O frio do inverno ouro-pretano é, paradoxalmente, efervescente. O clima que sobe e desce as ladeiras da cidade histórica mineira aquece memórias, provoca a volta ao passado e dá uma sensação de nostalgia.
Remete a uma época que está incrustada na cultura brasileira. Em julho, o lugar fica ainda mais cheio de vida. É época do famoso Festival de Inverno de Ouro Preto e da vizinha Mariana, que este ano homenageia o movimento musical Clube da Esquina. Tempo de respirar arte.
Do jeitinho mineiro atual à rica história contada pelo casario; da poesia que revelava nas entrelinhas os percalços do cenário político do Brasil colônia aos poemas que tomam conta da cidade em épocas festivas.
A antiga Vila Rica foi palco de importantes feitos. E, acredite, tudo continua lá para ser visitado. Por isso não é exagero dizer que Ouro Preto é uma cidade que tem um passado vivo.
Casarões coloniais, igrejas, museus, as ruas de pedra com suas calçadinhas estreitas. Tudo traduz autenticidade. A Unesco declarou o município Patrimônio Cultural da Humanidade nos anos 80s – o que pode ser explicado por boa parte da cidade consistir num verdadeiro reduto histórico, todo preservado.
Lígia Martoni |
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Detalhe do interior da igreja do Pilar: obra expõe riqueza do chão mineiro. |
Hoje, é desafiador andar pelas ruas centrais, que começaram a ser esboçadas há mais de 300 anos, principalmente nas tardes ensolaradas. O centro cheio de gente – e, pena, de carros também – chama atenção em cada comércio, com seus artesanatos típicos (e com direito a uma feira inteira de utensílios feitos em pedra-sabão); em cada restaurante (e tem um mais aconchegante que o outro); em cada república estudantil.
Ouro Preto é atualmente uma famosa cidade universitária e, por isso, é comum ver “bichos”, como são chamados os calouros, andando pra lá e pra cá pelas ruas com adereços hilários. Não se assuste ao cruzar com um deles. Os estudantes dão o toque que quebra a seriedade do passado.
Igrejas
Parte do casario da Rua Direita e a Catedral Basílica da Sé, em Mariana: igreja abriga um raríssimo órgão. |
Os monumentos de Ouro Preto são marcados pelo perfeccionismo das esculturas de Aleijadinho e Manoel da Costa Athaíde. Entre nas centenárias igrejas barrocas e veja a riqueza do chão mineiro exposta nos altares.
Há várias (veja quadro), mas não perca a do Pilar (Praça Monsenhor Castilho Barbosa, bairro Pilar), que guarda no porão um pequeno museu com artefatos católicos. Confesso. É um pouco assustador, mas vale a pena.
Se quiser ir um pouco mais longe do centro, a do Rosário dos Brancos (Rua Padre Faria, s/n.º), embora pequena e de fachada singela, é uma das que possuem o altar mais rico e imponente.
Era frequentada pela elite ouropretana no período colonial. Há ainda a do Rosário dos Pretos (Largo do Rosário), antigamente reservada aos escravos. Nela, o misto de elementos católicos aos das religiões africanas evidencia como os negros nunca deixaram de lado suas crenças.
Lígia Martoni |
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Uma feira inteira dedicada ao artesanato de pedra-sabão – com direito a cenário espetacular de fundo. |
Festival de Inverno homenageia os músicos do Clube da Esquina
“Da janela lateral, do quarto de dormir. Vejo uma igreja, um sinal de glória…” O típico retrato das cidades históricas de Minas Gerais, descrito nos versos de Paisagem da janela, de Lô Borges e Fernando Brant, evidencia a inspiração da turma do Clube da Esquina.
Prova de que uma cidade não é feita apenas de mártires. É feita também de uma tradição cultural envolvente. A música mineira tem raízes próprias. Daí a escolha da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) – que organiza o Festival de Inverno desde 2004 – em homenagear este ano o Clube da Esquina, grupo que, na década de 60, fez surgir um movimento que mudaria para sempre a história da música brasileira.
O festival começa hoje e vai até o próximo dia 26. Considerado um dos maiores do País, se destaca pela diversidade de atrações que traduzem as formas de manifestação artística locais, nacionais e até de outros países.
A programação de arte integrada inclui atividades gratuitas, oficinas, exposições e shows. Destaque este ano para a carioca Beth Carvalho, que abre o evento. Outros grandes nomes da música popular brasileira também estarão presentes, entre eles, claro, a turma do Clube da Esquina (Milton Nascimento, Lô Borges e Beto Guedes), além de Márcio Galvão, Marina Machado e Daniel Gonzaga.
O Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana foi realizado pela primeira vez em 1955, organizado por um grupo de professores da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O objetivo dos organizadores era levar arte à coletividade. Em 1968, apesar da ditadura militar, o evento teve sua edição consolidada. A partir de então, passou a ser um canal que possibilita discussões e reflexões sobre arte e sociedade em geral. Informações: www.festivaldeinverno.ufop.br.
Em Mariana, o segundo Arp Schnitger do mundo
Assim como Ouro Preto, Mariana também é destaque do chamado Circuito Histórico de Minas Gerais – com fama e prestígio internacionais. Foi a primeira capital do estado e fica a apenas 15 quilômetros de Ouro Preto.
Com 313 anos, é uma obra-prima, com várias traduções, olhares e grandes desafios; guarda uma história marcada por descobertas, sonhos de fortuna, pela força da fé e da arte.
Quem visita Mariana se encanta não só com museus, casario bem preservado, a mina de ouro ou a maravilhosa arquitetura das igrejas seculares, mas também com um raro tesouro musical, que há mais de 250 anos encontra-se muito bem protegido na Catedral da Sé: o órgão alemão Arp Schnitger.
Construído em 1701, é um dos dois únicos órgãos da manufatura em funcionamento no mundo. O antigo Arraial de Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão do Carmo também conserva tesouros barrocos: igrejas, sobrados e casarões em ruelas estreitas e tranquilas.
A região ainda é privilegiada pelas belezas naturais. Cachoeiras, parques naturais e paisagens de montanha, com flora e fauna variadas, garantem bons passeios ecológicos.
Histórias e lendas nos museus e minas da antiga Vila Rica
Antônio Laia |
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Museu da Escola de Minas abriga pedras preciosas de todos os tipos, formas e cores. |
Ouro Preto é toda cortada por antigas minas de ouro, e cheias de lendas. A do Chico Rei (Rua Dom Silvério, 108 A) é uma delas, e fica no centrinho. Conta a história do rei africano, que, trazido ao Brasil como escravo, trabalhou de tal forma até conseguir comprar a mina, após sua alforria.
Extraiu dela tanto ouro que libertava seus súditos, virando um símbolo de liberdade. Outra que vale a pena conhecer é a Mina Velha, conhecida também como de Santa Rita (Rua Santa Rita, 21).
Prepare-se para ouvir os relatos que revivem o dia-a-dia angustiante dos escravos. Também vá à Mina da Passagem, localizada no distrito de mesmo nome, no caminho entre Ouro Preto e Mariana. É gigante.
A entrada se dá em um autêntico car,rinho usado pelos mineiros quando o local era explorado e leva o visitante a uma profundidade de 120 metros. Nas paredes, ainda dá para ver bastante ouro de tolo.
E, claro, não perca os museus. O da Inconfidência (Praça Tiradentes, 139, Centro) conta sobre um dos momentos históricos mais importantes do País. É ali que fica também o panteão, onde jazem os restos mortais dos inconfidentes.
De frente para ele, do outro lado da praça, está o museu da Escola de Minas, um verdadeiro tesouro de mineralogia que guarda pedras preciosas de todos os tipos, formas e cores. Deslumbrante.
Um detalhe: ali funcionava a antiga sede do governo mineiro. Repare que, entre os dois prédios, fica o monumento que é marca da cidade, com a estátua de Tiradentes de costas para a Escola de Minas.
Um sinal do desprezo do mártir da inconfidência – que teve bem naquele local a cabeça exposta após sua execução, em 1792 – pelo poder político vigente na época.
Não perca em Ouro Preto
Igrejas
Igreja São Francisco de Assis
Funcionamento: terça a domingo, das 8h30 às 11h45 e das 13h30 às 16h45
Ingresso: R$ 6 (inteira)
Igreja Nossa Senhora da Conceição – Museu do Oratório e Museu do Aleijadinho
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 19h45 e das 12h às 16h45
Ingressos: o ingresso utilizado na Igreja São Francisco dá acesso a esta Igreja
Igreja Nossa Senhora do Pilar
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 10h45 e das 12h às 16h45
Ingressos: R$ 5 (inteira)
Igreja Nossa Senhora do Carmo
Funcionamento: terça a domingo, das 13h às 17h
Ingressos: R$2 (inteira)
Museus
Museu da Inconfidência
Funcionamento: terça a domingo, das 12h às 17h30
Ingressos: R$6 (inteira)
Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas (UFOP)
Funcionamento: terça a domingo, das 12h às 17h
Ingressos: R$ 5
Museu do Oratório
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 17h
Ingressos: R$2 (inteira)
Casa dos Contos
Funcionamento: às segundas, das 14h às 18h, e de terça a domingo, das 10h às 18h
Ingressos: R$1 (inteira)
Teatro Municipal Casa da Ópera
Funcionamento: 12h às 17h
Ingressos: R$2 (inteira)
Conheça em Mariana
• Catedral de Nossa Senhora da Assunção
• Catedral de São Pedro dos Clérigos
• Igreja de São Francisco
• Igreja de Nossa Senhora do Carmo
• Capela de Nossa Senhora da Boa Morte
• Casa da Câmara
• Museu Arquidiocesano
• Casa do Barão do Pontal
• Passagem de Mariana (a conhecida Mina da Passagem)
Roteiro natural pela região
• Parque Municipal da Cachoeira das Andorinhas
• Parque Estadual do Itacolomi (localizado entre Ouro Preto e Mariana)
• Estação Ecológica do Tripuí
• Cachoeira de Três Moinhos ou Cachoeira do Falcão (em Lavras Novas)
• Castelinho (Chapada)
• Gruta da Lapa (em Antônio Pereira)
Onde ficar e onde comer
Pousadas e hotéis em Ouro Preto
Solar da Ópera
Rua Conde de Bobadela, 79 – Centro
Fone: (31) 3551-6844
Solar do Rosário
Rua Getúlio Vargas, 270 – Rosário
Fone: (31) 3551-5200
Grand Hotel
Rua Senador Rocha Lagoa, 164 – Centro
Fone: (31) 3551-1488
Pousada do Mondego
Largo de Coimbra, 38 – Centro
Fone: (31) 3551-2040
Hotel Mirante
Rua Pandiá Calógeras, 377 – Barra
Fone: (31) 3551-2773
Hotel Colonial
Travessa Padre Camilo Veloso, 26 – Centro
Fone: (31) 3551-3133
Restaurantes em Ouro Preto
Casa dos Contos
Rua Camilo de Brito, 21 – Centro
Fone: (31) 3551-5359
Chafariz
Rua São José, 167 – Centro
Fone: (31) 3551-2828
Casa do Ouvidor
Rua Conde de Bobadela,, 42 – Centro
Fone: (31) 3551 2141
Deguste
R. Cel. Alves, 15 – Centro
Fone: (31) 3551-6363
Bené da Flauta
Rua São Francisco de Assis, 32 – Centro
Fone: (31) 3551-1036
O Passo
Rua São José, 56 – Centro
Fone: (31) 3551-5089
Pousadas e hotéis em Mariana
Pousada Contos de Minas
Rua Zizinha Camelo, 15 – Centro
Fone: (31) 3558-5400
Pousada Solar dos Corrêa
Rua Josafá Macedo, 70 – Centro
Fone: (31) 3557-2080
Hotel Müller
Av. Getúlio Vargas, 34 – Centro
Fone: (31) 3557-1188
Pousada da Chácara
Rua Amélia Alves, 81 – Chácara
Fone: (31) 3557-2750
Pousada Solar dos Dois Sinos
Praça Aristides Pereira, 07 – Passagem
Fone: (31) 3557-5077
Pousada Passo do Carmo
Monsenhor Horta, 13 – Rosário
Fone: (31) 3558-1100
Pousada Gamarano
Rua Raimundo Gamarano, 01 – São Pedro
Fone: (31) 3557-1835
Restaurantes em Mariana
Lua Cheia
Rua Dom Viçoso, 23 – Centro
Fone: (31) 3557-3232
Rampas Restaurante
Rua Praça Gomes Freire, 92 – Centro
Fone: (31) 3557-2528
Restaurante Clube do Ouro
Anexo à Mina de Ouro de Passagem
Fone: (31) 3557-5011
Restaurante Rancho da Praça
Praça Dr. Gomes Freire, 108 – Centro
Fone: (31) 3558-1060
Restaurante Gaveteiros
Praça Cláudio Manuel, 26 – Centro
Fone: (31) 3557-2273
Restaurante Sinhá Olímpia
Rua Olímpio Fernandes Lima, 02 – Passagem
Fone: (31) 3557-5300
Cozinha Real
Rua Antônio Olinto, 34 – Centro
Fone: (31) 3557-1349