Impossível não esticar o pescoço em direção à janela do avião quando a aeronave se prepara para aterrissar no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Mais do que ver a pista de pouso, turistas e cariocas querem apreciar de perto os belos detalhes de um castelinho verde, salpicado de coqueiros e palmeiras, construído numa pequena ilha na Baía de Guanabara. Cenário do último grande baile do Império, realizado em 9 de novembro de 1889, a Ilha Fiscal chama a atenção na paisagem e, o que é melhor, está aberta para visitação pública.
Para entrar no circuito dos pontos turísticos, o que aconteceu em 2001, o espaço passou por intensos trabalhos de restauração, coordenados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A partir das obras, foi recuperado o esplendor das pinturas decorativas do teto, das paredes e do piso de parquê do torreão. Também a parte externa do edifício voltou a exibir sua cor original. De quinta a domingo, tours guiados permitem explorar cada canto da construção, uma das preferidas de Dom Pedro II. Entre os atrativos, os salões que abrigam exposições temporárias e permanentes que revelam a história da ilha e da Marinha, a coleção de vitrais e os trabalhos em cantaria – colunas, arcos, florões e símbolos imperiais.
O passeio tem início em grande estilo: partindo do cais do Espaço Cultural da Marinha, a pequena travessia é feita a bordo do rebocador Laurindo Pitta, único remanescente da Primeira Guerra Mundial.
Disputada no século XIX pelos ministérios da Marinha e da Fazenda – o primeiro querendo instalar um posto de socorro marítimo e o segundo, um posto aduaneiro -, a então Ilha dos Ratos ficou sob a guarda da Fazenda. Em 1881, teve início a construção de um edifício dedicado à fiscalização alfandegária, com projeto assinado pelo engenheiro Adolpho José Del Vecchio. Pouco tempo depois, a ilha foi visitada por Dom Pedro II. Conta-se que, encantado com a magnífica vista da baía, o imperador considerou-a um ?delicado estojo, digno de uma brilhante jóia?. Del Vecchio, então, admirador do estilo gótico, projetou um castelo inspirado nas construções francesas do século XIV. O projeto recebeu medalha de ouro ao ser apresentado na exposição da Escola Imperial de Belas Artes.
Em 27 de abril de 1889, a obra foi inaugurada com a presença do imperador, utilizando-se no transporte a famosa Galeota Imperial, hoje exposta no Espaço Cultural da Marinha. Da construção, sobressaem o excepcional trabalho em cantaria, executado por Antônio Teixeira Ruiz, os mosaicos do piso do torreão, obra de Moreira de Carvalho, na qual foram utilizadas mais de uma dezena de espécies de madeira, além das belas agulhas fundidas por Manuel Joaquim Moreira. Também merecem destaque a pintura decorativa das paredes de autoria de Frederico Steckel, o relógio da torre e a magnífica coleção de vitrais importados da Inglaterra.
Serviço – As visitas guiadas à Ilha Fiscal acontecem somente de quinta a domingo, às 13h, 14h30 e 16h.
