Carona Brasileira chega à Bahia

Ao contrário de outras cidades litorâneas brasileiras, Vitória fica vazia nos meses de dezembro e janeiro. A maioria dos jovens acaba migrando para as praias da região de Guarapari. Ficamos na casa da minha amiga Paula apenas uma noite para descansar. No dia seguinte, fomos de ônibus até a cidade de Linhares, que fica afastada das praias e às margens da BR-101. Para chegar à praia mais próxima é preciso atravessar porteiras de fazendas e trafegar por estradas de terra precárias e intransitáveis na época de chuvas. Por isso tentamos pegar uma carona direto para Itaúnas, um dos lugares mais preservados do Espírito Santo.

Em Linhares conhecemos um casal de hippies argentinos que aguardavam, há dois dias, uma carona até Salvador. Estava anoitecendo e garoando, e nada de alguém parar. Quando quase desistimos, um furgão resolve nos acolher. O carro era do Rodeio Moto Show, onde o motorista Deverson rodava o Brasil fazendo apresentações de adrenalina, equilíbrio e precisão com sua moto. O “Motoqueiro Maluco”, como é conhecido, junto com dois amigos, estava indo para Guriri, litoral norte capixaba, passar o final de semana com familiares. A viagem até lá foi regada a muita música, cerveja e filmes de esportes radicais, pois o furgão era equipado até com DVD.

Guriri é uma praia muito procurada pelos habitantes de Linhares durante a temporada, apesar de não ter nada de especial. Fomos convidados pelo Deverson a pousar na sua casa e continuar a viagem no dia seguinte. Como já era muito tarde, aceitamos o convite. Durante o tempo que ficamos em Guriri, a Expedição foi bem recebida, com todos da casa querendo saber tudo sobre nossa aventura. Infelizmente tivemos que seguir nosso rumo até Itaúnas, pegando várias caronas até chegar no trevo que vai para o vilarejo. A partir daí, foram mais 20 quilômetros de estrada enlameada devido as chuvas, que sempre nos acompanha.

Areias douradas

Itaúnas é a capital nacional do forró. A recente popularização desse ritmo deve-se em grande parte aos turistas que viajam até o lugar, a maioria universitários de outros estados. Por isso, a dança perdeu o nome de forró pé-de-serra e foi rebatizada de forró universitário, se espalhando pela região Sul e Sudeste. Itaúnas é um dos poucos lugares onde as praias estão protegidas por lei como Parque Estadual. São 3.674 hectares de vários ecossistemas: dunas, manguezal, restinga, Mata Atlântica e alagados.

A praia possui dunas de 20 a 30 metros de altura, com areias douradas e muito finas, que se estende por uma faixa de um quilômetro de largura. Ficamos hospedados na Pousada Sol de Itaúnas, onde também funcionava uma organização não governamental de reabilitação de aves da Mata Atlântica. Quem cuidava de tudo era Samuel, que dedicava boa parte do seu tempo ensinando um Falcão abandonado a caçar.

Como a Expedição nunca pára, já no outro dia saímos de ônibus de Itaúnas por causa das péssimas condições da estrada. No asfalto, seguimos até a BR 101 onde, novamente, ficamos um tempo sem pegar carona. Percebemos que quanto mais longe nós nos afastávamos do litoral, mais difícil era alguém parar. Para piorar, nem ônibus passava nesse local, e tivemos que esticar o dedão até a noite. Uma pickup percebeu nossa aflição e nos levou até um posto de gasolina em Pedro Canário.

Bahia

Pedro Canário não tem absolutamente nada para fazer. Uma cidade que nasceu devida as fábricas de celulose e hoje, emancipada, vive em função da Prefeitura. Dormimos ali para no dia seguinte fugirmos até Eunápolis, onde lá conseguimos uma carona até Arraial d?Ajuda com um casal de turistas goianos.

Arraial d?Ajuda é muito procurado pelos turistas que querem fugir do turismo de massa de Porto Seguro, mas não dispensam bonitas praias e uma agitada vida noturna. Em Arraial, vale a pena seguir caminhando pela praia até Pitinga e Taipe. Já Porto Seguro é uma aula de história brasileira, como os passeios pelo Centro Histórico e para a Praia da Coroa Vermelha, onde os portugueses teriam realizado a primeira missa no Brasil. As agências de turismo, que controlam boa parte dos hotéis, fazem lotar os luaus em barracas na praia, tornado a noite de Porto Seguro movimentada e famosa.

De Arraial descemos até Trancoso, uma antiga aldeia hippie dos anos 70, fundada pelos jesuítas no século XVII, num platô em frente ao mar. As praias entre Trancoso e Caraíva são consideradas as mais belas do País, como a praia do Coruípe e do Espelho. Mas para chegar até elas foi necessário percorrer 30 quilômetros de estrada de terra esburacada, dentro da caçamba duma caminhonete, que tinha um estilo agressivo de andar.

Prolongamento uma da outra, Coruípe e Espelho dividem as atenções da região. As duas praias têm mar de coloração verde-azulado e de temperatura morna, pontilhada por recifes e piscinas naturais. A orla é repleta de coqueiros e nas duas pontas há falésias em tons brancos e avermelhados. Para subir nas falésias, tivemos que invadir um condomínio e driblar o vigia do lugar. Lá do alto pudemos admirar um incrível visual desse paraíso da natureza, que deveria ser acessível para todos e de todos.

E a aventura de Jeferson e Anastásia continua na próxima semana. A Expedição Carona Brasileira está reunindo as histórias desses dois mochileiros que estão conhecendo o litoral do Brasil de carona.

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