Rio São Jorge forma pequenas cascatas ao longo de seu curso, compondo a bela paisagem do complexo. |
A aventura tem lugar em Ponta Grossa no complexo formado pelo cânion e Rio São Jorge, na região norte da cidade, a quinze quilômetros do centro. O local atrai muitos adeptos dos esportes radicais, mas também agrada aqueles que gostam de simplesmente caminhar em meio a diferentes elementos da natureza, como um rio que desliza sobre rochas, pequenas cascatas e muita, mas muita área verde. O rapel é o esporte praticado pelos mais corajosos, que descem os paredões seguros por cordas. Além de adrenalina, conseguem ter uma vista única do cânion e da natureza que o circunda.
Em meio à mata, há também uma grande cachoeira, mas essa não é de fácil acesso como a do Buraco do Padre. A trilha que leva a ela é mais longa e com mais obstáculos – pedras maiores, algumas lisas e escorregadias. Para os que se arriscam pode ser uma aventura, não tão radical como a do rapel, mas prazerosa, pelo contato direto com muita vegetação, água refrescante e ar puro.
Infra-estrutura
O mosteiro beneditino aguça a curiosidade de turistas. Não importa a religião. |
Embora sem grande conforto, o complexo oferece uma infra-estrutura básica para quem quer passar o dia no local, com restaurante, sanitários e estacionamento. O restaurante serve costela assada, arroz, salada, maionese e farofa ao preço de R$ 8 por pessoa. Não é cobrado de crianças com até dez anos.
O cardápio é o mesmo todos os dias da semana. De segunda a sábado, quem quiser almoçar no local deve ligar antes para reservar – telefone (42) 3226-3731. Aos domingos, não há necessidade, já que há sempre turistas por lá e a cozinha, neste dia, está a todo vapor. Há também uma área para camping.
Por ser tratar de uma área particular, o turista tem que pagar para entrar no complexo São Jorge. Uma pechincha: apenas R$ 3 por pessoa e crianças têm entrada liberada. (DS)
Cantos gregorianos ressoam na área rural
Caminhar sem pressa pela imensa área verde, sentindo o ar puro e ouvindo a correnteza do rio já é bom programa. |
Um roteiro turístico em Ponta Grossa pode incluir também a visita a um mosteiro da Congregação Beneditina, fundado em 1981. O interesse pode ou não fugir da questão religiosa. A curiosa rotina diária dos 32 monges que vivem em clausura e, principalmente, a forma tão diferente como são rezadas as missas têm chamado a atenção de pessoas de diferentes credos e religiões. São turistas comuns, atraídos pela curiosidade e magia intensificada pelos cantos gregorianos que ressoam entre salmos.
Quem quiser acompanhar uma das missas, elas acontecem às segundas-feiras, às 17h30 e aos domingos, às 10h. A duração é de uma hora. Além das missas, há também as ?vésperas?, sete momentos de oração que acontecem ao longo do dia e que duram cerca de trinta minutos. Os cantos fazem parte das duas celebrações. O coro dá fama ao mosteiro beneditino. Já foram gravados sete CDs e vendidos mais de trezentas mil cópias. O mosteiro também recebe, para hospedagem, pessoas que precisam de ajuda. Há uma casa destinada somente a esse serviço.
Além do atendimento ao público, as tarefas domésticas e as celebrações, os monges se dedicam também a vários ateliês, produzindo licores, velas artesanais, peças em cerâmica, pinturas e objetos litúrgicos. Os produtos são vendidos em uma pequena loja na área do mosteiro e a renda é destinada a cobrir as despesas do local.
Em 2008, o mosteiro beneditino deve mudar de endereço. No início de junho terão início as obras em uma grande área no belo distrito de Itaiacoca.
Capela Santa Bárbara
O roteiro de turismo religioso de Ponta Grossa compreende também a Capela Santa Bárbara, situada na antiga estrada denominada Peabiru, hoje extinta, na região do Rio São Jorge. Mais antiga capela dos Campos Gerais, foi construída em 1727 e inteiramente restaurada em 2003. (DS)