Dia 2 de janeiro, rodoviária do Rio. Do lado de fora, um carro com uma prancha de surfe em cima, fazendo lotação junto com as vans que vão para a região dos Lagos. Combinamos com Alex, o motorista, de ir até Saquarema. Os donos das vans chamam a fiscalização, alegando que Alex não tinha autorização para trabalhar. O fiscal apareceu, mas nada aconteceu. Pois além de perueiro e surfista, Alex era policial. No meio da viagem ele conta que sempre anda armado. Ficamos meio tensos com a situação. Para piorar, também diz que já estava dois dias sem dormir. Quando pisamos em Saquarema, respiramos aliviados.
Saquarema, opção de primeira para quem surfa, mas perdeu recentemente o posto de capital brasileira do esporte para Florianópolis. Na Praia da Vila fica a maioria do comércio e também o cartão postal da cidade, a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, de 1630. É na Praia de Itaúna que as ondas crescem, sediando competições nacionais e internacionais. Infelizmente, o canal da Lagoa de Saquarema que divide as duas praias está poluído, afetando um pouco a beleza da região.
Chegamos na cidade no final da tarde, prestes a chover. Fomos atrás de um camping, mas depois descobrimos que todos fecharam por causa da especulação imobiliária. Começou a chover e saímos atrás de algum lugar para ficar. Por indicação, paramos na Pousada Itaúna-Surf, onde conhecemos a mística figura do Seu Evaristo, o proprietário. Ele foi morar em Saquarema nos anos 70, quando o lugar ainda era praticamente deserto. Falamos com ele da nossa dificuldade de conseguir um camping e Evaristo, entusiasmado em receber a Expedição, ofereceu um quartinho para pernoitarmos.
Búzios
No dia seguinte, muita chuva e nada de carona, então, seguimos de ônibus até Cabo Frio, com suas dunas e praias de águas límpidas. Ficamos hospedados no albergue da Praia do Peró, um lugar muito aconchegante junto com um público super animado. Em Arraial do Cabo, fica um dos passeios mais bonitos da região dos Lagos: o trajeto até Pontal do Atalaia. Pelo caminho se tem uma vista do alto de quase todas as praias de Arraial. De Pontal saem barcos para a Ilha de Cabo Frio, muito procurada pela boa visibilidade e as mais de 60 espécies de peixes e corais. Ali estão as águas mais frias da costa brasileira, devido ao fenômeno da ressurgência, quando correntes marítimas profundas do Pólo Sul chegam às praias de mar aberto.
Voltamos de carona para Cabo Frio no carro de uns turistas. Já para Armação de Búzios, tivemos que novamente pegar uma condução, pois era noite e ainda chovia. Búzios é o balneário mais sofisticado do litoral fluminense. Tudo começou na década de 60, após a visita da atriz francesa Brigitte Bardot, que despontou o lugar para o mundo. A Rua das Pedras, onde concentra o agito noturno, é palco de ostentação e de preços abusivos. Numa sorveteria, uma bola de 100 gramas custa R$ 5,50. Só para entrar num barzinho com pista de dança é cobrado R$ 50. E o mais incrível é que os locais lotam.
Em relação às praias, vale a pena fazer o percurso, pelas pedras, da Praia da Azeda até João Fernandes. Os paredões recortados e a vegetação de caatinga possuem características só ali encontradas. Mas não pense que é um simples passeio. Para ir até ao fim, é necessário escalar, pular, andar no meio dos cactos e ter uma boa dose de coragem para enfrentar trilhas rente aos penhascos.
Saímos de Búzios pegando carona com o dono de um Pub Irlandês de São Paulo. Mas a pior carona da Expedição estava por vir. Fomos até Campos dos Goitacazes com um taxista que estava voltando para a cidade. O motorista, de 20 anos, tinha fugido de casa com a namorada de 15 anos, e se casaram escondidos da família. O que assustava era seu carro velho, onde nada funcionava direito. A cada meia hora parávamos para consertar alguma coisa. Perto de Campos, o motorista começa a cochilar no volante.
Espírito Santo
Campos dos Goitacazes é a principal cidade entre o Rio de Janeiro e Vitória, sendo ponto de apoio para caminhoneiros. A nossa intenção era seguir para o Espírito Santo, mas acabamos parando em Barra de Itabapoana, cidadezinha às margens do rio de mesmo nome, que faz divisa com o estado do Rio. A redondeza é totalmente deserta, uma espécie de sertão próximo ao mar. As estradas estavam em péssimas condições e praticamente não havia movimento. Para sair dali, tivemos a sorte de pegar o único ônibus do dia até o primeiro asfalto que apareceu, e depois, pegar carona para Marataaízes, já no Espírito Santo.
Nesta pequena cidade, desorganizada e com mar de águas escuras, paramos apenas para descansar. No outro dia, conseguimos outra carona até Guarapari. Ela é o principal pólo turístico do Espírito Santo. O litoral é recortado, com praias de desenhos variados e areias monazíticas, consideradas medicinais. Durante o verão a cidade ferve com festas quase todas as noites. Quem quer sossego, a Praia dos Padres é uma das mais bonitas e isoladas. Aproveitamos o tempo que ficamos em Guarapari para lavar as roupas e nos preparar para novamente cair na estrada até Vitória, onde minha amiga Paula aguardava nossa chegada.
Na próxima semana você acompanha aqui no Viagens & Turismo mais uma aventura de Jeferson e Anastásia. Eles estão conhecendo o litoral brasileiro de carona.