Dia 21 de dezembro, domingo, 11h. Antes de irmos embora da Ilha Bela, fomos conhecer sua parte histórica, chamada de vila. Lá está a maioria dos serviços turísticos, além de ser ponto de partida dos passeios de barco e à vela. Na vila, é possível alugar um jipe para conhecer uma das praias mais bonitas da ilha, a Baía de Castelhanos. O acesso é por 22 quilômetros de estrada de terra precária, disponível somente para veículos com tração nas quatro rodas.
Independente do lugar que você vá, sempre terá a companhia de um mosquito borrachudo. Quando fomos tomar café numa padaria, junto com catchup e mostarda para se servir, estava um frasco de repelente comunitário. Os borrachudos são a praga e o símbolo da Ilha Bela.
Voltamos para nosso camping pegando uma carona inusitada: no carro da polícia local. Não, não roubamos nada para pegar carona! Apenas aceitamos a cordialidade dos policiais. Arrumamos nossas coisas e seguimos de balsa para São Sebastião. Como já era noite optamos por pegar um ônibus até Caraguatatuba, onde nos hospedamos no albergue Recanto das Andorinhas.
Caraguá, como é conhecida, é um centro urbano agitado na temporada, repleto de condomínios, casas e prédios. Tem também muitos restaurantes na maioria das praias. Estranhamente o mar azul e transparente da região se transforma na parte rasa numa água suja e de cor marrom. Fugimos dali para a praia de Domingas Dias, no caminho para Ubatuba. Com apenas 400 metros, suas águas são límpidas e tranqüilas. Para chegar até lá, é necessário pegar uma trilha entre os condomínios a partir da praia do Lázaro.
À tarde, demos uma rápida passada no centro de Ubatuba, cidade que sofre com o crescimento desordenado de sua periferia. Mas nossa intenção era conhecer a praia de Itamambuca, famosa pelo seu resort e por suas boas ondas para prática do surfe. Da vila de Itamambuca até a praia, o visitante é obrigado a passar por uma trilha dentro do mangue, repleto de guaiamuns.
Trindade
O tempo começou a fechar e a expedição foi obrigada a ir até a beira da rodovia e esticar o dedão para fora. Em menos de 10 minutos conseguimos carona com Marco Ribeiro Machado, técnico ambiental, que estava indo passar o Natal no Rio de Janeiro. Descemos no trevo que vai para a vila de Trindade, já dentro do Estado do Rio, e por sorte, rapidamente parou uma pick-up para nos acolher. Mal saímos do lugar quando fomos barrados num posto policial. Levamos uma revista e ainda as autoridades reclamaram com o motorista por ter nos transportado na caçamba. Depois de explicarmos nosso projeto, fomos liberados e seguimos até a vila de Trindade.
A região de Trindade tem surpreendente beleza selvagem. A Mata Atlântica está preservada pelo Parque Nacional da Serra da Bocaina que se estende até o nível do mar. Na vila, os pescadores se misturam com um público mais alternativo como hippies, nudistas e rebeldes. A praia mais procurada é do Cachadaço, uma enseada de areias finas e brancas, deserta e cercada de vegetação nativa. A partir daí, segue a trilha para uma piscina natural formada por grandes pedras que represam o mar.
Trindade já não é um lugar tão isolado do mundo como antigamente. A famosa e perigosa estrada de terra que dá acesso ao vilarejo é hoje asfaltada. A comunidade local começa a se voltar para o turismo, com o surgimento de pousadas, campings e restaurantes. Achamos até um lugar que oferecia acesso à internet! Por tudo ser ainda muito rústico e simples, os preços compensam. Mesmo em alta temporada, descolamos uma pousada R$ 35 a diária casal.
Há muitas lendas sobre a existência de um tesouro enterrado em Trindade. Uma delas diz que esse fabuloso tesouro, fruto do saque de piratas à Catedral de Lima, no Peru, teria sido enterrado numa das praias e achado por Roque José da Silva, comerciante de Paraty. Sua filha e única herdeira, Geralda Maria da Silva, teria usado a fortuna na conclusão das obras da Igreja Matriz de Paraty, como caridade para redimir as culpas de seu pai. Diante de todo esse mistério em torno da vila de Trindade, nossa próxima parada foi inevitavelmente Paraty – Rio de Janeiro.
A cidade de Paraty possui, segundo a Unesco, o conjunto arquitetônico mais harmonioso do século XVIII. São mais de 400 construções baixas ou assobradadas em torno a monumentos civis, religiosos e militares com cerca de 300 anos. Infelizmente os postes de luz e a fiação elétrica instalados sem um padrão paisagístico atrapalham um pouco a beleza do lugar. O centro histórico tem ruas estreitas feitas de pedra, prédios tombados, lojas de artesanato e ateliês. É também onde ficam as principais igrejas e museus, como a Igreja de Santa Rita, de 1722, e a Matriz Nossa Senhora dos Remédios, de 1787. Freqüentada diariamente por turistas de todos os lugares do mundo que buscam cultura e história, Paraty se transformou hoje numa cidade rica e bem cuidada. Assim como era no auge do período colonial brasileiro.
Na próxima semana, aqui no Viagens & Turismo, você continua acompanhando a aventura de Jeferson e Anastásia, que deixaram o Paraná em 17 de dezembro e pretendem chegar – de carona – até Lençóis Maranhense.