Sâmar Razzak
Trilhas desvendam para o turista belas paisagens, como a da Praia Palmas de Arvoredo.

A cena poderia constar no roteiro de qualquer filme: cavalgada pela mata e, quando menos se espera, depara-se com uma linda praia. Mas não, a cena descrita anteriormente não faz parte de nenhum filme e, melhor, pode ser protagonizada por qualquer pessoa que decida visitar o município de Governador Celso Ramos, localizado em Santa Catarina e vizinho a Florianópolis.

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O lugar ainda é pouco explorado pelos turistas e tem uma beleza de tirar o fôlego, misturando turismo rural e praias. A psicopedagoga Gladis Martins conheceu a cidade quando foi trabalhar no Palmas Parque Hotel, há cerca de dez anos e, encantada com as belezas locais, resolveu ficar por lá. Hoje ela faz de tudo um pouco no hotel: cuida da parte de educação ambiental, também é guia de turismo, além de ajudar na recreação das crianças. ?A instalação do Palmas Parque Hotel coincide com o início da fomentação do turismo na cidade. Mas os catarinenses estão começando a conhecer agora as belezas da cidade. A maior parte dos turistas vem do Paraná?, conta.

A Igreja Nossa Senhora da Piedade, marco da colonização, é foco de uma das lendas do município.

E as belezas não são poucas. Só os 240 hectares da fazenda nos quais o hotel está instalado já são um show à parte.

Piscina, lago para pescaria, pastos para cavalgada, trilha para caminhadas ecológicas. É possível fugir do estresse da cidade e poluição para ter um contato próximo com a natureza. Para os que gostam dos atrativos do campo, eles estão ali. Para quem prefere praia, também não pode reclamar.

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Os hóspedes do Palmas podem usufruir de toda estrutura do hotel e as atrações da fazenda, que estão todas incluídas na diária. Há sala de ginástica, sauna, quadra de tênis, futebol e bocha, paredão de escalada, além da sala de jogos com mesa de bilhar e para carteado.

Equipes de recreação organizam atividades para as crianças e adultos. Quase toda noite há música ao vivo no bar do hotel e volta e meia a administração prepara uma surpresa, como um espetáculo do folclórico boi-de-mamão ou ainda contadores de histórias que vão contar ?causos? aos hóspedes.

Sâmar Razzak
Cercado de muita vegetação
e mar, o Palmas Parque
Hotel possibilita unir o
turismo rural e o de praia.
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Já os passeios de barco, rapel, cavalgada às praias, por exemplo, são cobrados à parte. Um dos passeios leva os visitantes até a Baía da Armação da Piedade. Além de se deparar com uma praia linda, o turista fica conhecendo um pouco mais da história local.

À beira-mar foi erguida, em 1745, a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, que é o marco do início da colonização do município. Diz a lenda que duas embarcações naufragaram próximas à Praia da Armação enquanto caçavam baleias. O dono dos barcos fez um pedido a Nossa Senhora da Piedade para que ninguém morresse no acidente e, em troca, ele lhe construiria uma igreja na praia. O pedido do navegador foi atendido e apenas uma mulher negra morreu nos naufrágios. Mesmo assim a igreja foi erguida. Até hoje, os pescadores locais mantêm a tradição de proibir que mulheres e padres entrem nos barcos de pesca. Motivo: eles afugentam os peixes. As mulheres, em referência à negra que morreu no naufrágio e os padres, porque, assim como as mulheres, usam saias e também espantam o cardume.

Cavalos

Danielle de Sisti
Os mais ousados
podem se aventurar
no rapel feito na pedra.

O passeio a cavalo pode ser feito por pessoas de todas as idades. Funcionários treinados dão noções básicas para que todos possam aproveitar. Há pôneis e charretes para alegria das crianças e tranqüilidade dos pais que têm receio em deixar os filhos menores montarem. Esses passeios, com duração média de vinte minutos e nos arredores da cocheira, estão incluídos na diária.

O haras que funciona dentro da fazenda do hotel também proporciona passeios até a praia deserta do Cicial. Só há duas formas de chegar até a praia: a cavalo ou caminhando. Quem optar pela cavalgada, leva cerca de uma hora e meia para ir e voltar. Caminhando, leva-se cerca de duas horas.

A cavalgada tem outra vantagem: de cima do cavalo pode-se apreciar a paisagem, percorrendo uma trilha no meio da mata atlântica e, de um mirante, avistar a Baía da Armação da Piedade. E a praia é de estarrecer: areia branca e fininha, rochas contornando a encosta, água transparente e muitas árvores. A cavalgada custa R$ 25 por pessoa.

Outra opção para os que gostam de aventura é o rapel. O serviço é terceirizado, mas também pode ser adquirido no próprio hotel. Depois de uma caminhada por trilhas, os aventureiros chegam até a Praia do Tinguá e o rapel é feito numa pedra que dá como prêmio aos que se arriscam uma vista belíssima da baía da cidade. A aventura custa R$ 30 por pessoa.

No verão, há ainda o rafting, expedição com caiaques, mergulhos e trekking. Também na estação mais quente o hotel disponibiliza traslados de van até a Praia de Palmas, onde funciona um quiosque do hotel, onde são fornecidas toalhas, bebidas e outras regalias. Durante o mês de julho, o hotel organiza colônia de férias com duração de três semanas.

Celso Ramos se abre para o turismo

Fotos: Sâmar Razzak
Durante a cavalgada,
a paisagem passa de rural
a litorânea em poucos minutos.

O turismo em Governador Celso Ramos está sendo descoberto aos poucos. Apesar de estar bem próximo de Florianópolis – são menos de cinqüenta quilômetros até chegar à capital do estado – o desenvolvimento demorou a chegar ao município. A luz elétrica, por exemplo, só chegou em 1963. Antes da instalação do Palmas Parque Hotel, há cerca de nove anos, somente os moradores do local apreciavam as diversas belezas naturais do lugar.

O município é formado por quatorze comunidades. A maior parte da população vive da pesca de camarão, que é primeira fonte de renda do município. Em segundo lugar vem o cultivo de mariscos. Dos cerca de quinze mil habitantes da cidade, onze mil são filiados
à Colônia de Pescadores.

Outra particularidade é a farra do boi. O hábito, mesmo proibido por lei, ainda é mantido na cidade e foi herdado dos açorianos – que se instalaram em Santa Catarina de 1748 e 1756. A farra representa a reencenação da Paixão de Cristo, na qual o boi representaria Judas. Outros ainda dizem que o animal representa o demônio e, ao torturarem-no, estariam livrando-se dos próprios pecados.

O turista tem acesso à praia
deserta do Cicial somente
pelas estreitas trilhas, a pé
ou a cavalo: natureza resguardada.

No entanto os turistas podem desfrutar de outra prática do folclore local, esta bem menos agressiva: o boi-de-mamão. A brincadeira tem elementos do bumba-meu-boi e conta a lenda que há cerca de 140 anos, quando a dança começou, as pessoas não sabiam o que colocar na cabeça do boi feito de pano que animaria as festas. Foi quando decidiu-se usar um mamão verde e dois pedaços de bambu como chifres, o que bastou para que as crianças apelidassem a dança de boi-de-mamão.

O artesanato local também encanta e foi herdado dos açorianos. É o crivo, trabalho delicado feito pelas esposas dos pescadores e que acaba por se tornar uma fonte de renda alternativa.

A jornalista viajou a convite do Palmas Parque Hotel.

Passeio à Anhatomirim está suspenso

Desde o último dia 25 de julho, os turistas estão impedidos de fazer um dos mais belos passeios de Governador Celso Ramos: a visita à Ilha do Anhatomirim, a qual se tem acesso a bordo de um barco que sai da Baía da Armação da Piedade e passa pela belíssima Baía dos Golfinhos.

Danielle de Sisti
A Fortaleza de Santa Cruz
de Anhatomirim, construída no
século XVIII, é um dos
elementos mais importantes
do roteiro turístico histórico.

Na ilha, que é administrada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), está a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, construída entre 1739 e 1744. Ela serviu de prisão e local de fuzilamento de presos políticos contrários ao governo de Floriano Peixoto.

Por isso e também pela beleza da Praia do Abricó, a ilha atraía muitos visitantes. De acordo com Golias Silva, coordenador do projeto Fortalezas da Ilha da UFSC, o fechamento da ilha se deu após a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) que considerou ilícitos os contratos dos quinze funcionários contratados pela universidade e que cuidavam da manutenção, bilheteria e conservação dos locais históricos.

Silva explica que os funcionários eram contratados pela fundação da universidade. Pelo entendimento do TCU, a instituição não pode se utilizar da fundação para contratar serviços que não tenham finalidade de apoiar projetos de pesquisa, ensino e extensão. ?Como a universidade não tem outros funcionários para remanejar e colocar para cuidar da ilha, tivemos que fechar o local para visitação pública?, disse Silva.

Como o processo se arrasta há cerca de três anos, não cabe mais recursos e só restou à UFSC acatar a decisão do TCU. Além da Fortaleza de Santa Cruz, foram fechadas também a Fortaleza de Santo Antônio de Ratones e o Forte de São José da Ponta Grossa, também administrados pela universidade.

Para reabrir os locais à visitação pública, a universidade depende de firmar parcerias com a iniciativa privada e outros organismos públicos. Mesmo com os R$ 4 cobrados de cada visitante da ilha, a UFSC alega problemas financeiros para continuar mantendo e conservando as fortalezas. Segundo Silva, são cerca de R$ 300 mil anuais para isso e só para a folha de pagamento dos funcionários há um custo de R$ 20 mil por mês.

Na última sexta-feira, dia 5, foi realizada uma reunião entre a universidade e representantes de entidades e do trade turístico. O objetivo era tentar fechar acordos e firmar parcerias para que outros órgãos arquem com as despesas dos funcionários para trabalhar na ilha. A universidade assumiria somente as despesas para manutenção do local. Como ainda nada foi definido, uma segunda reunião já está marcada para esta sexta, dia 12. (SR)