Quem sai de Maceió para visitar a simpática Piaçabuçu (nome de origem indígena que significa Palmeira Grande) talvez não imagine que, um pouco à frente, terá uma grata surpresa. Pouco mais de 130 quilômetros pela AL-101 e pela BR-101, sentido sul, e chega-se à Fazenda do Gunga, uma das maiores plantações de coco do nordeste.
Piaçabuçu fica ao norte do Rio São Francisco, um dos mais importantes do Brasil, na fronteira com o Estado de Sergipe. À parte da polêmica entre governos, técnicos ambientais e comunidades ribeirinhas, por conta de sua possível transposição, o conhecido “Velho Chico” chega majestoso ao fim de sua trajetória, lindo e tranquilo depois da “grande viagem” desde Minas Gerais.
Turistas desembarcam nas areias escaldantes da Praia do Peba: ali ficam os artesãos. |
Um dos principais pontos turísticos são os areais formados pela Praia de Pontal do Peba e Praia do Peba, caracterizadas por suas belas e extensas formações de dunas paralelas à costa, conhecidas como Dunas de Foz de São Francisco. Estas formam uma área de preservação de aves migratórias e tartarugas marinhas que habitam a região.
Além do turismo, uma das fontes econômicas, o povo sobrevive da pesca, principalmente do camarão. A localidade é conhecida por ter o maior banco de camarões do nordeste, resultado do volume de material orgânico jogado ao mar pelo São Francisco.
De barco
Passeio revela paisagem de um oásis, com coqueirais e enormes lagoas de águas doces. |
As embarcações são controladas e fiscalizadas pela Associação dos Barqueiros de Piaçabuçu, que, além de organizar o cais, garante a qualidade e também o preço tabelado pelo serviço.
O passeio até a Praia do Peba custa R$30 por pessoa, com direito a um guia, que, durante o caminho, conta a história da localidade. Cintia, moça de seus vinte e poucos anos, é um deles.
Estudante do curso de geografia, começou cedo na profissão e domina com maestria a história da cidade e do rio. Repassa aos visitantes até mesmo informações técnicas, como o assoreamento e as iniciativas para tentar mudar o trajeto do Velho Chico.
A paisagem é imponente ao longo dos quase dois quilômetros que dividem Sergipe de Alagoas. Nas águas caudalosas, pescadores e lavadeiras dividem o cenário com embarcações cheias de turistas.
De longe é possível ver o branco incandescente das dunas móveis e, por trás delas, coqueiros e uma enorme lagoa de água doce. Quando os turistas desembarcam, traspassam as areias escaldantes e, ao chegarem ao topo, são recepcionados por artesãos que esperam ansiosamente pela única chance de vender alguns produtos no dia.
Entre rendas, artesanatos de palha e cocadas dos mais diferentes sabores, trabalha ali Dona Rosineide, vendedora de 68 anos que viveu todos eles na foz do Rio São Francisco. Ela conta que mora em Sergipe e todas as manhãs, com o barco carregado de imagens de São Francisco, encara a correnteza e espera os turistas nas dunas.
“Meus pais já faziam isso, depois eu aprendi e agora meus filhos me ajudam nas vendas”, relata. Segundo ela, para o santo proteger realmente é necessário que ele seja batizado nas águas. “É só colocar ele no rio e tá pronto”, explica, sorridente.
Após uma caminhada de aproximadamente dois quilômetros, partindo da cidade, chega-se ao local onde ocorre o ,belíssimo espetáculo do encontro das águas do rio com as do Oceano Atlântico. “Uns dizem que é aqui que o rio morre, mas para nós, ele renasce”, conta a guia Cintia.
A pequena Piaçabuçu já serviu também como cenário de cinema. Lá foi rodado o filme Deus é brasileiro, dirigido pelo alagoano Cacá Diegues. Quem passa pelas ruas estreitas quer saber por onde o ator Antônio Fagundes – que interpreta Deus na trama – andou também.
“As gravações do filme foram muito legais. Além da oportunidade de conhecer gente famosa, aumentou o número de turistas visitando nossa cidade”, comemora a guia.
A simpática Piaçabuçu, conhecida por ter o maior banco de camarões do nordeste, também já serviu de cenário de filmes nacionais, como Deus é brasileiro. |
Marechal Deodoro tem história
Divulgação |
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Casarios antigos e ruas estreitas transportam turista ao passado. |
Ruas estreitas, casarões, igrejas barrocas, palacetes seculares e um povo com muita história para contar. Assim é a bela Marechal Deodoro, a primeira capital alagoana, distante 28 quilômetros de Maceió.
Em setembro de 2006 a cidade foi tombada como patrimônio nacional por deliberação do Ministério da Cultura e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que fez plena justiça à história do município onde nasceu o proclamador da República e primeiro presidente do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca.
O município possui quatro vilarejos: Barra Nova, Massagueira, Novo Lino e Praia do Francês. O último é um dos cartões-postais mais conhecidos do estado e sua praia, considerada uma das mais bonitas do Brasil.
Povo
Nostalgia é completa ao som da banda de pífanos Esquenta Muié. |
A cidade foi fundada em 1611 com o nome de Povoado de Vila Madalena de Sumaúna. Servia para proteger o pau-brasil do contrabando e da ação de piratas e outros ladrões.
O município foi criado em 1636, sendo a vila designada por Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul. Em 1823 foi elevada a cidade. A capital da província de Alagoas passou para Maceió 16 anos depois. Em 1939, o nome foi alterado para Marechal Deodoro, em homenagem ao primeiro presidente do Brasil.
A casa onde Deodoro, seus seis irmãos e três irmãs moraram continua intacta e virou museu. Quadros, vasos e parte da mobília fazem parte do acervo, que é visitado diariamente pelos turistas.
Andar pelas ruas apertadas de Marechal Deodoro é como fazer um passeio no tempo. A banda de pífanos Esquenta Muié faz a trilha sonora e completa a nostalgia, remetendo o turista ao cenário da cinematográfica Sucupira, onde foi encenado o filme O Bem Amado.
Durante as gravações, Marco Nanini, Andréa Beltrão, Zezé Polessa e Drica Moraes se integraram ao dia-a-dia da pacata cidade ao mesmo tempo em que, com ritmo de trabalho intenso, transformaram Marechal Deodoro. Mais de quatro mil moradores se inscreveram para participar como figurantes.
Patrimônio recebe restauração
O tombamento da cidade, além de assegurar a integridade histórica, vai contribuir para que os principais prédios sejam restaurados. Ao todo, são mais de 800, entre casarios e monumentos arquitetônicos (igrejas, Palácio Provincial, Convento Santa Maria Madalena e Casa da Cadeia).
A Casa de Marechal Deodoro da Fonseca, o convento e Igreja de São Francisco já haviam sido tombados pelo Iphan em 1964. O trabalho principal e mais evidente está sendo feito no comple,xo franciscano, que inclui o Convento Santa Maria Madalena e as igrejas de São Francisco e São Benedito.
A arquiteta especialista em restauração Ana Cláudia Magalhães revela curiosidades do trabalho. “No claustro (área externa do convento) foram encontradas sepulturas pertencentes aos irmãos de São Benedito, que eram negros. Sabe-se que os franciscanos eram completamente elitistas e não permitiam a entrada de negros no local, tanto que tinham a igreja ao lado para fazerem o seu culto. Este fato realmente causou estranheza”, conta.
Segundo ela, na Igreja de São Francisco, uma capela foi doada para o convento em 1709. Durante o início da restauração, atrás de um retábulo, foi encontrada uma pintura na parede – no entanto, ela não será trabalhada.
“Optamos por colocar o retábulo novamente para preservar a estética do ambiente. Além disso, na capela há um túnel que, segundo os moradores mais antigos, dá acesso ao cemitério e a outras igrejas da cidade”, lembra.
Maceió sempre vale a pena
Márcio Barros |
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Na orla, o calçadão pode servir para caminhadas ou apenas para sossegar observando o mar. |
Só quem já foi a Maceió sabe qual é a sensação de ver o mar com uma cor toda especial. O tom das águas mescla do azul-turquesa ao verde-esmeralda, sempre contornado por coqueiros, falésias, arrecifes e manguezais.
A “Cidade das Águas”, como é conhecida a capital alagoana, tem as praias urbanas mais bonitas do nordeste, aproximadamente 146 piscinas naturais e 58 lagoas.
A beleza da cidade a torna uma das mais paparicadas pelas empresas de turismo. Entre seus atrativos turísticos destacam-se as piscinas naturais de Pajuçara, a dois quilômetros da costa. Lá, quando a maré baixa, as jangadas que se aglomeram na areia zarpam rumo ao oceano.
O passeio é inesquecível. Além da hospitalidade do alagoano, o visitante tem direito a mergulho, caipirinha, cerveja, camarão e à companhia de peixinhos coloridos, que nadam próximos à embarcação. O passeio custa em média R$20. Protetor solar e chapéu são indispensáveis.
Hotelaria
Luciano Gama |
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Praia do Francês, cartão-postal de Alagoas, fica em Marechal Deodoro. |
Maceió tem uma boa rede hoteleira instalada ao longo da Avenida Álvaro Otacílio, na beira-mar. É nessa região também que acontece a maior circulação de pessoas. Moradores misturados com os turistas aproveitam o calçadão para fazer caminhadas ou apenas sossegar observando o mar em uma das muitas barracas de praia.
Um deles, o Jatiúca, se destaca por estar localizado em uma área verde de 62 mil metros quadrados, entre prédios e a orla marítima. Quem olha de cima não imagina que dentro da cidade pode haver um espaço tão bem aproveitado.
Mercado do Artesanato
O visitante da capital alagoana pode adquirir uma lembrança da cidade no Mercado de Artesanato, localizado no centro da cidade. Lá, encontrará souvenirs confeccionados com o tradicional artesanato de filé, produto típico feito a partir da tela de redes de pesca. Há também lindos cestos de cipó, bolsas de palha, bonecas de pano e panelas de barro. Tudo elaborado com a dedicação do artesão e a preços acessíveis.
Além do bom artesanato, a cozinha maceioense também merece atenção. Os restaurantes servem desde pratos mais elaborados, como o sururu ao coco ou camarão com calda de tangerina e batata-doce palha, até a tradicional moqueca de peixe com banana ou uma simples macarronada. As referências estão nas culinárias nordestina, mineira, capixaba e baiana, que dão um tempero especial à comida servida na capital alagoana.
O jornalista viajou a convite da revista Turismo & Negócios e da TAM,.