Conhecendo o mundo a partir do sofá

Um sofá. Pode ser que, simbolicamente, este seja o único objeto que separa você de alguém que mora do outro lado do mundo, ou até num estado ou país vizinho. O fato é que este móvel, que representa a receptividade a visitas e também pode indicar que você se contenta em apenas ter um pequeno espaço num canto da casa de alguém, é que dá nome a um projeto que congrega viajantes do mundo todo e que, por meio da internet, formaliza uma porta de entrada para conhecer diferentes lugares e pessoas sob a proposta de “vivenciá-los”.

Esse projeto atende pelo nome de CouchSurfing (isso mesmo, surf no sofá). Os participantes se cadastram no site de mesmo nome e o profile de cada um é capaz de fornecer dados como a disponibilidade que você tem para receber alguém e, ainda, as referências postadas pelas pessoas que já hospedou ou conheceu por meio do site.

Quando surge o interesse de viajar, o participante se programa contatando membros que vivem nos locais que pretende conhecer e solicitando hospedagem. Tem gente que ajuda até mesmo a montar o roteiro, dando dicas antes de a viagem acontecer.

E, caso não possa disponibilizar a casa para hospedar alguém, o couchsurfer tem a possibilidade de se oferecer para levar o turista para tomar um café ou conhecer a cidade.

Amantes de viagens

Quem participa do CouchSurfing garante que o website tem uma proposta diferenciada: é uma verdadeira comunidade de amantes de viagens. “O mais interessante não é economizar, mas, sim, conhecer os locais sob o ponto de vista de quem vive neles”, diz Helder Rocha Loures, analista de sistemas curitibano que já fez várias viagens por meio do CouchSurfing e também já hospedou muita gente da mesma forma.

“Se você gosta de dançar, por exemplo, a pessoa que te recebe vai te levar pra dançar, e assim vai, de acordo com a preferência de cada um. O legal é que você acaba conhecendo locais fora dos roteiros comuns”, garante o participante.

Em Cuzco, Helder se encontrou com couchsurfers de vários países (à esquerda). Longe dos centros turísticos tradicionais, o cebiche (à direita), prato típico local, pode ser apreciado a preços bem baixos.

A coordenadora administrativa Liege Eugênio da Silva, também de Curitiba, acredita que o melhor da proposta é poder participar do dia-a-dia dos cidadãos que vivem em outros países ou cidades.

“O legal é que você fica na casa da pessoa, sente a rotina dela. Em Budapeste (na Hungria), por exemplo, fiquei hospedada em uma casa de mais de mil anos”, lembra, relatando uma de suas viagens por meio do CouchSurfing.

Mais que isso, os participantes garantem que a recepção é calorosa. “Eles nos levam para conhecer lugares e promovem encontros com couchsurfers de outras partes do mundo que estiverem na cidade. Ficam contentes em receber e fazer essa troca de culturas”, diz Liege.

E a segurança?

Liege Eugênio da Silva conheceu uma Amsterdã diferente: de bicicleta, passeou por pontos turísticos (e outros não tão visitados) com o couchsurfer que a hospedou servindo como “guia vip”. Nas fotos, aspectos da cidade registrados durante o passeio.

Os participantes do CouchSurfing garantem que as referências postadas pelos usuários são importantes para dar ideia sobre o possível receptor, compondo uma importante ferramenta de segurança.

“Antes de escolher alguém para contatar, leio as referências postadas pelas pessoas que já se hospedaram com o participante. E vale o mesmo para decidir hospedar alguém”, orienta a couchsurfer Liege Eugênio da Silva.

Helder Rocha Loures complementa que, ao hospedar ou ser hospedado por alguém, é imprescindível ser sincero ao postar no profile as referências sobre a pessoa.

“Se aparece um comentário negativo, a pessoa fica marcada. Por isso é importante saber se portar ao se hospedar na casa de alguém e receber bem quem visita sua casa.”

Também podem ser feitas denúncias de possíveis “maus comportamentos” – mas têm de ser comprovadas com documentos, como um boletim de ocorrência. E há ainda outra opção: se o participante fizer uma contribuição de US$ 15, recebe um cartão do site que assegura sua identidade aos outros membros por meio do cadastro do cartão de crédito. (LM)

Fora dos roteiros comuns

Recepcionados por um simpático casal em Firenze, na Toscana, os curitibanos Ozir Zotto e Eliane Kowalski ficaram em uma casa que mais parecia um celeiro reformado: paisagem deslumbrante vista da janela de uma típica casa italiana.

Ir além dos passeios tradicionais é uma das possibilidades que fazem a cabeça dos participantes dessa comunidade não tão virtual assim. Quando esteve em Amsterdã, na Holanda, a curitibana Liege Eugenio da Silva teve a possibilidade de conhecer a cidade de bicicleta, meio de transporte tradicional dos locais. E ela garante que viu uma Amsterdã diferente.

“Além de contar com um ‘guia vip’, ele (o couchsurfer que a hospedou) me levou pra jantar um prato típico, em um restaurante afastado. Era feito por um senhor que cantava e agitava o restaurante. Foi maravilhoso, um local que eu jamais conheceria senão dessa forma”, define.

Ela também experimentou algo diferente em Viena, na Áustria. “Lá, me levaram em um lugar que parecia uma caverna. Os corredores finalmente davam em um pub que só tocava MPB. E não havia um brasileiro sequer, exceto eu”, recorda.

Helder Rocha Loures também tem histórias interessantes de suas viagens por Lima e Cuzco, no Peru, além de Amsterdã, Milão (Itália), Frankfurt e outras pequenas cidades da Alemanha.

“Em Cuzco, fui a um restaurante ‘fora do eixo’ (longe dos centros turísticos) onde tinha o melhor cebiche (prato típico do país, à base de peixe) da cidade. Além de muito bem servido, era muito barato”, lembra.

A viagem pelo país incluiu tradicionais eventos da cultura peruana e uma aventura pelo Caminho Inca, que leva a Machu Picchu. O couchsurfer aproveitou ainda a estadia em Cuzco para convocar participantes de outras partes do mundo que estivessem nas redondezas para um encontro em um bar. Resultado: uma pessoa de cada país encorpou o grupo multicultural.

“Inesquecível”, traduz Helder. O site, aliás, traz essa ferramenta (near by travelers). É possível saber, pelos acessos, quais participantes estão em um raio de cem quilômetros de onde você está. Assim, fica fácil marcar encontros ou combinar viagens.

Uma Itália diferente

Ozir Zotto e Eliane Kowalski, também de Curitiba, contam que a viagem que fizeram pela Itália por meio do Couch-Surfing foi fora do comum. “O que cativa mesmo é o gosto que as pessoas têm por servir”, opina Zotto, que é analista de informática. Em Veneza, eles ficaram na casa de um executivo que, no jantar, fazia questão de cozinhar algo diferente para os hóspedes.

Em Bologna, o couchsurfer que abriu a casa aos paranaenses fez mais que recebê-los: levou-os para conhecer os casarios históricos da cidade, e com direito a informações precisas sobre os locais. “Ele sabia tudo sobre datas e detalhes históricos e arquitetônicos. Algo que não encontraríamos em guias de roteiros turísticos”, revela o viajante.

E,m Nápoles, o barato da viagem foi assistir a um monólogo premiado, no porão de um bar, e uma saída durante a madrugada para conhecer os pontos turísticos da cidade.

Já em Firenze, na Toscana, a hospedagem em uma casa que mais parecia um celeiro reformado, por um casal de italianos muito receptivos, proporcionou uma experiência inesquecível. “A gente se sente completamente envolvido com o lugar, com as pessoas, e as afinidades se desenvolvem muito rápido”, caracteriza Eliane.

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