A bela Lages, no planalto catarinense, se torna, no inverno, um dos destinos mais interessantes do Sul do Brasil, não somente pelas belas paisagens, mas pelas tradicionais atividades típicas do campo.

De todas as grandes festas populares que se realizam no meio do ano pelo vasto e verdejante interior do Brasil, a Festa Nacional do Pinhão de Lages – agora em sua 17.ª edição, de 20 a 29 de maio – é a mais quente, a mais colorida, a mais movimentada, a mais diversificada. Além de ser regional, tradicionalista, reúne uma variedade enorme de shows, concursos gastronômicos e atrações diferenciadas.

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Até o frio contribui para torná-la única. Por ser um evento noturno, é comum os turistas terem seus casacões chapinhados de flocos de neve nas agitadas madrugadas do planalto. Música, fartura e beleza não faltam nos dias frios da região mais fresca do Sul, quando as primeiras geadas intensas cobrem os campos das centenárias e produtivas fazendas de Lages, com a temperatura descendo abaixo de zero grau e as massas acachapantes das nuvens das frentes frias, se acumulam na linha do horizonte como um teatro infinito.

Grupos apresentam as danças folclóricas do interior catarinense durante a Festa do Pinhão.

No alto dos chapadões, se ouve o grito estridente da gralha azul, pássaro misterioso que não planta pinhão, mas faz nascê-lo ao debulhar a pinha e derrubar suas miraculosas, enérgicas e afrodisíacas sementes. Nesses dias frios por fora e quentes por dentro, mais de trezentas mil pessoas sobem a serra e chegam ao planalto para participar dos mais de cem shows musicais, bailes, exposições, feiras, danças e festivais que ocorrem no Parque de Exposições do Conta Dinheiro, onde os tropeiros de antigamente ?dormiam pobres e acordavam ricos?.

As diversidades da Festa do Pinhão não está apenas na música. Ela é original também na alimentação farta, rica e nutritiva. É momento de parar com dietas para degustar centenas de pratos que são oferecidos, desde churrasco de ovelha aos que utilizam a semente da Araucária – o pinhão – fruto dourado do sol de outono e que durante milênios sustentou os grupos de índios coletores – xoklengs, kaingangs, guaranis, chiripas, papagaios, guaianases, biturunas, coroados, pampas, charruas, umbus, taquaras e outros ainda não classificados. Há milênios eles sabiam conservar o pinhão em cestos de jirivá, forrados com xaxim, que ficavam submersos nas corredeiras geladas dos lajeados e assim não se estragavam.

Roda de viola e sanfona, ao redor da fogueira, esquenta as noites de inverno de Lages.
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E, além da festa, das mulheres bonitas, da juventude corada, existe também o lado cultural e ecológico. A Sapecada da Canção Nativa, hoje, é o maior festival de música nativista do Brasil. Há ainda palestras, debates, vídeos, cavalgadas, gineteadas, domas selvagens em pêlo, concursos e agitos. É como o som imortal do bumbo legüeiro, o tambor dos índios e seus xamãs, atravessassem as noites, varando madrugadas em explosões de alegrias. Tudo isso faz Lages, uma das cidades mais frias do Brasil, aquecer e se tornar um dos destinos turísticos mais interessantes nesta época.

Mais informações sobre a Festa do Pinhão podem ser obtidas no site www.festadopinhao.com ou pelo telefone (49) 222-7100.

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Paulo Ramos Derengoski é jornalista em Santa Catarina.