Um encontro que terá a participação de aproximadamente quarenta estudiosos e dezenas de autoridades brasileiras e paraguaias, além de outros convidados, vai marcar nos dias 19 e 20 de março, em Campo Mourão, interior do Paraná, o lançamento do projeto turístico e cultural ?Caminho de Peabiru – O Compostela da América do Sul?. A meta é aprofundar os estudos sobre a trilha que ligava o litoral Sul do Brasil e também o Estado de São Paulo ao Paraguai, Bolívia e Peru, aberta muito antes da chegada do homem branco ao continente. Promover a exploração deste potencial turístico-cultural é outro objetivo do projeto.
A programação do evento foi divulgada pela Secretaria Especial de Cultura de Campo Mourão e inclui a apresentação de estudos sobre o Caminho de Peabiru, palestras, debates, exibição de documentário audiovisual e a exposição do projeto proposto. Entre os envolvidos na organização estão representantes dos ministérios de Turismo do Brasil e do Paraguai, secretarias estaduais de Cultura e Turismo, prefeituras, Universidade Estadual de Cascavel, Embratur, Paraná Turismo, Santur e pesquisadores do Paraná, Santa Catarina e Paraguai.
Programação
As atividades serão centralizadas no Teatro Municipal e terão início no dia 19 de março, às 19h45. A programação para o primeiro dia prevê a exibição do documentário com cenas da Expedição Peabiru, realizada pela Univel; breve explanação sobre o projeto ?Caminho de Peabiru – O Compostela da América do Sul? e lançamento da segunda edição da revista Cadernos da Ilha. Às 22h, na Biblioteca Municipal, será realizada a apresentação do Planetário Itineirante ?A Visão Celeste do Caminho de Peabiru?, pelo doutor em Astronomia e Arqueoastrônomo Germano Bruno Afonso.
O projeto do empreendimento será apresentado em detalhes no dia 20, às 8h30, pela pesquisadora, escritora e jornalista Rosana Bond. Na seqüência será aberto espaço para sugestões e também para a exposição de trabalhos já realizados sobre o Caminho de Peabiru.
Entre os trabalhos que serão apresentados estão: ?Estudos sobre o Peabiru? (realizado pelo Ministério do Turismo do Paraguai), ?A Peregrinação Turística no Peabiru e a Observação do Céu Indígena? (do professor Germano Bruno Afonso), ?Educação Ambiental e Arqueológica nos Municípios da Rota do Peabiru? (do Núcleo de Apoio Integrado ao Rio Iguaçu – Naipi). ?Propostas Culturais no Peabiru? (do Nuclearte, através do professor André Viana) e o projeto piloto da Faculdade Centro do Paraná, de Pitanga (com Clemente Gaioski).
Os trabalho terão continuidade com a realização de debate e a apresentação de sugestões. Para as 14h está prevista uma mesa redonda com técnicos de órgãos governamentais ligados a área de turismo sobre linhas de financiamento e outros formas de apoio.
Rota tem três mil quilômetros
Com cerca de três mil quilômetros de extensão, a trilha indígena – com um tronco e uma série de ramais – unia o litoral catarinense e São Paulo ao império Inca, no Peru. Relatos feitos desde 1500 se referem ao caminho que, em 1959, foi apontado por Reinhard Maack (da Universidade Federal do Paraná) como a mais importante via transcontinental da América do Sul pré-colombiana.
A via já existia ?… antes, bem antes, da vinda de Cristóvão Colombo à América, em 1.492, e da vinda de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1.500?, acentua a pesquisadora Rosana Bond. Historiadores dizem que ela tinha oito palmos de largura (cerca de 1,40 metro). Para evitar o efeito erosivo da chuva, a trilha era forrada com vários tipos de grama, que também impediam que a via fosse tomada por ervas daninhas. O professor Moysés Bertoni, pesquisador da cultura dos índios guaranis, afirma que a grama foi plantada apenas em alguns trechos, mas as sementes que grudavam nos pés e nas pernas dos viajantes acabaram estendendo o revestimento aos demais trechos.
Um dos ramais, que começava em São Paulo, passava por Campo Mourão e chegava ao Rio Iguaçu. Historiadores destacam que o Caminho de Peabiru teve uma grande importância para a história da América do Sul. Teria sido utilizado até para grandes migrações indígenas e, posteriormente, para a descoberta de riquezas, criação de missões religiosas, comércio e a fundação de povoados e cidades.
?Infelizmente, acabou sendo usado também pelo homem branco para a escravização dos índios e para a morte dessas populações nativas, através da contaminação por doenças ou simplesmente pela matança?, observa Rosana Bond.
O professor Moysés Bertoni é enfático em um de seus livros ?…por seu tamanho, sua função e suas características, é que dizemos que o caminho de Peabiru foi algo maravilhoso. Até hoje a civilização moderna não conseguiu construir nenhuma rodovia ou ferrovia ligando os dois oceanos de ponta a ponta?, acentua.
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