A tradição secular das festas juninas, que mesclam religiosidade e folclore, parece não perder força. E no Brasil, principalmente no nordeste, as quadrilhas que dançam em torno das fogueiras, retratando a simplicidade do povo interiorano, se incorporaram a festas gigantescas.
Festejos, estes, dignos de atrair gente de toda parte, do Brasil e do exterior, para viver um pouco do que as homenagens a São João, Santo Antônio e São Pedro, os santos reverenciados em junho, representam culturalmente.
Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, são cidades onde as festas juninas são consagradas. Ambas se autodenominam como os maiores “São Joãos” do mundo.
As festanças homenageiam personagens tipicamente nordestinos ao som de muito forró, com quadrilhas bem organizadas, artistas conhecidos nacionalmente, fogueiras gigantescas e muita comida caipira. São dias e dias de comemorações.
E embora seja no nordeste que os festejos juninos agreguem proporções maiores, eles não se resumem apenas àquela região. Os “arraiás” se espalham pelo interior do Brasil, principalmente em cidades onde a tradição católica e a essência rural falam mais alto.
Em Minas Gerais, por exemplo, as festas juninas traduzem a vida e os costumes do homem do campo; no Rio Grande do Sul, mesclam o tradicionalismo regional à cultura caipira, onde a reverência vai para São Pedro, o padroeiro do Estado.
No Paraná, o interior também celebra os festejos, com destaque para a cidade da Lapa, onde o dia do padroeiro Santo Antônio (13 de junho) coincide com o aniversário da cidade, e para a pequena São João, no sudoeste do Estado, que se gaba por construir a maior fogueira do País.
No Paraná, a maior fogueira do País
Prefeitura de São João/Paróquia São João Batista |
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A fogueira em São João, no sudoeste do Paraná, tem 50 metros de altura. |
Festa grande mesmo no Paraná é a que acontece na cidade de São João, sudoeste do Estado. Também, pudera: a cidade leva o nome do santo homenageado. Pequeno, o município de cerca de 11 mil habitantes tenta exagerar na proporção da festança para ganhar destaque no País. E consegue.
Segundo o prefeito, Clóvis Mateus Cucoloto, São João já ganhou prêmio no ranking Brasil de maior fogueira de festa junina: em 2008, a fogueira teve 50,8 metros. Além disso, a festa atraiu público de 25 mil pessoas, mais que o dobro da população da cidade. Este ano a megaestrutura deve manter a estatura, mas a prefeitura já pensa em aumentar a fogueira ano que vem.
“Em 2010 a cidade faz 50 anos e pretendemos construir uma fogueira entre 55 e 60 metros”, adianta. Na construção são usados 220 metros cúbicos de eucalipto, em uma base de quatro paus com sete metros cada.
Em formato piramidal, a fogueira vai afunilando, fechando com uma boca de dois metros. Mas essa festança toda começou de mansinho. As primeiras festas juninas em São João eram realizadas na Praça São Pedro, em frente à Igreja Matriz, com uma pequena fogueira ao redor da qual se reunia a comunidade para as apresentações de quadrilhas e casamento caipira.
Com o tempo o arraial foi ganhando corpo e, hoje, é o principal evento do município. Tanto que, uma semana antes da festa, a cidade inteira entra no clima.
No comércio e no serviço público, todo mundo vai trabalhar vestido de caipira, traje a que todos os participantes aderem também no dia da festa. Este ano, os festejos em São João vão de 18 a 20 de junho. A fogueira é acesa no último dia da festa, acompanhada ,de show pirotécnico.
Lapa
Outra festa importante no Paraná é a que acontece na Lapa, a cerca de 80 quilômetros de Curitiba. Lá, quem leva os louros é Santo Antônio, padroeiro da cidade: o município faz aniversário justamente em 13 de junho, o dia do santo, completando 240 anos em 2009.
A prefeitura e a Paróquia Santo Antônio da Lapa estão organizando uma grande festa este ano, programada para os dias 8 a 14 de junho. A ideia é aproveitar o feriado prolongado de Corpus Christi para atrair mais gente de fora.
De acordo com a secretária municipal de Cultura, Valéria Borges, o ensejo este ano é valorizar a tradição e a cultura regionais. “Haverá desde festivais folclóricos italiano, polonês e alemão até shows diversos de MPB, música sertaneja e gauchesca”, adianta.
Quadrilhas montadas pelas escolas municipais se apresentarão e uma grande fogueira será acesa, com direito a show pirotécnico. Além disso, os tapetes de Corpus Christi também aparecem nas comemorações juninas da Lapa. Na quinta-feira, 12, uma procissão seguirá sobre eles.
Montagem da fogueira segue ritual no sul de Minas Gerais
Nas montanhas que cortam o sul de Minas Gerais escondem-se cidades que guardam muito das características interioranas. Além, é claro, das belas paisagens, que, do alto, se assemelham a um tapete todo dobrado.
Nos pequenos municípios da região as festas juninas se preocupam em retratar a simplicidade do mineiro do interior e sua lida diária. Destaque para a típica comida da roça, que, em Minas Gerais, fica ainda mais apetitosa.
A terra do queijo, do polvilho, do café, dá um tom único às festividades juninas. Lá, uma das cidades que mais se destacam é Cachoeira de Minas, com seus cerca de dez mil habitantes. Cercado pelas serras Monte Belo e dos Machados, o município é cortado por rios.
E, embora pacato ao longo do ano, se transforma na época das festas juninas. A Festa da Fogueira – que, embora seja comemorativa a São Pedro, é realizada em julho -envolve um preparo todo especial, cheio de ritos.
Tudo começa com os voluntários, que plantam varões de eucalipto verde para sustentar a montanha de lenha que virará a fogueira. Para acendê-la é preciso um micro avião, que proporciona um show de pirotecnia. Cachoeira de Minas também tem mania de ser “a maior” em algo.
Garante que tem uma das maiores fogueiras do Brasil, com cerca de 30 metros. No domingo que antecede a festa é tradicional o desfile de carros de bois pelas ruas da cidade, com a finalidade de transportar a lenha para o término da construção da fogueira.
Cavaleiros montando cavalos enfeitados e equipados com os mais variados tipos de acessórios também participam, culminando na concentração dos participantes, junto com a comunidade e turistas, para um almoço. Festejo típico de Minas. Mais “uai, sô”, impossível.
Campina Grande aguarda 1,5 milhão de pessoas
Divulgação |
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Ícones do São João de Campina Grande, na Paraíba: maratona de forró dura quase um mês, reunindo mais de 500 atrações só no Parque do Povo, onde acontece a festa principal – sem contar os festejos nos bairros. |
A maratona de forró na paraibana Campina Grande começa no próximo dia 29 e só termina quase um mês depois, em 28 de junho, véspera do Dia de São Pedro. São esperadas 1,5 milhão de pessoas para os festejos. E, aqui, a disputa para ser “o maior” em tudo, da fogueira à festa completa, ganha força.
O São João de Campina Grande tem certeza de que é o maior do mundo também. A marca da festa é a cultura nordestina. No palco principal subirão nomes como Zé Ramalho, Elba Ramalho e Santana. Mas a festança não se resume apenas ao Parque do Povo, onde acontece a festa principal -embora, só ali, estejam programadas mais de 500 atrações.
O forró se estende para os bairros e, nos distritos de Galante e São José da Mata, onde o ponto alto são as apresentações dos trios de forró e das quadrilhas. A cidade promete novidades este ano: o Parque do Povo – também intitulado “quartel general do forró” – terá barracas e camarotes com novas disposições. E a prefeitura e a polícia pretendem reforçar a segurança com câmeras de monitoramento.
Além disso, a Pirâmide, estrutura que é o símbolo maior do São João de Campina Grande e onde as comemorações juninas geralmente celebram casamentos coletivos, também passou por reformas. Ainda no parque fica a Vila Nova da Rainha, local onde são comercializados produtos do artesanato local.
Serviço
O turista que visitar Campina Grande no período do São João contará com centrais de informação dispostas no aeroporto, no Shopping Boulevard, no Parque do Povo e no distrito de Galante.
Além dos hotéis, a cidade dispõe de casas, apartamentos e pensões para locação no período junino. Informações e programação completa no site www.saojoaoemcampina.com.br
João Pessoa valoriza artista paraibano
Em João Pessoa, capital da Paraíba, os festejos juninos deste ano homenageiam os 90 anos do nascimento de Jackson do Pandeiro, um dos maiores ritmistas da música popular brasileira e grande difusor das canções nordestinas Brasil afora.
Serão 13 shows na Praça Antenor Navarro e mais 42 atrações artísticas ligadas à cultura popular, no Largo de São Pedro. Tudo no Centro Histórico da terceira cidade mais antiga do Brasil, entre os dias 23 e 28 de junho. O São João de João Pessoa também celebra o Arraial do Varadouro, onde participam cerca de 30 quadrilhas, e com direito a concurso.
A festança alavanca a cultura popular paraibana, reunindo manifestações oriundas de vários recantos do estado e também de Pernambuco. Neste ano a organização vai trazer os folguedos tradicionais dos municípios da grande João Pessoa e dos pernambucanos Ferreiros, Camutanga e Itambé.
Esse “casamento” vai transformar o Largo de São Pedro Gonçalves em um reduto das diversas facetas da identidade nordestina. Isso sem falar nas manifestações folclóricas, a exemplo do coco de roda, afoxé, reizado, cordel, mamulengo, repente, alabê alujá, forró pé-de-serra, ciranda, cavalo marinho e xaxado.
Caruaru, a maior em São João
Fotos: Roberto Franca |
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São João de Caruaru atrai gente de todo o País e também do exterior: são centenas de atrações em 42 dias de muita festa. |
O centenário do nascimento de Vitalino Pereira dos Santos, escultor e músico nascido em Caruaru, Pernambuco, é o tema do São João deste ano na cidade. A festa junina lá é, de longe, uma das mais famosas do Brasil. E não é à toa.
Caruaru é conhecida como a Princesa do Agreste e Capital do Forró. A cidade tem fama até fora do Brasil e a cada mês de junho tenta fazer do São João um evento ainda maior.
O grande homenageado do festejo junino este ano começou a fazer artesanato de barro aos seis anos. Mas a brincadeira de Vitalino acabou virando arte, e arte com identidade.
Inspirado no folclore nordestino, o escultor retratou e universalizou, com um estilo figurativo e sempre dotado de um toque pessoal, o cotidiano do homem sertanejo e a organização social do sertão.
Mestre Vitalino, como ficou conhecido, também era músico. Aprendeu a tocar pífano (espécie de flauta sem claves e com sete furos) ainda pequeno e, aos 15 anos, já montava sua própria banda, a Zabumba Vitalino.
Quem contemplar o São João de Caruaru este ano vai encontrar réplicas dos bonecos de Vitalino espalhadas pelos bairros. A ideia é destacar o barro, matéria-prima que levou o nome da cidade para o mundo.
Música,p>
Desfile de bacamarteiros é uma das atrações; espetáculo retrata uma das mais genuínas manifestações artísticas da cidade. |
E o forró, claro, é o grande chamariz da festa. Este ano o tradicionalismo vai falar alto mesmo em Caruaru. A ideia é destacar artistas que beberam na fonte de Luiz Gonzaga, como Elba Ramalho, Fagner, Gilberto Gil, Zé Ramalho, Alceu Valença, Dominguinhos e Nando Cordel. Todas as apresentações são gratuitas e serão muitas durante os 42 dias de festa (entre 30 de maio e 10 de julho).
O São João de Caruaru é dotado de uma megaestrutura, com diversos polos de animação. E a festança também dá certeza de que tem a maior fogueira do mundo, o maior festival de fogueteiros, a maior pipoca do mundo, o maior pé-de-moleque e a maior pamonha – entre outras iguarias “maiores do mundo”.
Arraial de rua também se destaca
Resgatando a beleza da tradição do São João de rua em Caruaru, seis ruas da cidade vão “se vestir” especialmente para abrigar uma programação cultural do mais alto valor.
Eis alguns dos desfiles: Bacamarteiros – Acontecerá no dia 24 de junho, Dia de São João, e reunirá 25 batalhões, com cerca de 700 participantes. O estouro dos bacamartes dá sentido histórico ao espetáculo, retratando uma genuína manifestação artística local.
Desfile dos 100 Anos de Vitalino – Um grande momento de diversidade cultural. O desfile irá acontecer na Avenida Agamenon Magalhães, uma das principais artérias de Caruaru.
Será composto de uma grande ala de bonecos gigantes, reproduzindo bonecos de Vitalino, carros alegóricos, bacamarteiros, bandas de pífano, grupos de dança junina e quadrilhas autênticas.
Festival de Sanfoneiros – Um dos mais tradicionais atrativos juninos, realizado há mais de 20 anos, o encontro reúne participantes de todos os estados do nordeste. Canções serão dedicadas ao Mestre Vitalino.
Decidido a curtir um dos arraiais mais famosos do País? Então sirva-se de um guia dos polos de animação da festa de Caruaru:
Alto do Moura
O Alto do Moura é uma comunidade de artistas que fica a sete quilômetros do centro. Foi lá que nasceu Vitalino Pereira dos Santos, o homenageado da festa. Neste povoado existem várias casas que foram transformadas em ateliês, onde mais de mil artesãos moldam o cotidiano do povo pernambucano no barro.
Todos são seguidores do artesão mais famoso do lugar, o Mestre Vitalino, que não hesitava em ensinar a arte para os conterrâneos. Hoje, estes artistas são responsáveis pelas peças que continuam ultrapassando as fronteiras do País. A comunidade é um dos pontos mais visitados durante os festejos juninos.
Cidade São João do Carneirinho
Cidade cenográfica infantil relacionada à cultura nordestina. É um parque temático de diversões, com carrossel de bumba-meu-boi, ruas com nomes de grandes artistas, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, J. Borges… Uma avenida principal com o nome de Vitalino.
Miniatura dos pontos principais de Caruaru, incluindo a escola municipal, espaço onde as crianças, em ações prévias nos colégios, expõem pesquisas sobre vários temas ligados às tradições juninas da cidade, estimulando os pequeninos a resgatarem a cultura e garantirem a difusão da mesma.
Vale lembrar que todas as construções da cidade serão dentro da estética do mestre homenageado. Além disso, ao longo dos 40 dias, oficinas de barro serão ministradas pelos familiares de Vitalino e artistas afins, assim como oficinas de pífano, instrumento que Vitalino tocava.
No dia do centenário (10 de julho), a produção das crianças será exposta, com apresentações dos alunos da oficina de pífano. O tema das oficinas de barro é a história do mestre.
Feirinha de Caruaru
Síntese do melhor da tradicional Feira de Caruaru, apresenta o mais rico, artesanato do País em produtos de couro, flandres, barro, bordado, literatura, madeira, palha e tantos outros.
Peças da família de Vitalino estarão presentes, assim como cordéis com o tema centenário. Entre um lado e outro da Estação Ferroviária, pontes temáticas ligarão os dois lados da feira.
No meio, exatamente por onde passavam os trens, um espaço para cafés charmosos – servindo café expresso, café latte, cappuccino, chocolates quentes, chás, licores da terra, tapiocas e cuscuz – será criado para dar ainda mais graça ao evento.
Polo das Quadrilhas
Local destinado para as apresentações e concursos de quadrilhas tradicionais e estilizadas. Este espaço também será liberado, com som e iluminação, para que as escolas façam suas festas juninas dentro do contexto do São João.
Galpão das Artes
Exposição Viva Vitalino. Um grande espaço museográfico da arte figurativa do mestre, além de cem réplicas intituladas Centenário do Mestre do Barro. Todas executadas pela família de Vitalino. Circulando pelo galpão haverá apresentações móveis de bandas de pífanos.
Praça dos Maiores
Cenário especial, com exposição das tradicionais comidas gigantes, esculpidas na estética de Vitalino. Para começar, réplicas gigantes das louças e depois pelas guloseimas: pamonha, cuscuz, bolo de milho, tapioca, pipoca, pé-de-moleque, canjica, chocolate quente, arroz-doce, cozido de milho, quentão, xerém, bolo de macaxeira, baião de dois, cocada e mungunzá.
Arraial do Maior Coração do Mundo:
Restaurantes temáticos que abordam, na culinária e ambientação, temas e elementos da cultura tradicionalmente nordestina. Em todos esses restaurantes, 10% da renda serão destinados ao apoio às atividades filantrópicas de entidades locais.
Corredor das Drilhas
São 11 quadrilhas irreverentes que desfilam com estrutura de bloco, com cordão de isolamento, trio-elétrico e carro de apoio, ao som de forró. O percurso inclui as avenidas do centro da cidade. Este ano as drilhas terão uma vila, onde será concentrada a comercialização do acesso aos eventos.
Arraial Vitalino
O São João de Caruaru terá a volta do Arraial Vitalino, que funcionou durante anos e foi desativado pela antiga administração. Trata-se de um corredor que vai do Largo da Coletoria até o Parque de Eventos, com um percurso de cerca de um quilômetro. Este polo também está entre os mais desejados pela população, com uma descentralização da festa junina.
Parque de Eventos Luiz Gonzaga
O Parque de Eventos Luiz Gonzaga tem uma área de 40 mil metros quadrados, comportando um público estimado de 150 mil pessoas. Contempla espaços como o Museu do Barro, com um acervo de 2,3 mil peças; o Forró do Candeeiro, onde se apresentam bandas de forró trios pé-de-serra; Vila do Forró, com restaurantes típicos; e Pátio do Forró, onde há intensa programação artística.