Quem pensa que a cidade de Cunha, interior de São Paulo, só tem como pontos turísticos seus casarões históricos e os conhecidos ateliês de cerâmica, engana-se. Situada no Alto Paraíba, entre colinas e montanhas das serras da Quebra-Cangalha, Bocaina e do Mar, a cidade é uma estação climática, rica em água e recursos naturais, e atrai turistas que querem descansar, fugir da poluição das grandes cidades, curtir as cachoeiras e passear por entre as belezas naturais do Parque Estadual Serra do Mar.
Área de 309 mil hectares, o parque, criado em 1977, abriga e preserva importantes remanescentes da Mata Atlântica. São árvores de grande porte como cedro, peroba maçaranduba, canela, ipê, grumixama, guatambu, onde se alojam as bromélias, orquídeas, samambaias, liquens e lianas, além das dezenas de cachoeiras que estão espalhadas por lá. A área é habitat natural de capivara, anta, paca, onça, quati, jaguatirica, sagüi, bugio, gaviões e papagaios, jacu, jacutinga e araponga, entre outras espécies.
Cachoeira do Mato Limpo é uma surpresa ao turista que percorre a Rodovia Cunha-Paraty. |
O parque estende-se ao longo da Serra do Mar, desde o município de Cunha, a nordeste, até o de Pedro de Toledo, a sudeste do Estado de São Paulo. A Mata Atlântica ocupava, antes da chegada do colonizador europeu à América, um milhão de quilômetros quadrados, 12% do território brasileiro estendendo-se pelo litoral desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e penetrando continente adentro. Atualmente, a Mata Atlântica encontra-se reduzida a apenas 8% do que foi.
Trilhas de diferentes níveis de dificuldade permitem ao turista conhecer mais de perto essa riqueza natural. A das cachoeiras é um percurso de 14,4 mil e considerada de grau de dificuldade médio, portanto, só pode ser feita com o acompanhamento de guias locais (necessário agendamento). Para quem tem menos condicionamento físico, é mais recomendado fazer a Trilha do Rio Paraibuna, um percurso de 1,7 mil. É considerada fácil e pode ser percorrida sem guia.
Bocaina
A cerâmica, a grande manifestação artística da cidade, atrai turistas de todo o Brasil e exterior. |
O Parque Nacional da Bocaina é o outro parque situado no território de Cunha. Oferece belas vistas panorâmicas e cachoeiras ainda pouco conhecidas pelos turistas. As cachoeiras, algumas ainda inexploradas, são um sinal da fartura de água, que faz de Cunha uma região de mananciais. Suas terras abrigam o berço dos rios Paraitinga e Paraibuna, que formam, quilômetros adiante, o lendário Rio Paraíba do Sul, que deságua no litoral fluminense. Entre elas estão a Cachoeira do Pimenta e do Desterro, ambas com acesso pela Estrada do Monjolo; a do Mato Limpo, à beira da Rodovia Cunha-Paraty; a Cachoeira do Paraitinga, de fácil acesso pela Rodovia Cunha-Campos Novos e a Cachoeira do Mato Dentro, a 30 quilômetros de distância do centro, pela Rodovia Cunha – Campos Novos.
Serviço – o Núcleo Cunha/Indaiá, do Parque Estadual da Serra do Mar, está aberto à visitação pública, diariamente das 8h às 17h. O visitante deve se identificar na portaria e seguir as instruções do guarda-parque. Mais informações: (12) 3111-2353.
Cidade das Cerâmicas vive no ritmo do campo
A Cachoeira do Desterro é protegida pela natureza: o acesso é possível somente a pé. |
Além da natureza inexplorada, Cunha preserva história e cultura, e tem um artesanato feito em cerâmica reconhecido por turistas de diversas partes do País e do exterior. A cidade assumiu sua identidade turística em 1993, quando realizou a primeira Temporada de Inverno, com calendário de eventos e roteiro de atrações. Desde então, o turismo se uniu à pecuária leiteira e de corte, e às culturas de milho, feijão e batata como as mais importantes atividades econômicas da região.
Produto turístico consolidado, a cerâmica é produzida há trinta anos em Cunha, assumindo a condição de principal manifestação artística da cidade. A cerâmica de alta temperatura é uma tradição forte desde a época dos índios, que já trabalhavam com o barro. O trabalho continuou com as paneleiras, que fabricavam panelas e potes de barro na roça.
Cidade é uma estação climática, entre colinas e montanhas. |
Em 1975 foi construído o primeiro forno à lenha Noborigama de alta temperatura, de origem oriental, que produz cerâmica de grande beleza e alta resistência. Havia na época dezenas de paneleiras em Cunha, mas hoje, dona Benedita Maria da Conceição é a única ativa. Apesar dos 92 anos, ela ainda faz potes, panelas canecas e moringas, que podem ser encontradas na Casa de Artesão, criada em 1988, no espaço onde funcionou o primeiro ateliê de cerâmica do antigo matadouro (1975-1982).
Ritmo do campo
A cultura local de Cunha reflete o ritmo lento da vida no campo. As estradinhas de terra, que cortam sinuosamente a natureza, são margeadas por residências humildes onde vive o povo cunhense. Um passeio pelas ruas da cidade é um convite à tranqüilidade. O turista não pode deixar de visitar o Mercado Municipal, uma das mais antigas construções da região (data de 1913) e as igrejas da cidade, como a Nossa Senhora da Conceição, construída em 1731; a Igreja do Rosário, que fica aberta nos dias de festa na cidade; e a da Boa Vista, de 1724.
O Mercado Municipal, de 1913, é um dos imóveis mais antigos. |
Cunha mantém-se como palco das principais festas religiosas da tradição católica, conservando sua feição caipira e rural. O destaque fica para a Festa do Divino, sempre esperada para o mês de julho, atraindo multidões para as novenas e festejos, como congada, moçambique e jongo.
A estância realiza, durante quatro finais de semana em abril ou maio, na Praça da Igreja Matriz, a 5.ª Festa do Pinhão, quando acontecem shows, danças folclóricas, balcão de negócios com produtores, e são oferecidos passeios monitorados pelas plantações de pinhão. Uma equipe de profissionais ligados à gastronomia ensina receitas especiais à base do produto, como tortas, salgados e até doces.