?Eu adoraria conhecer a Europa. Mas é longe, tenho pouco dinheiro, só falo português e ninguém vai comigo.? Alguns podem duvidar, mas uma viagem nessas condições pode ser surpreendentemente divertida. Muito mais que lojas caras, restaurantes luxuosos e todo o glamour, o continente europeu tem detalhes, momentos, sentimentos e pessoas. São esses fatores que garantem uma boa viagem. É tudo uma questão de escolha.
A viagem começa no Brasil. Quanto ao transporte, para estudantes as passagens aéreas têm preços acessíveis, verifique com o agente de viagens. Há ainda a possibilidade de diferenças grandes de preço, dependendo do trajeto e das conexões. Se você não está com pressa, nenhum problema em pegar mais de um vôo até o destino escolhido. Quanto ao deslocamento entre os países, a melhor opção é adquirir ainda no Brasil as suas passagens. Para os que optarem pelos trilhos: os trens europeus são pontuais (com exceção da Itália), alguns bem confortáveis, além de serem ambientes propícios para conhecer pessoas na mesma situação. O ?Europass? adquirido no Brasil é mais barato e para estudantes há preços diferenciados. Você deve ter em mente os países que deseja visitar e o tempo de sua viagem.
Quando estiver nas cidades escolhidas, a dica é não ter preguiça de caminhar bastante por todas as ruazinhas e não ter vergonha de pegar ônibus de linha: é um contato incrível com a realidade européia e uma opção mais gratificante e econômica. Existe a opção do metrô, mas é muito rápido e os detalhes serão perdidos. Prefira-o à noite, na volta dos passeios.
Fotos: Nájia Furlan |
Barzinho do Lê D?Artagnan, em Paris, ajuda na integração. |
O próximo passo é cuidar da hospedagem. Aproveite a semana que antecede sua viagem para dar uma olhada, pela internet, nas instalações. Para os econômicos, as possibilidades são os albergues da juventude (Youth Hostels) e as pequenas hospedarias, pousadas, comuns em Portugal, Espanha e Itália. Faça apenas a reserva do primeiro local que você vai ficar, depois resolva sobre os demais. Afinal, é uma viagem de escolhas e as de locais e cidades para visitar é a mais importante e farta. É seu estilo que vai traçar os caminhos. Você vai ver como tudo flui. Não esqueça de fazer, também aqui no Brasil, a carteirinha de alberguista (veja box). Sem a carteirinha você também pode se hospedar dos albergues da juventude, mas a diária fica um pouco mais cara e, nessa viagem, a economia é parceira.
A mala, ou melhor, aqui a sugestão é mochila nas costas. Na hora de escolher o que levar pense: você vai carregar, ninguém vai ajudar e você certamente vai trazer, no mínimo, muitos folders, cartões, mapas e pequenos souvenirs. O ideal é preparar duas mochilas, a grande de roupa e uma pequena para colocar a máquina, documentos e roupas para pequenas viagens – enquanto a grande você deixa nos armários da estação de trem ou do próprio albergue. Para os menos ?frescos?, uma calça jeans, outra mais esporte (para mulheres pode ser a de cotton ou suplex preta, também para ser usada à noite, na balada), algumas camisetas (blusinhas) e um tênis (ou bota) para caminhar são suficientes, dependendo da estação do ano. Esqueça a aparência, o que vai melhorar ainda mais sua viagem é o conforto.
Para finalizar, não esqueça de levar um caderno de anotações, um dicionário – existe um de conversação para viagens, com diversos idiomas – e fazer um seguro de viagem contra possíveis imprevistos. Carregue sempre seu ?caixa? em uma pochete por dentro da calça. Ao chegar a cada lugar procure o ?quiosque? de informações turísticas (no centro, nas estações de trem e nos aeroportos), lá você vai encontrar mapas e possibilidades de passeios. Não tenha medo de fazer amigos, pedir informações, curtir o pôr-do-sol; andar, até à noite, pelas ruas pequenas; sentar nas praças. Você vai ver como você é uma companhia maravilhosa, corajosa e que aprende muito fácil a manusear um mapa e fazer escolhas certas.
Istalaciones Juvenis. Youth Hostel. Auberge de Jeunesse
Além da maneira de chamar, o estilo e o café da manhã dos albergues da juventude (hostels) mudam de acordo com a paisagem. Às vezes, em uma mesma cidade, existe mais de uma opção. Se chegar de dia, visite todos para ver com qual você se identifica. Albergue não é apenas lugar de dormir, é também lugar de conhecer pessoas do mundo inteiro e conseqüentemente arranjar companhia para os passeios do dia seguinte. Porém, a dica mais importante é aproveitar o café da manhã dos albergues que, no geral, está incluído na diária. Se fizer bem essa primeira refeição, você só vai sentir fome no final do dia, quando você vai fazer a segunda e última refeição. Nada impede que você carregue uma fruta com você. Isso é economia na viagem.
Em um trajeto básico do continente – Portugal (Lisboa – Parque Nações), Espanha (Sevilha, Granada e Barcelona – Maré Déu Montserrat), França (Paris – Lê D? Artagnan), Itália (Roma) e Suíça (Zurique) – os albergues são bons. Somente em Roma é que a opção pelas pequenas pousadas e hospedarias será a melhor. O albergue da juventude lá é um pouco descuidado, os quartos têm mais de dez camas e o atendimento não é dos mais educados. Já o de Zurique é o mais caro, mas é o mais luxuoso e o café da manhã é bem suíço, com muito queijo e chocolate quente.
Os demais estão no mesmo patamar: são bons e animados. Têm, no máximo, quatro camas por quarto, banheiros limpos, banho quente, área de convívio e bom café da manhã. (NF)
A riqueza da Europa a seus pés
Fique atento: Zurique, a mais turística das cidades suíças, é um dos destinos mais caros. |
Viajar pela Europa não é se sentir um turista que simplesmente chega, gasta e vai embora, com nada a acrescentar. O segredo de conhecer o continente, nem que somente alguns países, é se inserir, olhar e sentir. Aproveitar cada detalhe. Todo o tempero de Portugal, ao som de um fado, custa nada e vale muito. Em Lisboa, a lenta caminhada, por ruas e bairros (Sé, Alfama, Baixa Pombalina, Castelo São Jorge) é enriquecida de singularidades: é o desenho de um castelo medieval; os lençóis nas varandas; são as rugas dos muitos idosos de prosa no pé de Camões; são as pessoas apinhadas no bonde; é o gosto da castanha assada na rua com sal; é o mistério do Mosteiro dos Jerônimos; é a sensação de sentar na beira do Tejo, ao lado do Padrão do Descobrimento ou de assistir a um pôr-do-sol a partir da escada da Catedral da Sé.
Não resistir à melancolia de Portugal e saber valorizar ainda mais a animação da Espanha. Sevilha é apaixonante e viva, características que o solo da guitarra, as palmas e os gestos da bailarina e o gole da sangria traduzem bem. Um dia que comece com uma caminhada pela Avenida de La Palmera; com uma parada no Parque Maria Luisa e na Plaza de España; uma tarde nos Reales Alcázares; um fim de tarde ao lado de La Giralda; e uma noite nos barzinhos do ?bairro do judeu? será inesquecível. Não se deve esquecer o outro lado do Guadalquivir.
A bela e imponente Plaza de España é um dos atrativos do centro histórico de Madri. |
Granada é também de coisas simples, grandiosa pelas igrejas, os detalhes do domínio árabe, um passeio noturno pela Elvira, a curiosidade das cavernas do Sacromonte, a sensação indescritível de um anoitecer no Mirador San Nicola. Já Barcelona tem a cara de Miro, os gostos de Gaudí (da Sagrada Família, das casas e do Parc Güell), o frescor do mar, a liberdade de Las Ramblas, do encanto das fontes do Museu da Catalunya e do agito da vida noturna.
Deixando o calor da Espanha, olhando pela janela do trem a rica mudança da paisagem, a garoa fina de Paris ?c?est délicieux?. Tem a magia que bem fotografou Cartier Bresson. É Rodin, são as feiras dos bairros, é atravessar várias vezes o Sena (cada vez por uma ponte), é sentar na escadaria de Montmartre, é caminhar no Boulevard St Germain, subir pela escada a Eiffel e ver de perto as esquisitices do cemitério Pére Lachaise. Se não deu tempo de ver o Louvre por dentro, não tem importância, o Musée D?Orsay é menor mas tão precioso quanto.
A classe de Paris logo se perde se o próximo destino é a bagunçada Roma. Só pode dizer que sentiu a capital italiana quem, por todas as vias, sentou frente às mais belas fontes, inclusive deixou a moeda na Fontana di Trevi; tomou o vinho da casa, o mais barato, comeu uma pizza sentado por horas, em silêncio, na praça da Basílica de St. Pietro, no Vaticano, e na igreja deixou a lágrima escorrer, ou, no Coliseo imaginou tudo o que já aconteceu por lá. Incrível.
O pequeno Musée D?Orsay, em Paris, não tem o apelo do Louvre, mas rende boas surpresas ao turista. |
Dava tempo de passar em Veneza, mas a Suíça, francesa ou alemã, são de uma atração fatal. O tempo é curto e deve-se curtir as diversidades. Em Zurique é tudo muito caro e fala-se o alemão, por isso os nomes das ruas assustam, mas interagir é a chave, o olhar é mais eficaz que as palavras. É luxuosa, mas pode ser acessível em um passeio pelo Rio Zurique, uma caminhada pela Bahnhofstrasse até a estação ou pelos bairros observando os detalhes das construções, das igrejas protestantes e da torre alta com um relógio enorme na ponta, e uma visita aos museus do brinquedo e do relógio.
As opções são muitas e os detalhes são preciosos. Com companhia ou não, muito dinheiro ou não, pela Europa é sempre uma boa viagem que sem dúvida deixa no visitante uma sensação, uma cultura, eterna e um gosto de querer sentir mais vezes.
Bucolismo nos arredores de Barcelona
Os encantos da Espanha vão além das cidades incluídas nos roteiros turísticos. Muitos não estão nem nos mapas. Para quem está em Barcelona, na capital agitada da Catalunha, nada mais satisfatório do que se chocar com os contrastes. Pequenas cidades, próximas de lá, no caminho que leva à Lleida, vivem em um ritmo completamente oposto. São cidades muito antigas, cuja população, a maioria de idosos, geralmente de pessoas do campo, não ultrapassa a casa dos mil.
Pequenas cidades medievais vizinhas a Barcelona mantêm o charme caracterísitco da Espanha. |
Uma dessas cidades é Vilanova de Bellpuig, pertinho de Mollerussa. A cidade é silenciosa, parada, mas é de uma calma e uma beleza singular.
O clima e o ritmo da vila convidam a uma volta de bicicleta para desfrutar da paisagem, encontrar plantações de maçãs e muita cebola, moinhos, lagoas, pessoas gentis. Até a coloração da paisagem, principalmente das folhas, chamam a atenção.
Também na mesma região, tem cidades e vilarejos que vivem ainda em estilo medieval. As casas têm paredes grossas e quando encontradas as ruínas, é toda a história e os mistérios que vêm à tona.
Ter experiências de cidades como essas, que podem ser alcançadas em viagens de pequeno trajeto e curta duração, é outro segredo europeu. (NF)